Quentin Tarantino é bastante reconhecido por suas parcerias. Sejam elas de atores que sempre o acompanham, como Samuel L. Jackson, Tim Roth e Michael Madsen; sejam em trabalhos amigáveis como produtor em “O Albergue” (de Eli Roth), “Johnny Destino” e “Eles Matam, Nós Limpamos” (co-escrito por Tarantino e com uma divertida referência a “Um Drink no Inferno”). Mas a parceria mais icônica do diretor acabou sendo com o texano Robert Rodriguez.

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O início

Tudo começou em 1990. Foi quando o diretor e roteirista Robert Kurtzman contratou Tarantino para adaptar sua história (“Um Drink no Inferno”) para um roteiro de cinema. Durante estes 6 anos que separam a contratação de Tarantino como roteirista e o lançamento do longa, Robert Rodriguez estreava, em 1992 (mesmo ano de lançamento de “Cães de Aluguel”), seu primeiro longa-metragem, chamado de “El Mariachi”. O filme chamou tanta atenção de Tarantino que o mesmo veio a atuar na sequência do filme em 1995, chamada de “A Balada do Pistoleiro”, bem como participar com Rodriguez de uma colaboração entre quatro diretores, no longa “Grande Hotel”, acompanhando a história de Ted (Tim Roth), um camareiro de hotel na véspera de ano-novo e suas aventuras com os hospedes. Robert Rodriguez assina o roteiro e direção do terceiro segmento, com Antonio Banderas e Tamlyn Tomita, e Tarantino o segmento final, onde ele mesmo atua.

Quentin Tarantino A Balada do Pistoleiro

Quentin Tarantino em “A Balada do Pistoleiro” (Foto: Divulgação)

No ano seguinte, em 1996, sairia, enfim, “Um Drink no Inferno”. O filme viria a ser dirigido por Robert Rodriguez e roteirizado por Tarantino. Este também atua como o irmão Richard Gecko. Aliás, Tarantino traz de volta Harvey Keitel, grande nome de seu primeiro longa. O ator interpreta um ex-pastor e pai de dois filhos. Eles acabam tendo seu trailer sequestrado por dois irmãos e são forçados a atravessar a fronteira do México com uma mala de dinheiro. Os três acabam em um bar de strippers no meio do deserto. O filme guina de um simples longa de bandidos para um thrash B de vampiros. O longa, mais tarde, seria considerado um grande cult do gênero.

Quentin Tarantino em “Um Drink no Inferno” (Foto: Divulgação)

O reencontro

Com Rodriguez entrando para o mercado de filmes infantis, dirigindo a trilogia “Pequenos Espiões” e as aventuras de “Sharkboy e Lavagirl”, a dupla dinâmica só viria a se reencontrar atrás das câmeras em 2005. O reencontro seria através da adaptação cinematográfica da revista em quadrinhos “Sin City”. Baseada na obra homônima de Frank Miller, Robert Rodriguez transferia para as telas o clima noir da cidade pecado. Além disso, ele teria uma dívida paga com Tarantino ao dirigir uma importante cena. Em parceria, Rodriguez comporia a trilha sonora de “Kill Bill Vol. 2” por apenas US$ 1. Por outro lado, Tarantino seria seu “diretor convidado” em “Sin City” pelo mesmo preço. Ele comandaria a cena de Clive Owen e Benicio Del Toro (veja abaixo).

O ápice

Após este histórico de colaborações, era hora de chegarmos ao ápice dessa parceria. Em 2007, sairia do papel o projeto Grindhouse. Tratava-se de uma enorme homenagem ao terror B dos anos 70 e 80, comandado por Tarantino e Rodriguez. A ideia contava ainda com apoio de Eli Roth, Rob Zombie e Edgar Wright. O projeto consistia na produção de dois média-metragens independentes, bem como uma série de trailers falsos, trazendo o espírito thrash do gênero com maquiagens exageradas, imagem granulada, cortes secos de trilha sonora e transição brusca de cenas.

O primeiro segmento (“Planeta Terror”), dirigido por Rodriguez, trazia um elenco estrelado por Bruce Willis, Josh Brolin, Fergie (sim, a do Black Eyed Peas) e até os próprios diretores, em uma infestação zumbi numa cidade do interior do Texas.

Robert Rodriguez Planeta Terror

Robert Rodriguez em “Planeta Terror” (Foto: Divulgação)

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“Ele parece um pouco um filme de John Carpenter que se situaria entre ‘Fuga de Nova York’ e ‘O Enigma de Outro Mundo’. Fazia tempo que eu queria fazer um filme de zumbis porque não tinha nenhum legal ultimamente, mas aí veio toda essa leva bacana e eu resolvi mudar um pouco. Não são mais zumbis, são gente infectada”, comentou Rodriguez.

Com belas doses de sangue, gore e tiroteio, o filme retoma o espírito clássico de Rodriguez no início da carreira. Ademais, mostra um amadurecimento do diretor no gênero de onde ele nunca deveria ter saído. Curiosamente, um dos trailers falsos exibidos antes do filme, intitulado “Machete” (veja abaixo), acabou realmente virando filme em 2010, com uma sequência em 2013.

O ápice – Parte 2

Já a segunda parte (“À Prova de Morte”), comandada por Tarantino, traz Kurt Russel como um dublê assassino que mata exclusivamente mulheres utilizando seu carro modificado para aguentar batidas e capotamentos.

“Eu quis homenagear os filmes de maníaco dos anos 70 e 80 porque sou grande fã deles. Mas o que os torna tão legais é justamente a rigidez estrutural. Então, eu criei essa história de um maníaco que usa seu carro como arma e não um facão ou coisa do tipo. Mas se não fossem os assassinatos com o carro meu filme poderia até ser uma peça de teatro porque as meninas falam e falam e falam mais”, disse Tarantino.

O filme traz uma série de conexões com “Kill Bill”. Afinal, ele retorna com o xerife Edgar MMcCraw e os policiais investigativos presentes nos dois longas, bem como uma citação ao clã das víboras assassinas de Bill. Além disso, também tem referências a “Um Drink no Inferno”. Ademais, o longa é marcado por uma recriação feminina da cena do café da manhã de “Cães de Aluguel”, assim como a presença do jukebox pessoal de Tarantino.

Até então, não há indícios de uma nova parceria. Entretanto, esta amizade, que começou entre os dois iniciantes no festival de Toronto de 1992, ainda pode render excelentes obras. Com um grande legado de resgate ao cinema thrash de terror, Tarantino-Rodriguez segue, de fato, como uma das maiores colaborações da história do cinema. Certamente, um não teria chegado tão longe sem o outro.

Quentin Tarantino À Prova de Morte