Se você esteve no Rio de Janeiro neste final de semana, mesmo sem querer deve ter ouvido falar do REP Festival – que foi cancelado – e seu absoluto fracasso.

O evento que tinha tudo para ser uma grande celebração da cultura hip hop só mostrou o descaso que acontece quando um monte de playboy branco resolve se apropriar de uma cultura preta e sequer chama um de nós para organizar a coisa.

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Preço e local

Primeiramente, tudo estava errado desde o início quando esses organizadores prometerem um mundo de sonhos para a galera fã de rap mas desde que pagassem até R$ 500 para ir até à Barra da Tijuca.

Quando a Prefeitura do Rio indeferiu a primeira vez, em junho de 2022, os organizadores – principalmente o CEO do REP Festival, Fabrício Stofel -, seguiram divulgando que seria no mesmo local até janeiro desse ano quando eles desistiram após uma segunda negativa das autoridades.

Faltando 10 dias para o evento, os shows foram transferidos para Guaratiba, num local que já foi impróprio até para receber o Papa Francisco em 2013. Nas redes sociais, os tais “organizadores” diziam que o motivo era meter o som no talo, maior contato com a natureza e outras abobrinhas para otário acreditar.

Verdade seja dita, tinha tanto contato com a natureza que tinham cobras, siris, sapos, lama e lagos espalhados por todo o local.

Choque no palco

Para piorar, os dois telões ao lado do palco simplesmente pararam de funcionar, dificultando a visão do público e vários outros relatos apontam que funcionários tentaram proteger aparelhos de som com capas de chuva, de maneira totalmente improvisada. Marcado para 15h, MC Maneirinho começou o show à noite e levou um choque no palco.

Evidentemente, diversos artistas cancelaram como Matuê, Racionais MCs, Black Alien e diversos outros porque simplesmente não conseguiam garantir segurança do público e deles além de ser simplesmente impossível de chegar.

Vejam esse relato:

Djonga sobre o Rep Festival 2023

O rapper Djonga, quase um líder da resistência hip hop mandou essa em seus stories:

“A real é que hoje eu pisei naquele palco porque não queria decepcionar mais do que já estavam decepcionadas as pessoas que ficaram esperando os nossos shows lá e, inclusive, respeito a galera que cancelou, porque nós, como artistas; e vocês, como público; foram de fato desrespeitados.”

E ele seguiu, fazendo até um mea-culpa:

“Isso que a gente faz dá dinheiro, nossos cachês subiram, o preço do ingresso subiu… Todo mundo acha bonito a nossa ‘cultura’ e isso fez com que várias pessoas, muitas que não têm nada a ver e não possuem nenhum carinho por nós, entrassem nesse rolê do ‘rap’, ou ‘rep’, sei lá.

O que rolou essa semana e especificamente hoje, é um retrato de algo que é recorrente. A gente tem que ouvir o cara que pagou o show nos desrespeitando porque não vendeu como ele queria, dando uma estrutura ruim para nós, investindo cada vez mais na tal da área vip e deixando quem realmente se importa lá atrás… E claro, não tô falando de todos!

E amo ser rico, ser Djonga, viver bem; mas saudade de sentir o que faz sentido. A culpa é nossa; público, contratantes e artistas. O que rolou hoje é só um reflexo de todo dia”.

Produtores brancos

A verdade é quando que essas pessoas vão entender que produtores pretos são mais competentes em produzir eventos pretos? Ou alguém imagina o Carnaval sem preto? Qualquer roda de samba sem uma pessoa preta? E se você não sabia, o rock também é preto, bebê!

Ou como MC Borges e Orochi mandaram na lata:

“Chega dessa palhaçada de dar a cultura na mão de playboy. Artistas de todo o Brasil, artistas internacionais… está na hora de elevar o game e tomar o que eles tiraram de nós”.

Por fim, que Fabrício Stofel e sua turma paguem por esse descaso. Ou, como anunciou o Procon, que instaurou um processo sancionatório contra organizadores do Rep Festival, ou eles apresentam defesa em até 15 dias ou levam de presente uma multa de R$ 12 milhões. Mas será que essa é mesmo a pena justa para isso?

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