Aqui é como se tivéssemos apenas dois espectros visuais. O fechado e o aberto, então apareceu uma criatura dizendo que isso são cores. O preto e o branco. Apenas duas opções de uma infinidade de cores. Papo de maluco. Ficou me explicando que haviam espectros quentes, frios, suaves, pesados, acolhedores e etc… imagina isso. Só existe o fechado e o aberto. Ao acordar, tudo está mais aberto, mas ao fim do dia, vai fechando e o cara me vem com um papo desse. Daí um dia ele trouxe gravetos, disse que de onde ele vem, chamam de pális ou lápis. Uma coisa do tipo. Tem mania de trazer uns objetos estranhos dizendo que tem um determinado nome e função. Trouxe junto umas laminas flexíveis abertas e de fato esfregava os pális e ficava fechado e dizia nomes diferente para os espectros: verde, vermelho, vamarelo… sei lá… uns nomes que ele inventa. De fato ao esfregar os gravetos, uns eram mais fechados que outros, mas daí dizer que era vamarelo, vermelho…
Um dia ele chegou com um grão bem estranho. Disse que onde mora, fazem deles. Não é nascido, mas manipulado pelos seres e fabricado. Se eu ingerisse um desses, seria capaz de ver mais espectros. Ele me perguntou qual espectro eu queria ver.
– E tem diferença? – Te disse que pode ser quente, calmo, brando.
Optei pelo vermelho. Tomei e nada aconteceu, ele disse que demoraria para acontecer. Cerca de 8 horas, ou 320 ciclos em minha contagem pelo que entendi, então ele partiu mas me deixou anotado algumas coisas daquele espectro. Acordei no meio da noite e friccionei natureza morta até chamar as chamas, mas algo diferente já acontecia ali. Por todas as vezes, riscos vermelhos apareciam no ar e quando finalmente o aberto chegou, existia o vermelho nele. o grão que me foi dado devia não ser bom por que o vermelho dançava, sumia e aparecia constantemente. Tudo bem, o aberto das chamas dançavam, mas não sumiam. Agora era vermelho e aberto indo e vindo. Dançando e fiquei maravilhado com aquilo. Perdi alguns bons ciclos olhando para eles e tinha que concordar que aquilo era uma cor quente. Peguei a lista dele para ver se algo funcionava. Tinha o que eles chamam de maçã e então eu fui nos aposentos alimentares e tomei um susto, Meus olhos se arregalaram e pude notar que aquele alimento era vermelho. Também com falhas, mas vermelho. Peguei-a em minhas mãos e examinei como se nunca tivesse visto aquilo. Não era uniforme. O tal vermelho ficava mais forte ou mais fraco em determinados pontos. Mordi a maçã e por dentro não tinha vermelho, era só aberto de novo, mas eu pediria outro grão para arrumar isso. Lembrei dos gravetos que ele trouxe e se eu esfregasse todos eles, um ia aparecer vermelho, mas nem foi necessário experimentar. Um dos gravetos já era vermelho. Então eu entendi que ele derramava o vermelho na lamina clara. Peguei vários outros gravetos e eles não funcionavam. Aparecia o fechado na lâmina de sempre, exceto o vermelho. O graveto derramava essa cor. Era incrível, a maçã, a chama, o graveto que derrama vermelho. Eu não sabia em que prestar atenção e então no além alguma coisa aconteceu. Um vermelho começou a tomar conta lentamente e tive medo. Pensei que aquilo ia se alastrar por toda a minha vista e não mais teria o fechado e o aberto e apenas o vermelho, mas então astro começou a aparecer no começo do além. Como sempre não era possível ficar olhando para ele, mas dessa vez, o vermelho o acompanhava. Dançando como nas chamas, mas também falhando como ele e claro. Era quente e doía nos olhos, mas eu não conseguia parar de olhar para o estro. Sinto alguém tocar-me no ombro por trás.
– Funcionou? – Sim, mas está com defeito. Quero outro grão onde a chama seja vermelho por igual e não fique falhando. – É assim mesmo. Outras cores dançam nas chamas – Você esfregou o graveto vermelho na sua língua? Ela está vermelha. – É assim mesmo, a sua também. Assim como os seus olhos estão avermelhados. Deve ter ficado muito tempo olhando para o sol. – Olhando para o que? – Para o astro quis dizer. – E sua língua é quente? – Nem tudo que é vermelho é necessariamente quente. Sua língua está quente? – Não – Mas como a minha, ela é vermelha – E quantos espectros existem? – Não sei. Infinitos. Existem tipos e tipos de vermelho apenas para você ter uma idéia. Ou o vermelho da maça, das chamas, do sol e da minha língua são iguais? – É… são realmente diferentes.
Ele me mandou fechar os olhos e abrir a boca. Depois mandou eu morder um alimento para eu adivinhar qual era. Morango como eles chamam e ele me disse que estava certo e mandou eu abrir os olhos e ver. Vermelho. Só que por dentro também. Ele disse que é assim mesmo. A maçã não é por dentro, mas o morango é.
– Preciso de outro grão, para outro espectro.
Foi uma tortura esperar 4 astros reaparecerem para ele me trazer outro espectro. As outras pessoas estavam me achando esteando, mas eu não quis explicar para ela esse lance de outros espectros. Diriam que eu estava louco. Mentindo. Sei lá. Fiquei com os vermelhos só para mim. Finalmente ele chegou e trouxe outro grão. Escolhi o verde por que o nome começava igual à vermelho. Tomei e fui dormir.
Acordo no meio da noite aparentemente sem motivo e esse sonho estava latente em minha memória. Abro os olhos e coincidentemente olho aquela luz avermelhada no circulador de ar e pensei como seria o mundo vermelho.