O mundo do cinema tende a colocar as produções americanas no centro dessa indústria, seja como referência ou sinônimo de qualidade. Os filmes dos Estados Unidos são conhecidos por suas grandes produções e estúdios, sendo os mais consumidos pelo mundo.

Existem motivos para isso, dentre eles, a evolução da linguagem cinematográfica, bem como a ascensão de importantes e revolucionários diretores, como é o caso de Steven Spielberg. Conhecido também como “pai do blockbuster”, devido ao sucesso de Tubarão (1975), o diretor ajudou na formação dessa ideia de diretores fortes comercialmente, populares e que compreendem o ‘fazer cinema’.

Com o filme Amor, Sublime Amor (West Side Story), Spielberg teve o desafio de dirigir seu primeiro musical, e com a pressão de ser um remake de um dos musicais mais importantes e famosos da história do cinema, dirigido em 1961 por Robert Wise (A Noviça Rebelde) e Jerome Robbins.

Adaptado de um musical da Broadway, o longa de 1961 foi um marco na história do cinema, e principalmente nos filmes musicais. Trazendo drama e uma história ‘à la Romeu e Julieta’, com uma marcação musical vinda do ‘estalar dos dedos’, como nas músicas “Cool” e “Jet Song”.

Spielberg

Continuando com essa coreografia mais aberta, Spielberg mantém a opressão vinda da cidade vista no longa de 61. Mas agora, com esse cinema que permite explorar o espaço, o diretor faz um interessante jogo de câmeras, com uma decupagem que percorre as cenas e traz muitos planos abertos, com muitos plongées. O cineasta dá uma dinâmica ao filme Amor, Sublime Amor que aumenta esse ritmo, acompanhando bem as batidas das músicas, com uma câmera que ‘dança’.

Dentro dessa atmosfera de uma Nova York dos anos 60, Spielberg trabalha de forma emocionante com planos-sequência, bem como luzes direcionadas, resgatando a raiz do teatro musical, e abordando esses tempos de mudanças na ‘cidade que nunca dorme’. É a releitura contemporânea por um dos mestres do cinema de um clássico de Hollywood.

Na versão 2021 de Amor, Sublime Amor, Spielberg usa os elementos do cinema em sua excelência para contar uma já conhecida história. Além disso, notamos o trabalho de todos os setores que são coordenados pelo diretor, indo de cenografia, fotografia, som à direção de arte. Tudo conversa e passa uma visão diferente, explorando de forma saudosista a magia dos musicais.

Mesmo trazendo planos mais complexos, é essencial compreender que, mesmo com comparações entre um filme de 1961 e outro de 2021, não existe ‘evolução de direção’, não é dizer que uma decupagem é melhor ou não que outra. Dirigir um longa-metragem é passar uma leitura de determinado roteiro. Dessa forma, falamos de duas leituras diferentes de uma mesma história.

Remake e representatividade

Um dos pontos mais interessantes no remake de Amor, Sublime Amor é a valorização da representatividade. Além de trazer um cinema que compreende a importância dessa arte e sua função social, com assuntos que ganham a cada dia mais a visibilidade que merecem, a nova versão ‘corrige’ certos problemas do musical de 61.

A história de forma resumida é o amor de dois jovens de grupos diferentes. Ele é americano, enquanto a moça é uma imigrante de Porto Rico. Se até hoje a xenofobia com latinos é forte, quem dirá em uma Nova York na década de 60.

Na primeira adaptação de Amor, Sublime Amor, isso é levantado, como diz uma das músicas da obra “a vida na América é boa se você é branco. Entretanto, são usados atores brancos (alguns com rostos pintados) para interpretar latinos, como é o caso da protagonista Maria, interpretada primeiramente por Natalie Wood (Juventude Transviada), e também de Bernardo, vivido por George Chakiris (Les Demoiselles de Rochefort).

No remake de Spielberg, Anybody recebe mais destaque e, mesmo de forma sutil, levanta a reflexão sobre pessoas trans. Enquanto no filme de 61, ela é uma menina que busca fazer parte dos Jets, no de 2021, é um homem trans atrás de aceitação e identificação. A personagem não passa batida. Mesmo não sendo do núcleo principal, sua presença é notada, junto com sua importância.

Ariana DeBose e Rita Moreno

Estamos nas esperadas temporadas de premiação e algumas já provam a grandiosidade de Ariana DeBose como Anita nessa adaptação de Amor, Sublime Amor de 2021. Originalmente, a personagem foi interpretada por Rita Moreno, umas das atrizes porto-riquenhas mais célebres de todos os tempos. Mas o que Ariana faz aqui é magnífico, e não é exagero falar que o filme é dela.

Na versão de Spielberg, Rita Moreno se faz presente, em um papel importante, nesse caso, a mulher de Doc, Valentina. Doc é o dono de um mercadinho e age como conselheiro e protetor dos Jets. Com Valentina, por ser uma porto-riquenha casada com um branco, além da representatividade, enfatiza a luta latina no longa.

Mesmo sendo uma personagem coadjuvante, é o ponto que traz drama e carisma para o filme. De modo não redundante, o protagonismo não fica nos protagonistas. O destaque é sobre essa disputa de americanos e porto-riquenhos que têm como chama a personagem Anita.

É inegável que o filme Amor, Sublime Amor tem um casal sem sal, e isso não é por conta da direção. Desde o longa de 61, mesmo com essa trama trágica de Romeu e Julieta, a atenção fica para a disputa e rivalidade de Jets e Sharks.

Em suma, Amor, Sublime Amor de 2021 retoma a grandiosidade dos musicais de ouro de Hollywood, com um filme empolgante, emocionante e, claro, dançante.

Onde assistir ao filme Amor, Sublime Amor (2021)?

A saber, o filme Amor, Sublime Amor chegou recentemente ao catálogo do Disney Plus. Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

Trailer do filme Amor, Sublime Amor (2021), do Disney Plus

Amor, Sublime Amor (Disney Plus): elenco do filme de 2021

Ansel Elgort
Rita Moreno
Corey Stoll

Ficha técnica

Título original do filme: West Side Story
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Tony Kushner
Duração: 158 minutos
País: Estados Unidos
Gênero: musical
Classificação: 14 anos