O ano era 1992. A indústria dos quadrinhos passava por duras mudanças. A Era de Bronze trouxe uma cara mais adulta para os heróis e a invasão britânica trazia a nona arte para o estágio de literatura séria e mundialmente relevante. Enquanto a Marvel apostava em revistas extremamente estilizadas, onde a arte se sobressaía ao texto, a DC decidiu alterar o status quo de seu panteão. Foi ali que o Batman teve sua queda, ficando paralítico; Aquaman acabou perdendo sua mão, a substituindo por um gancho; A Mulher-Maravilha não mais era Diana Prince e sim Artêmis; O Lanterna Verde Hal Jordan se tornou o vilão Parallax, e, claro, morreu o Superman.

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Várias vezes o herói já havia morrido nas HQs. Desde 1961, os roteiristas brincavam com a ideia do mundo perder o Superman, mas nada que durasse mais de uma edição. Foi então que, em 1992, na reunião anual da equipe criativa das quatro revistas do Superman da época, foi discutido a questão de seu casamento.

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O azulão já havia revelado sua identidade secreta para Lois Lane, já haviam ficado noivos, mas uma coisa ainda segurava esse matrimônio. A série de sucesso Lois & Clark também casaria o Homem de Aço, e a DC queria fazer algo conjunto entre as mídias. Tendo de adiar o evento em mais um ano, foi sugerido durante a reunião: “Por que não matamos o cara?”.

Foi assim que Mike Carling (editor-chefe da DC), Dan Jurgens, Roger Stern, Louise Simonson, Jerry Ordway e Karl Kesel se dividiram entre os títulos para criar a história mais bem estruturada que que os quadrinhos já tiveram. Além de uma completa harmonia entre a história escrita e desenhada por cada equipe, a medida que as revistas avançavam, ia se encerrando uma contagem regressiva com o número de quadros por página.

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De cinco quadros até uma belíssima edição feita apenas por Splash Pages em Superman #75, acompanhamos a luta entre o Homem do Amanhã e a fera Apocalipse. Sem histórico ou passado, o monstro simplesmente surgiu para destruir o que viesse pela frente. Derrotando a Liga da Justiça (da época), o monstro entra em um violento embate com o maior herói do mundo quando se direciona para Metropolis. Extinguindo suas forças, um soco cruzado entre a besta imparável e o último filho de Kripton gera uma dupla morte, chocando todo o mundo.

Para fechar o ano de 1993, os quadrinhos ainda entraram numa incrível saga para o retorno do azulão. Começando com os devaneios além da morte, tivemos o emblemático enterro (Funeral para um Amigo) e o surgimento de quatro supermans diferentes na Terra.

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Mas é claro que uma história tão emblemática não ficaria fora das outras mídias. Além dos jornais impressos e braçadeiras que acompanhavam as edições do quadrinho, a morte começou a migrar para outros formatos com o lançamento de The Death and Return of Superman para Mega Drive, em 1994. Em 2003, o vigésimo episódio da segunda temporada da animação Liga da Justiça trazia o título “Hereafter”, em uma história em que o Superman é morto e enterrado. Apesar da causa da morte ficar por conta do Mestre dos Brinquedos, vários elementos do quadrinho são usados e homenageados.

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Em 2007, o mesmo traço icônico de Bruce Timm traria uma adaptação mais fiel da história. Em A Morte do Superman (Superman: Doomsday), temos uma releitura da briga, onde apocalipse teria sido um experimento da Lexcorp, e, após a morte do herói, surge um novo e diferente Superman. Acusado como um clone do herói, a animação seguiu até então como a mais fiel transcrição da Graphic Novel.

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No ano seguinte, a série Smallville adaptaria a saga de Apocalipse em sua oitava temporada. Apesar de novamente reciclar os elementos referentes ao acontecimento dos quadrinhos, nosso querido azulão não chega a morrer no final.

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2016: e já era tempo de levar este fato marcante do herói para os cinemas. Batman vs Superman: A Origem da Justiça adaptou arcos como: Cavaleiro das Trevas, Crise nas Infinitas Terras, Trindade, Injustiça e, é claro, A Morte do Superman. Mantendo as raízes kriptonianas do monstro, o filme cria um embate de apocalipse contra Superman, Batman e Mulher-Maravilha unidos. A luta final acaba gerando uma morte justa em suas adaptações e um enterro de suar os olhos de qualquer fã da revista.

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Não obstante, chegamos em 2018 e o aniversário de 25 anos da morte do Superman é celebrado em uma nova animação homônima. Desta vez, ao invés de trazer a luta com Apocalipse como um ponto catalisador inicial da história e focar num mundo suportando a perda de seu maior herói, a trama carrega o embate de titãs para o seu clímax no terceiro ato.

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Altamente influenciada pela iniciativa Novos 52 e pelo estilo de animação mais recente dos últimos filmes da editora, A Morte do Superman adapta a tragédia, mais uma vez, tendo a participação dos membros mais clássicos da Liga da Justiça. Saem Fogo, Máxima, Guy Gardner e Gladiador Dourado para a entrada da formação utilizada nos cinemas, com acréscimo do Lanterna Verde Hal Jordan. Essa decisão, apesar de aumentar o nível de ameaça, acaba distanciando ainda mais o poderio do Homem de Aço em paralelo aos seus companheiros.

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Mais uma vez temos a trama bastante atrelada ao seu algoz, Lex Luthor, com uma grata referência à sua bizarra aparência dos anos 90 em certo momento do filme. A questão da revelação e do noivado também estão lá, um Jimmy Olsen extremamente mais novo do que o habitual e toda a sorte de casos paralelos resolvidos para completar a longa duração.

Apesar de não trazer nada de novo, além do traço mais estilizado da nova geração de filmes animados da Warner Bros, o filme atualiza a história para que um novo público busque suas raízes. Funcionando como uma forma de correção ou pedido de desculpas aos fãs que reclamaram da adaptação aos cinemas, o filme encerra de forma curiosa.

Sem dar maiores revelações da trama, mas olhos afiados de fãs poderão perceber uma grande brecha para continuação. Será que finalmente teremos um retorno digno do Superman? Teremos a chance de conhecer Superboy, Aço e Supercyborg juntos em um material audiovisual?

Resta a nós o mesmo que um mundo sem Superman. Aguardar.