‘As Primeiras Férias Não Se Esquece Jamais!’ | CRÍTICA
Victor Lages
A França é referência clássica de cinema. De lá, saíram obras lindíssimas e atemporais que marcaram os corações de todos os cinéfilos, como Os Incompreendidos (1959), Acossado (1960), O Escafandro e a Borboleta (2007) e O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain (2001).
Também saiu de lá a premiação de Cannes, que prestigia o melhor do audiovisual mundial, consagrando películas eternas. Então, é de estranhar quando chega um filme como As Primeiras Férias Não Se Esquece Jamais! (Premières Vacances), longa de estreia de Patrick Cassir, que estreou na última quinta-feira (12) no Brasil.
A trama
A premissa é, ao mesmo tempo, absurda e interessante: Marion e Ben, ambos com 30 anos, se conhecem em um aplicativo de namoro e decidem, no dia seguinte ao primeiro encontro, viajar juntos para a Bulgária. Por quê? Não fica claro.
O novo casal não tem nada em comum (ele, hipocondríaco e certinho; ela, tresloucada e debochada) e já tinham uma viagem marcada com pessoas de seu afeto. Apesar disso, embarcam para uma série de aventuras que se propõem a ser engraçadas, muitas vezes sem êxito.
O humor em As Primeiras Férias Não Se Esquece Jamais! é pautado em situações aleatórias e repetitivas. O homem passa álcool em gel no avião, sendo olhado torto pela nova parceira; e passa o resto do filme fazendo a mesma ação continuamente.
Vão para uma casa alugada e caindo aos pedaços, sem conforto algum e cada personagem dali solta uma primeira piada, que funciona, mas seguem reproduzindo a mesma graça por mais duas ou três vezes, esgotando ao máximo o ato. Vão para outros dois ambientes (um hostel e um hotel de luxo) e o mesmo se vê.
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Piadas repetitivas
E, quando o roteiro finalmente acerta em uma piada, não sabe a hora de parar. Marion pula em uma água barrenta, Ben a critica, dizendo que aquela é uma “praia de tétano”. A plateia ri. A graça dá certo, mas ele segue com mais uma série de comentários até ser obrigado a pular na água e continua refazendo a mesma frase, perdendo a linha com a mesma facilidade com que a piada veio.
Além disso, Cassir não vai além do que seus personagens podem oferecer. Em entrevista, disse que sua intenção era falar sobre os valores dentro de um casal e se é possível viver com alguém que é tão diferente de você, com estilos de vida confrontando-se diariamente.
Essa proposta é linda no papel e dá mote para uma comédia primorosa, mas não se consegue louvor quando não se ousa. Tanto as situações quanto as personalidades de Ben e Marion são caricatas ao cubo, parecendo até fácil fazer comédia.
Humor retrógrado
E certamente não é fácil fazer humor. É preciso inteligência e delicadeza. Em As Primeiras Férias Não Se Esquece Jamais!, não há isso. Estamos em 2020 e ainda se fazem filmes assim, que acham engraçado colocar piadas de peido e de arroto. Como se, a partir disso, fosse rolar uma conexão de proximidade com os espectadores.
Isso é inaceitável e retrógrado. Afinal, as pessoas já aprenderam a rir de coisas mais inteligentes que isso e voltar a esse ponto da escatologia é retroceder em anos de evolução do cinema cômico.
Então, produtores, diretores e roteiristas, por favor, valorizem mais seu público para que seus filmes sejam mais valorizados. Certamente, o cinema francês é muito melhor do que isso.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Premières Vacances
Direção: Patrick Cassir
Elenco: Jonathan Cohen, Camille Chamoux, Camille Cottin
Distribuição: A2 Filmes
Data de estreia: qui, 12/03/20
País: França
Gênero: comédia
Ano de produção: 2019
Duração: 102 minutos
Classificação: 16 anos