Ao Seu Lado
Crítica do filme
Antes de mais nada, a primeira temporada de O Legado de Júpiter reforça uma tese. Cada vez mais as histórias de super-heróis com temas adultos tomam conta do espaço da TV. Contados, assim, de modo violento e com versões deturpadas do homem de aço de kripton. Mas, a versão da Netflix tende a ser um pouco mais conservadora em sua moral heroica. Ao contrário da visão mais fascista e vilanesca mostrada em The Boys e Invencible (ambos produzidos pela Amazon Prime Video),
A primeira temporada de O Legado de Júpiter estreia após uma longa jornada de espera pelos entusiastas das obras de Mark Millar. Autor de clássicos da Marvel, (Velho Logan, Guerra Civil e Os Supremos) e da DC (Entre a Foice e o Martelo). Há anos ele desenvolve um universo próprio, chamado de Millarworld, com nomes também já carimbados nas adaptações audiovisuais. Filmes como O Procurado, Kick-ass e Kingsman, são apenas alguns exemplos da veia satírica e crítica de Millar. Autor que vem expondo de forma transmidiatica, até chegar o momento de adaptar o seu “Watchmen” pessoal.
Feito ao lado do grande desenhista Frank Quitelly (Grandes Astros: Superman), O Legado de Júpiter traz nessa primeira temporada uma intenção simples. A história de um grupo de amigos que ganham super poderes em uma expedição misteriosa e sua repercussão para com as gerações futuras.
Apesar de ser bastante adaptada e alterada, como contaremos a seguir num texto sobre as diferenças entre a série e a HQ; o plot da nova aposta da Netflix no gênero do momento tende a ser bastante similar.
Logo no início somos apresentados ao Utópico Sheldon Sampson (Josh Duhamel). A saber, um super herói pai de família, cristão e com mais de 100 anos de idade. Ele tenta passar para seus filhos um código de ética heroica de não matar e não governar. A construção do personagem acaba ocorrendo com sua história sendo contada entre passado e presente. Assim, toma por base a grande depressão financeira americana como o estopim do surgimento de uma era de super poderosos. Apesar de ter surgido apenas nove anos após a queda da bolsa de 1929, a criação do Superman por Siegel e Schuster teve o mesmo impacto de esperança após o período caótico.
O passado do herói como Sheldon Sampson nos anos 30 nos traz uma grande aventura recheada de viagens pelo mundo desconhecido e um arco pessoal que beira a um terror psicológico, que se destaca entre as cenas de capa e colan coloridos. Essa história paralela, tomando mais da metade destes oito episódios iniciais da série, constrói a personalidade do primeiro grupo de pessoas a adquirir poderes, em uma longa homenagem à King Kong, Indiana Jones, bem como aos contos de H.P. Lovecraft. Apesar de momentos que beiram uma breguice incômoda, essa alternância com um arco de personagens sem poderes dá o respiro necessário para esticar a curta história contada no primeiro ano da produção.
Indo para as cenas do presente, Brandon (Andrew Horton) e Chloe (Elena Kampouris), filhos do Utópico, tornam-se o fio condutor do público neste mundo tomado por super-heróis que tentam influenciar o mínimo possível na humanidade, e vivem a sombra da era de ouro de seus pais. Em contraponto à discussão econômica e ao visual gore nas visões de Sheldon, no presente a alta classificação indicativa se justifica pelo intenso uso de drogas e cenas de sexo que pintam a juventude rebelde, bebendo bastante de Reino do Amanhã (história de futuro alternativo da Liga da Justiça onde os heróis mais velhos têm de lidar com uma geração nova e irresponsável).
O arco dos dois irmãos é construído em contraponto, onde a busca constante pela aprovação paterna, apesar dos ideais contrários ao “Código”, enfrenta um segundo lado de negação às origens, em meio ao claro sentimento de querer voltar.
Ao lado do nosso superman de barbas e cabelos grisalhos, temos Grace Thompson (Leslie Bibb), ou Lady liberdade, como um mix de Lois Lane e Mulher-Maravilha encarnada numa ex repórter que, a saber, adquire super poderes. O arco de Grace traz, em suma, uma busca mais visível pelos filhos, e novos questionamentos sobre a moralidade de matar ou não super vilões. Infelizmente, assim como os demais, acaba tendo pouco tempo de tela para criar uma personagem que passará de uma repórter sensacionalista e empoderada, até a dona de casa caricata e quase submissa.
No caso de Walt (Ben Daniels) e George (Matt Lanter), a relação em trio com Sheldon acaba, em outras palavras, sendo o ponto alto de desenvolvimento da trama. A escalada de diferentes criações e opiniões que destinará ao maior herói da terra, seu irmão e o maior vilão, trazem grandes expectativas para futuros confrontos e reencontros. E por fim, Hutch (Ian Quinlan), acaba sendo um grande aspirante ao protagonista que fez falta no período presente da série. O personagem que vive pela sombra de ser filho de um grande vilão traz um dos mais interessantes e promissores arcos, além de trazer boa parte de um alívio cômico bem executado.
Ao fim desse primeiro ano, a trama do presente, sendo em teoria o plot principal da história, acaba, em suma, sendo suprimido pelos flashbacks e encerrando com pouco desenvolvimento. A presença do antagonista com pouca aparição, cria, a saber, um gancho tão grande que impede a história de possuir um arco contido satisfatório.
Em suma, a curta primeira temporada de O Legado de Júpiter pavimenta uma estrada que vale a pena ser percorrida, e alegremente difere das recentes produções similares do gênero. Como a trama atingiu cerca de um quarto do material original, agora resta aguardar uma boa recepção que garanta novos anos para os Sampsons.
Então, vai comprar algo na Amazon? Então, apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa
Título original: Jupiter’s Legacy
Temporada: 1
Episódios: 8
Duração: 45 minutos cada episódio
Data de estreia: sex, 07/05/21
Criação: Steven S. DeKnight
Elenco: Anna Akana, Tyrone Benskin, David Julian Hirsh, Jess Salgueiro, Gracie Dzienny, Humberly González, Morgan David Jones, Tyler Mane
Onde assistir à série ‘O Legado de Júpiter’: Netflix
País: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Gênero: ação, aventura, drama
Ano de produção: 2021
Classificação: 16 anos