Ao Seu Lado
Crítica do filme
Entre tantas guerras, é fácil questionar onde está (se já existiu) a humanidade do ser humano. Por mais que pareça redundante falar de ser humano e humanidade por sua questão etimológica, toda a destruição causada pelo homem deixa claro que a humanidade está longe de ser alcançada por ele.
Muitos filmes de guerra já foram feitos. Alguns romantizados por Hollywood com a clássica jornada do herói, enquanto outros mostraram de forma explícita os horrores da guerra. Como o clássico russo Vá e Veja, por exemplo. O filme húngaro Luz Natural (Természetes Fény) tenta equilibrar os dois lados, buscando ainda mostrar a existência de humanidade e compaixão dos soldados, que, posteriormente, se tornam remorso.
Vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Berlim, o longa acompanha uma parte do serviço militar de Isvtán Semetka (Ferenc Szabó), que serve como cabo em uma unidade de reconhecimento de grupos da resistência.
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O cinema e, principalmente, a história já nos mostraram as consequências da guerra. Não apenas em questões políticas, mas o peso deixado nos soldados e nos que sofreram nessas batalhas. A guerra tira essa humanidade do homem, deixa o seu pior e desperta seu lado mais egoísta, dando mais poder para eles.
O guia no filme Luz Natural é o percurso realizado pelos soldados, mostrando a interação, a subordinação, a hierarquia e a humilhação dentro da tropa. Os moradores que esses soldados encontram pelo caminho também sofrem desse rebaixamento pelos combatentes.
A violência é maior com os camponeses, que são dominados, explorados e têm suas propriedades invadidas por esses homens, que enxergam sua posição de poder, não precisando de armas, deixando destruição visível ou não por onde passam.
A guerra gera tristeza, dores e perdas. Assim como na maioria dos filmes do gênero, a frieza é representada pelos tons frios e sombrios que expressam também a melancolia da situação. Em uma típica floresta temperada do norte da Europa, esse sofrimento torna o tom lúgubre da situação mais forte.
O silêncio e a aparente tranquilidade do ambiente são bem usados, evidenciando esse tom melancólico e de falta de esperança que circunda esses camponeses. Em alguns momentos, o uso constante dessas cenas silenciosas deixa essa jornada com um esmorecimento um tanto quanto apelativo, explorando demais essas demoradas esperas e caminhadas pela floresta.
Essa ilusória quietude durante a guerra consegue aflorar a ansiedade com os longos momentos de silêncio e espera por um possível ataque. Mesmo que não se fale nisso, afinal, estamos lidando com uma guerra, e o filme consegue trabalhar essa expectativa no espectador.
Mesmo com movimento, a câmera segue por cenas mais paradas, mas com muitos planos de nuca nos soldados, como uma provável tentativa de dinamicidade na direção, seguindo também os tão famosos planos-sequência dos filmes de guerra. Dessa vez bem menos prolongados e exagerados.
Semetka é a faísca de humanidade nesta tropa. Nosso protagonista é bastante observador e calado, parecendo enxergar as mazelas que seus companheiros deixam por onde passam, tendo remorso dessa destruição e compaixão pelos camponeses.
Por mais que não se tenham cenas diretamente fortes, nem tudo é tão explícito, não há momentos de confronto ou com sangue, mas Luz Natural consegue expor essa tristeza. Tanto pela humilhação dos soldados quanto por essa sensação de superioridade e poder do homem durante a guerra, principalmente na cena mais dura e explícita. O diretor Dénes Nagy explora novamente o silêncio e a expressão dos soldados na fatídica e forte cena do celeiro, gerando a sensação de impotência e aumentando a ansiedade.
Luz Natural é um interessante filme que explora a ansiedade e tristeza da guerra, mas que não passa disso. Apenas vemos a falta de compaixão e humanidade do ser humano, que vivencia o horror sem escrúpulos, com humilhação e fazendo o que é ‘necessário’ para chegar no fim que deseja.
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Ferenc Szabó
Tamás Garbacz
László Bajkó
Gyula Franczia
Ernő Stuhl
Gyula Szilágyi
Título original do filme: Természetes Fény
Direção: Dénes Nagy
Roteiro: Dénes Nagy, baseado no romance de Pál Závada
Onde assistir ao filme Luz Natural: Mostra de SP 2021
País: Hungria, Letônia, França e Alemanha
Duração: 103 minutos
Gênero: drama
Ano de produção: 2021
Classificação: 14 anos