Ao Seu Lado
Crítica do filme
Cheio de detalhes minimalistas e intimistas, do tipo que você só encontra na casa dos seus pais e avós, onde o que normalmente seria visto como um defeito, como tranqueira ou bagunça, é uma recordação, uma marca de afeto, La Cama não deixa claro a razão da separação e nem pistas sobre isso. O ritmo da trama é lento, sendo possível captar a sonoridade ambiente.
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A fotografia do filme transmite a ideia de vida real, cotidiana, ainda assim mostrando poesia, beleza e significado. O longa possui pouquíssimos diálogos e os atores Sandra Sandrini e Alejo Mango trasbordam de emoção e expressão ao dar vida aos personagens, com cenas que você jura serem reais, parte da história de alguém próximo a você. A interpretação de Sandra merece destaque por dar a dramaticidade exigida pela personagem.
La Cama tem cenas de nudez, com direito a nu frontal e sexo explícito, onde é tratado com naturalidade, de maneira que esses momentos tornem o filme inovador. Em contraste a essas cenas, vem momentos em que os personagens demonstram afeto e amizade um pelo outro com certa inocência, ou pequenas brigas, hilárias, por motivos e reações que chegam parecer infantis. O figurino utilizado no longa nos passa a ideia de roupas que usamos normalmente em casa, na nossa intimidade e completa essa sensação de familiaridade, com lingeries gastas, cuecas largas, blusas amareladas e cabelos despenteados.
A câmera permanece fixa durante a produção nos cômodos onde as cenas acontecem, por baixo de algo, atrás de alguma coisa, dando a sensação de que assistir aquelas cenas tão intimas se trata de um vizinho espionando aqueles fatos, como voyeur. Sempre que algo está acontecendo, assistimos aquilo e conseguimos captar. A sintonia dos atores rende cenas e fotografias encantadoras em que os personagens fazem movimentos sincronizados, cenas cotidianas que ganham ares de poesia. A paleta de cores explorada na estética do filme, beira o nude, o bege, os tons envelhecidos, de um jeito despretensioso mostrando nos detalhes, nas cores, nas peças de roupas e ausência delas.
La Cama conduz silenciosamente para o que parece um início de processo de aceitação da idade, onde Mabel, em algumas cenas, parece relutante aceitar os sinais que a idade traz ao corpo, então, conforme, vamos acompanhando, sua forma de se enxergar ao espelho a conduz a uma redescoberta de sua beleza.
Silencioso, delicado, emotivo, com significado e temas profundos, que trazem aconchego, conforto e ainda assim conduzem o espectador a uma inevitável reflexão, La Cama estreia nesta quinta-feira, 25, e é uma boa opção para que pretende fugir dos blockbusters convencionais.
Título original: La Cama
Direção: Mónica Lairana
Roteiro: Mónica Lairana
Elenco: Sandra Sandrini, Alejo Mango
Distribuição: Livres Filmes
Data de estreia: qui, 25/04/19
País: Argentina, Alemanha, Brasil, Holanda
Gênero: drama
Ano de produção: 2017
Duração: 110 minutos