Ao Seu Lado
Crítica do filme
Com apenas 24 horas antes da estréia de uma montagem de “A Mulher e O Macaco” inspirada no romance do escritor dinamarquês Peter Hoeg, Luigi,um diretor de um teatro em Paris, precisa convencer um aclamado diretor japonês que está tudo sob controle, pagar os salários atrasados de seus funcionários e conseguir um macaco de verdade para a peça. Esse é o pano de fundo da história contada em Imprevistos de uma noite em Paris (Ouvert la nuit), dirigido e protagonizado por Édouard Baer.
Diante de todos os empecilhos que rodeiam a produção desse espetáculo, Luigi permanece quase sempre fora do teatro e quando aparece promete a toda sua equipe coisas que estão fora de seu alcance. Trata-se de um personagem egocêntrico e manipulador, submete seus funcionários a cargas horárias surreais enquanto curte a vida noturna com o dinheiro do já escasso orçamento destinado a produção da peça.
O tom caricato da película foi inspirado pelo filme Scorsese de 1985 que ganhou a Palma de Ouro e sempre foi muito popular entre o público francês. No entanto, nesse filme, Paris está longe de ser a protagonista. A história poderia se passar em qualquer outra cidade sem que isso trouxesse algum prejuízo a história. Entretanto, é evidente que tê-la como cenário trouxe um rigor estético belíssimo a composição fotográfica.
O filme falha em sua tentativa de construir uma narrativa cômica e ao mesmo tempo dramática. As situações desastrosas criadas por Luigi não são nem um pouco cômicas, a vida profissional e pessoal de diversas pessoas que estão ao seu redor são prejudicadas. Por outro lado, essa história revela diversos problemáticas que envolvem a nossa realidade de modo geral. Em primeiro lugar, denuncia a problemática da hierarquização do trabalho. Toda uma equipe não consegue sair do lugar por conta da irresponsabilidade de uma única pessoa, se as tarefas e responsabilidades fossem divididas de forma igualitária, talvez as coisas funcionassem melhor. A hierarquização não traz problemas apenas aos subordinados, mas também àquele que está no “topo”. Luigi está sob pressão e é cobrado a todo instante pelas pessoas sem que nenhuma delas se voluntarie a ajudar.
A plena subordinação dos funcionários aos comandos de Luigi, mesmo sabendo que alguns deles não dará certo, revela que a “servidão” pode ser uma zona mais confortável que a liberdade. Ser livre nos torna responsável por nossas escolhas. Quando a equipe do teatro escolhe apenas seguir aquilo que o diretor determina, estão apenas tirando suas responsabilidades pessoais do resultado final do trabalho em que estão envolvidos.
Apesar de não possuir um roteiro atraente e de todos os seus problemas de execução, Imprevistos de uma noite em Paris desperta questões recorrentes da realidade pós contemporânea. Édouard Baer revela uma sociedade que está perdida, onde muitos depositam sua confiança em alguém para que os guiem sem saber que àquele ao qual foi dado essa “missão” está mais perdido do que eles próprios.
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