Saiu o resultado do concurso de desenho. Minha categoria foi a última. Realismo, mas o meu não ficou nem entre os 5 primeiros. Sai de lá frustrado. O pior é que os desenhos foram sendo apresentados do quinto lugar até o primeiro, então, não saindo no quinto, quarto, terceiro, segundo, a minha expectativa já ouvia o meu nome sendo anunciado, mas não. Primeiro lugar para Roberto Cavalcante. Dei as costas de imediato e sai do auditório.Confesso que ouvi umas certas vaias e algumas pessoas tentaram me consolar com coisa que nem prestei atenção ao passar e aqueles velhos tapinhas nas costas.
O ponto do ônibus era em frente ao ginásio, mas como eu senti que algumas pessoas vieram caminhando atrás de mim, passei direto e fui até o próximo ponto para evitar a presença de alguém. Eu estava decepcionado. Perdi cerca de 5 meses naquele desenho, tendo dias em que cheguei a passar 12 horas nele para sequer ficar entre os cinco. A decepção não me saia da cabeça. O telefone logo começou a tocar ainda dentro do ônibus. Não atendi. Amigos que estavam lá e eu já sabia da ladainha que ia ser. Eu já estava afim de esquecer tudo. Acabou que eu não fui para casa. Passei direto para a Rua Augusta. Lá eu sabia que encontraria alguns amigos, bebidas e o esquecimento.
Era sexta. Comecei a encher a cara só. Depois surgiu o Zé Menezes com uns amigos e uma garota linda que eu nunca havia visto. Ela bebia muito também e até a ida para a casa dela, eu até que me lembro razoavelmente bem. Na casa dela, continuamos a beber e daí para a pegarão, foi natural. Acabei dormindo lá e quando acordei, me bateu aqueles 10 segundos de – Onde estou?. Depois, quase que automaticamente eu me lembrei do por que estava ali. Letícia demorou para acordar e comecei a me impacientar. O calor piorava tudo. Cheguei a cochilar de novo e recordei. Me desesperei de novo e a impaciência venceu-me. Vagarosamente fui saindo da cama para a tradicional saída à francesa. Um pé já estava fora da cama quando senti aqueles braços me puxarem novamente para nossos corpos se encaixarem novamente e dormimos de novo.
Quando acordei de novo, ela não estava na cama e ouvia algum som dela em outro cômodo. A impaciência agora tinha um voto pelo ataque voraz dela antes de dormir de novo. Nesse intervalo, achei estranho não terem me ligado novamente e peguei o celular, mas nem a hora eu consegui saber. A bateria havia acabado, mas o café preparado por ela me fez esquecer rapidamente esse detalhe. Só lhe perguntei que horas eram: – Meio-dia e quarenta respondeu-me – Nem espantei-me, nem achei ruim e depois de comer, fomos para a varanda. Vista não era exatamente das melhores, tinha um prédio chapando a visão na frente, mas tinha uma rede e uma corrente de ar que deixava tudo mais interessante. O dia foi se arrastando gostosamente e eu quase esquecia a frustração. No começo da noite, ela perguntou-me se não queria ir ao cinema.
– Querer, eu quero, mas tenho que passar em casa. To sem celular. Meus pais devem estar preocupados.
– Liga do meu!
– Não sei o número de cabeça. Ninguém mais sabe números hoje. Está tudo no celular.
– Verdade…
Verificamos o carregador dela e não encaixava com o meu celular, mas encontramos a solução para o cinema. Banho rápido e passávamos em minha casa para falar com meus pais e pegar o carregador. Lá chegando, eles não estavam e o bilhete na mesa mandava entrar em contato com eles de imediato. Só fiz virar o bilhete e escrever que estava tudo bem e que ele estava indo ao cinema.
A corrida para o cinema… a pressa… esquecemos o carregador e não sei se fui convencido, ou se no fundo, queria ser voltar para a casa de Letícia e assim, depois do cinema, estava eu lá de volta. Tv, abraço, lanchinho, namoricos pela madrugada e acordo novamente sem celular. A gente quase fez um repeteco do dia anterior. Algumas pequenas variações e então ela nota que sua bateria também acabou. Debochadamente ela pergunta-me: – Você vai ligar para mim agora? Gargalhada, abraço, a noite entrando e então chega a comitiva na casa de Letícia. Meu pai, mãe, Zé Menezes e a Roberta que era quem sabia onde era a casa da Letícia. Um tanto quanto eufóricos, quase brigando e comemorando por me encontrarem.
– Você precisa voltar para sua casa agora!
– Mas para que esas pressa toda, pleno domingo 7 horas da noite?
– O seu desenho….
– Espera, espera…eu sumi para esquecer dele. Não fiquei entre os cinco.
– Não, claro que não. Você ficou em um ponto ainda mais alto.
– Como assim um posto mais alto?
– Lembra daquele professor espanhol, Ramirez que fazia parte da comissão?
– Eu não quero saber de ninguém daquela comissão. Meu desenho era o melhor.
– Pois se acostume a querer saber por que ele convenceu a todos que seu desenho era tão superior aos outros que você ganhou uma bolsa de estudo para estudar com ele em Barcelona e desde sexta estamos tentando falar com você. Você tem que entregar a papelada toda amanhã de manhã. Ficaram impressionado com aquela kombi azul.
Só sei que quem visse aquela comitiva de 6 pessoas correndo em seguida, jamais poderia imaginar que era por causa dessa foto que já rolava na internet.Só sei que quem visse aquela comitiva de 6 pessoas correndo em seguida, jamais poderia imaginar que era por causa dessa foto que já rolava na internet. Confesso que olhando pela foto postada, parecia ainda mais real do que o desenho original…