MOSTRA DE SP 2021 | ‘Armugan’, a dor da vida e da morte
Ana Rita
Comumente, nos questionamos sobre a vida, seu sentido, como ela surgiu, como nascemos e as divindades que a circundam. Para a maioria dos povos do ocidente, associa-se a morte ao sombrio, o de fato, desconhecido. Para o sociólogo Zygmunt Bauman, sem mortalidade não haveria história, não haveria cultura, não haveria humanidade. A nossa consciência da mortalidade nos torna preocupados com a vida, o viver e o produzir.
A morte é simbólica, é divina, é triste, é passagem. Partindo de uma reflexão existencialista sobre a dialética da vida e da morte, na ficção espanhola Armugan, filme dirigido por Jo Sol, conhecemos a história de Armugan (Íñigo Martínez) e Anchel (Gonzalo Cunill), seu companheiro e ajudante, que atuam facilitando a passagem para a morte.
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Melancolia e silêncio
Com um cenário bucólico com montanhas, a melancolia se faz presente ao lado da solidão. Distante de tudo, o silêncio prevalece, os enquadramentos das paisagens evidenciam a imensidão do lugar, contrapondo bem com uma possível insignificância do homem neste mundo.
Conhecemos a rotina de Armugan e Anchel. Somos observadores íntimos, nessa grande aclimação de fé e espiritualidade, que contrapõe com o que fazem. Perante a figura de Armugan, há também uma devoção e respeito. Ele auxilia na passagem para morte, findando o sofrimento.
Com uma fotografia em preto e branco, os momentos de contemplação enriquecem a construção de um sentido para vida e morte na narrativa. A vida é pequena como a de um inseto, mas enorme como a natureza, que com o uso de uma lente macro em uma determinada cena, se evidencia de forma bela.
Companheirismo
A relação entre Armugan e Anchel é de muito companheirismo. É notória a admiração por Armugan, deixando mais evidente sua importância e valor espiritual dentro da comunidade. Com essa câmera intimista, observamos e conhecemos a intimidade dos dois, o dia a dia. Anchel é um homem alto e um tanto quanto robusto, que cuida de Armugan, um homem bem baixo, com dificuldade de locomoção, criando uma relação de dependência entre os dois homens.
Mesmo após conflitos na trama, o respeito é mútuo. Há uma preocupação entre ambos, discordâncias à parte, a conexão é forte, como laços espirituais.
O poder da vida e o da morte
Vivendo uma vida pacata e humilde, não se distanciam tanto da pequena vila que vivem. A chegada de uma mulher forasteira abala a vida desses homens com um pedido que os choca.
Temos então o clímax do existencialismo e a dicotomia da vida e da morte. A vida tem sofrimentos, e isso não deve se conectar diretamente com a morte. Como dito por Armugan, “ninguém pode acabar com a vida sem dor, sem doer”.
O que define o fim da vida? Quem teria esse poder de tirá-la? Armugan argumenta a forasteira que acompanha a pessoa até a morte, mas não tira a vida. Saber que o pedido da mulher é para findar a vida do filho, uma criança doente que já não aguenta mais o sofrimento que vive, choca, a reflexão se estende fortemente ao espectador.
O filme Armugan nos faz refletir sobre o que é a vida e a morte. Seu propósito e suas dores, bem como, quem detém a vida. Limitam-se a escolhas ou estamos sujeitos ao destino? Esses e mais questionamentos finalizam o filme deixando o espectador com dúvidas e pensativo no viver para morrer e o morrer por ter vivido.
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Trailer do filme Armugan
Armugan: elenco do filme
Gonzalo Cunill
Diego Gurpegui
Núria Lloansi
Íñigo Martínez
Núria Prims
Ficha Técnica
Título original do filme: Armugan
Direção: Jo Sol
Roteiro: Jo Sol
País: Espanha
Duração: 91
Onde assistir ao filme Armugan: Mostra de SP 2021
Gênero: drama
Ano de produção: 2020
Classificação: a definir