Ao Seu Lado
Crítica do filme
O diretor Steve Martino acertou em cheio ao resgatar toda a doçura e pureza de um dos desenhos animados de maior sucesso nos anos 80, que adaptava as tiras em quadrinhos criadas em 1947 por Charlie Schulz. A maior virtude da nova animação “Snoopy e Charlie Brown – Peanuts, O Filme” é justamente apresentar a uma nova geração, acostumada com a tecnologia e confinada em apartamentos, uma infância à moda antiga, em que as crianças brincavam na rua e praticavam todos os tipos de atividades recreatvas, inclusive as mais simples e lúdicas como empinar pipa (ou “papagaio”) e jogar amarelinha.
A embalagem é a mais moderna possível para fisgar a garotada de hoje. Sendo assim, os traços clássicos são polidos e transformados em formas tridimensionais. As cores são vivas, e os efeitos especiais são espetaculares.
Porém, isso não quer dizer que aquele desenho que amamos na nossa infância foi descaracterizado. Muito pelo contrário. A adaptação é extremamente fiel, e foi feita para despertar nostalgia e emoção nos mais grandinhos. A trilha sonora, por exemplo, continua doce e melancólica.
Mas o melhor de tudo é que aquela inocência encantadora do desenho animado permanece intacta. Os personagens são os mesmos: Charlie Brown, o menino desastrado e sonhador que se apaixona pela nova vizinha, a “garotinha ruiva”; a irmã mais nova do protagonista, Sally, que é louca pelo amigo dele, Linus, o qual não larga seu cobertor azul e dá conselhos amorosos para o querido “Miudim”; Lucy, a menina metida a intelectual que cobra cinco centavos por sessão de terapia em uma barraquinha de madeira (tipo aquelas de suco); a ruiva Patty Pimentinha, que possui jeito moleque e vive dormindo na sala de aula; e por ultimo, mas longe de ser o menos importante, o cãozinho Snoopy, fiel amigo de Charlie Brown, que age como um ser humano e, ao contrário do dono, é bastante decidido e cria suas próprias histórias em uma máquina de escrever, colocada em cima de sua casinha. Talvez aqui esteja o único defeito da obra: os devaneios de Snoopy.
Acontece que a estrutura do roteiro divide a narrativa em duas, intercalando os dilemas existenciais e amorosos de Charlie, que consegue agradar tanto aos mais jovens quanto aos adultos, e as aventuras engraçadinhas cheias de ação que acontecem apenas na imaginação do cachorro da raça Beagle, e que são claramente miradas somente às crianças mais novas. O problema é que as sequências de Snoopy são longas demais, tirando o foco da trama principal e tornando a missão do cão e de seu amiguinho, o passarinho amarelo Woodstock, uma verdadeira tortura. Talvez se essa parte, que é totalmente deslocada do restante da obra, fosse bem mais curta, em forma de pílulas como as do esquilo Scratch em “A Era do Gelo”, o filme fosse bem mais coeso. Mas isso não diminui de maneira considerável o brilho da produção.
Enfim, “Snoopy e Charlie Brown – Peanuts, O Filme” consegue, através de uma história simples e repleta de fofura, agradar aos antigos e novos fãs, que certamente vão se identificar com os adoráveis personagens e, quem sabe, derramar algumas lágrimas durante a projeção.
Ah, e não saiam da sessão antes dos créditos terminarem.
FICHA TÉCNICA