Ao Seu Lado
Crítica do filme
Treze anos depois do último álbum inédito, Luiz Melodia, cantor com produção eclética, compositor que brinca com samba e soul, que tem marca na MPB, mas se arrisca no blues e no funk, lança Zerima, disco que traz onze faixas inéditas e três regravações.
Nascido Luiz Carlos dos Santos, filho e herdeiro de gênero e nome do compositor Oswaldo Melodia, o carioca de alma vascaína cresceu no coração do morro de São Carlos, no Estácio. Além das raízes no samba, o músico também teve influência forte da Jovem Guarda, sobretudo de Roberto Carlos.
O primeiro álbum solo foi Pérola Negra, lançado em 1973. De lá para cá, foram dezesseis discos, um disco de ouro, dezenas de composições gravadas por grandes nomes como Gal Costa, Maria Betânia, Nelson Gonçalves, Elza Soares, entre outros.
Zerima é um muito de Melodia. Um muito que remete a diversos momentos passados do artista. Um muito que se trocasse a rouquidão da voz por qualquer outra, continuaria soando como Melodia. Um tom de Pérola Negra, de Cara Cara, de Felino, de Maria Particularmente. E apesar de toda presença, o disco também é frescor, com um Melodia mais bossa nova, mais barquinho e violão.
Ali está também a tradicional força do sopro, a percussão dando o compasso, dentro de arranjos variados, divididos por Julinho Teixeira, Humberto Araújo e Roberto Mendes. No caldeirão de Zerima cabem diversos tons e a mistura de artistas que dão liga a qualquer boa receita: Marcos Suzano, Milton Guedes, Marlon Sette, Jovi Joviniano…
Entre as faixas, destaques para o suingue familiar de ‘Cheia de Graça’, a mensagem de uma vida com mais amor da embalada ‘Papai do Céu’, o samba “melodiânico” de ‘Vou com você’, a leveza de ‘Dor de Carnaval’, que mistura veludo com veludo, Melodia e Céu. O samba de roda ‘Moça Bonita’, composição de Jane Reis, esposa do cantor, que também empresta a voz na canção, é um agradável balanço para um disco sereno. Já ‘Zerima’, a música que dá título ao álbum, emociona pela homenagem póstuma. O título é um anagrama do nome da irmã do artista, Marize, falecida há dois anos. A letra é direta: “Foi bom, perfume cheiro de Zerima/ Bombom, lembranças, saudades, me ensinou / Chorei, lembrei de você bem menina (…) Uma linda, uma festa na favela/ Que o mundo chegou a lacrimejar// No céu, você hoje estrela divina / Que apaga, acende, ilumina / Essa terra onde a gente vive”.
As três regravações do disco são um reflexo dos outros em Luiz Melodia. ‘Nova Era’, de D. Ivone Lara e Délcio Carvalho, embora uma composição relativamente nova, revela a tradição do samba; ‘Leros, Leros e Boleros’, de Sérgio Sampaio, é um Melodia voltando a influências do início da carreira, de época distante, onde eram considerados ‘malditos’; e ‘Maracangalha’, que faz homenagem ao centenário de Dorival Caymmi, cantado e recantado pelo artista. A faixa funkeada inclui o rap-homenagem incidental ‘Viva Caymmi’, de Mahal Reis, filho do cantor, que também é participação especial.
Ao fim, a instrumental ‘Amusicadonicholas’ encerra exata a mansidão com que Zerima evolui. A espera foi grande (para o lançamento de mais um disco e para essa resenha), mas valeu. A todo instante, toda hora, queremos mais Melodia, sempre mais…
Zerima – Faixas:
01- Cheia de Graça
02 – Dor de Carnaval (part. Céu)
03 – Vou com Você
04 – Caindo de Bêbado
05- Nova Era
06 – Do Coração de Um Homem Bom
07 – Zerima
08 – Cura
09 – Sonho Real
10 – Leros e Leros e Boleros
11 – Papai do Céu
12 – Maracangalha (part. Mahal Reis)
13 – Moça Bonita
14 – Amusicadonicholas
Para ouvir o disco, clique aqui!