Ao Seu Lado
Crítica do filme
Entre 1984 e 1987, era publicada a HQ que mudaria para sempre a forma de se contar uma história de super-heróis. Watchmen, em suas 12 edições, era arquitetada por Alan Moore e Dave Gibbons como uma história fechada. Mas que construiria um extenso universo próprio. Questionado em 1985, Alan Moore afirmou que haveria sim a possibilidade de uma série prequel em mais 12 edições contando as histórias dos Minutemen (primeira equipe de heróis compostas no universo Watchmen).
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No entanto, um grande desgaste foi gerado durante a publicação de Watchmen devido seu sucesso estrondoso. Incansáveis solicitações de palestras, bem como viagens de divulgação, autógrafos, cartas e afins, fizeram Moore e Gibbons cansar e temer sua própria cria. Agravado a isto, desavenças foram geradas entre o autor e a DC Comics. Afinal, eles viram sua obra sendo licenciada em diversos materiais, cujos direitos de uso de imagem não lhe eram pagos.
Em 2010, Moore admitiu ter sido chamado para escrever tais prequels, com o acréscimo de ter para si de volta em troca os direitos definitivos de Watchmen. Entretanto, negou.
“Se tivessem dito isso 10 anos atrás, quando eu fiz esse pedido, aí poderia ter dado certo… Mas hoje em dia não quero Watchmen de volta. Com certeza não nesses termos”, disse o autor.
Eis que mesmo assim, em 2012, 10 artistas foram convidados para contar histórias solo dos personagens-chave de Watchmen, desta vez sem os seus criadores. Iniciados no mesmo ano, saía nas bancas as 6 edições de Antes de Watchmen: Minutemen, escritas e desenhadas por Darwun Cooke. Na obra, o Coruja original Hollis Mason alterna entre relatos dos anos de ouro da primeira equipe de super-heróis nos anos 40, com as desavenças envolvendo a publicação do seu livro 20 anos depois. Sendo a mais fiel ao plano original das prequel de Moore, a HQ foi uma das mais bem quistas desta nova leva, além da mais respeitosa ao material original.
Ainda com Darwyn Cooke nos roteiros, foi lançada no mesmo mês Antes de Watchmen: Espectral, abordando o passado da segunda heroína ao vestir o manto, Laurie Jupiter. Esta acaba sendo a abordagem mais ampla da iniciativa, tendo em vista que se trata da personagem com o passado menos explorado na obra original. Passando desde a infância até a fase adulta, a trama traz uma história de amor e drogas que, apesar de ajudar a construir uma empatia à personagem, não acrescenta algo muito novo.
Iniciando a parte de fato polêmica, Antes de Watchmen: Comediante traz um personagem não só destoante do apresentado na obra original, mas também diferente da forma como foi tratado em outras revistas desta nova leva (como Espectral e Minutemen, por exemplo). Tentando transformar Edward Blake em um Forrest Gump amoral, o roteiro de Brian Azzarello peca, apesar das boas intenções de críticas sociais e contextualização histórica, em um roteiro fraco e apático para um personagem tão quisto.
Em Antes de Watchmen: Coruja, Straczynski traz mais uma história monótona e desinteressante, onde críticas a fanatismo religioso e violência contra mulher se perdem no cerne do personagem mais ético de Watchmen. Se há atrativos, eles ficam nas últimas páginas finalizadas por Joe Kubert, antes de falecer naquele ano.
Escrita por Len Wein, o editor original de Watchmen nos anos 80, Antes de Watchmen: Ozymandias traz, em 6 edições, um aprofundamento em primeira pessoa do passado de Adrian Veidt. Algo que é exposto nas duas últimas edições do material original. Com uma arte belíssima de Jae Lee, Wein prefere não ousar muito neste grande potencial. Assim, ele fica em uma agradável zona de conforto, mantendo um complexo personagem em seus tons de cinza.
Retomando as grandes decepções desta herege iniciativa, Antes de Watchmen: Rorschach trazia esperança nos anúncios de Brian Azzarello e Lee Bermejo como equipe criativa. Por mais que os desenhos de Bermejo mantivessem o alto padrão trazido por ele em Coringa, o roteiro de Azzarello deixa muito a desejar ao tentar espremer este personagem já tão desenvolvido na obra original.
Duas séries menores foram tratadas em one-shots completamente passáveis em Antes de Watchmen: Dollar Biil e Antes de Watchmen: Moloch, tratando respectivamente de um herói e vilão dos anos 40, durante as ações dos Minutemen. Mas as atenções e tensões de fato estavam jogadas para a versão do Dr. Manhattan, de Michael Straczynski e Adam Hughes.
Enfim, dois problemas seriam enfrentados pelo autor nesta iniciativa. Primeiro, ele teria de abordar o passado de um personagem cuja origem foi completamente exposta no material original. E ainda teria de levar em conta sua percepção relativa de tempo em seu passado, presente e futuro. Optando entre o seguro e o ousado, o autor decide manter o ritmo narrativo de O Relojoeiro (Watchmen #4), mas abordando possibilidades de linhas temporais alternativas para o passado do super ser azul.
Dessa forma, a história passa a se dividir entre linhas que darão em Watchmen e outras que brincam com como seriam os destinos alternativos do personagem. Em uma espécie de jogo dos sete erros narrativo. De longe, a melhor tacada nessa iniciativa, ficando no time de “não é de se jogar fora”. Juntamente com Ozymandias e Minutemen. De fato, Antes de Watchmen: Dr. Manhattan é o que mais se aproxima de um capítulo perdido da obra original.
Mas me digam! Vocês defendem Watchmen como uma obra sagrada que não deveria ter sido mexida? Ou abrem a cabeça para explorar o rico universo criado por Moore e Gibbons? Deixem nos comentários e até mais com novas partes do ESPECIAL WATCHMEN.