Ahh… E quem um dia iria dizer que os videogames teriam importância para a redescoberta de um clássico do cinema? Um dos filmes mais contestados da franquia deve parte de sua fama ao jogo de Nintendo 64 – 007 Goldeneye, que imortalizou a Golden Gun de vez no imaginário popular. Mas o que muita gente não sabe, é que ela tem sua origem em um dos mais bizarros filmes da franquia. Mas calma, calma. Isso não é necessariamente uma coisa ruim.
A história é possivelmente a mais simples de todos os filmes: o maior assassino de todos os tempos – Francisco Scaramanga – é colocado cara a cara com James Bond. Porém, o que parece uma premissa promissora para um grande embate – toma rumos completamente estranhos e bizarros nas mãos de Richard Maibaum e Tom Mankewicz . A cena de apresentação já dá a tônica da obra: Scaramanga, e seus 3 mamilos, toma sol em uma linda ilha particula, quando é chamado por seu criado, um anão de sorriso sinistro. Então, sem aviso prévio, Scaramanga confronta um homem de vestes pretas – enquanto o anão joga obstáculos mecânico, dificultando o embate entre os dois homens . No final, Scaramanga sai vencedor, e descobrimos que aquilo era um dos muitos treinos que o vilão se obriga a enfrentar.

Uma das Bond Girls mais inúteis de todos os filmes, proporciona algumas das cenas mais divertidas.

Uma das Bond Girls mais inúteis de todos os filmes, proporciona algumas das cenas mais divertidas.


Mas não são apenas homens de três mamilos e anões demoníacos que fazem de 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro um filme peculiar. A presença de uma Bond Girl (Miss Goodnight) extremamente tapada, a volta do xerife Pepper (de “Com 007 Viva e Deixe Morrer“), e um bizarro carro avião também contribuem para o clima diferente do filme – cujos cenários (um navio encalhado e inclinado, onde funciona o escritório do MI6 e a arena de Scaramanga) flertam com o expressionismo, lembrando inclusive obras como O Laboratório do Dr. Caligari.
O diretor Guy Hamilton, que tanto contestei em outros filmes, parece que definitivamente se rendeu ao uso de trilhas nas cenas de ação que junto com uma montagem frenética e efeitos práticos, tornam essas cenas muito competentes, mesmo para os padrões de hoje. Porém, ele volta a pecar em seu clímaxes enfraquecidos: a luta entre Bond e Scaramanga dura relativamente pouco e é resolvida com apenas um tiro. Ainda sim, o filme não termina em uma baixa, mas pelo contrário – reserva sua cena mais bizarra para o final – o confronto final entre 007 e o anão interpretado por Hervé Villechaize, com Miss Goldnight de fundo.
Ou você acha que o Mini Me era apenas uma referência ao Blofeld?

Ou você acha que o Mini Me era apenas uma referência ao Blofeld?


A narrativa, apesar de descomplicada e divertida, falha ao precisar se utilizar de alguns recursos ex-machina (ou seja, incluidos arbitrariamente pelos roteiristas para dar seguimento a narrativa). O exemplo mais claro é a bonita Bond Girl – que, extremamente destrambelhada e com decisões inexplicáveis, evita que a narrativa tenha seu fim por diversas vezes, alongando a obra. Ainda sim é preciso parabenizar as divertidas sequências, sendo a principal aquela em que Bond tranca Goodnight no armário para ir para a cama com outra mulher.
Divertido, datado, icônico e cheio de falhas – 007 contra o Homem da Pistola de Ouro é um filme que se faz relevante na filmografia do agente justamente pela forma como ele se utiliza de uma narrativa simples para fazer um filme que não se leva sério. Uma obra de extremos. Mas…
COMO NÃO GOSTAR DO CHRISTOPHER LEE COM 3 MAMILOS CACETA!
BEM NA FITA: Um dos melhores vilões da série; Os cenários surreais; O roteiro simples e extremamente cômico
QUEIMOU O FILME: A arbitrariedade da burrice de Goodnight; A bizarrice extrema em alguns momentos; O primeiro ato expositivo
FICHA TÉCNICA:
Diretor: Guy Hamilton
Elenco: Roger Moore, Christopher Lee, Britt Ekland, Hervé Villechaize, Clifton James, Bernard Lee e Lois Maxwell
Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman
Roteiro: Tom Mankewicz e Richard Maibaum, baseado no livro de Ian Fleming
Fotografia: Ted Moore e Oswald Morris
Montador: Raymond Poulton e John Shirley