BBB-23-tina-gabriel-fop

Fotos: Reprodução

BBB 23: “Não vou desdizer: está desvirado”

Lohan Lage Pignone

O jogo desvirou. No BBB 23, o jogo desvirou em alguns aspectos. Chegamos à conclusão da terceira semana, marcada pela eliminação da miss angolana Tina, com 54,12% dos votos. Na semana anterior, o polêmico Gabriel Fop já havia deixado a casa mais vigiada do Brasil com 53,3% dos votos.

Falemos, pois, a priori, sobre o que me chama atenção de cara nessa configuração atual do game: a diferença percentual entre Gabriel e Tina em suas respectivas eliminações.

A princípio pode-se dizer que é uma bobagem, coisa de pouco mais de 1%. Mas quanto equivale esse percentual em um paredão com milhões de votos? Quanto isso vale a mais quando contrapomos as trajetórias de um jovem rapaz branco que teve atitudes abusivas dentro da casa (contra sua parceira) com a de uma jovem mulher preta que agiu com aspereza em alguns momentos com seus colegas de confinamento?

Leia também:

BBB 23: ‘Senta que lá vem história’

Temporada 2 de ‘Carnival Row’ é o destaque das estreias de fevereiro do Prime Video

Netflix anuncia lançamentos de fevereiro: retorno de ‘Você’ e filme com Reese Witherspoon são os destaques

Cultura angolana

Tina, convenhamos, se apresentou com um mood bastante questionável em sua curta estadia. Sobre essa questão, é válido se aprofundar na cultura angolana, que, sim, possui facetas totalmente distintas às nossas, inclusive no modo se relacionar com outras pessoas, na forma de se analisar o outro.

O humor de Tina pode receber queixas? Sem dúvida. Mas há de se vasculhar também esses traços culturais diversos, que determinam sim a postura de uma pessoa no jogo e na vida. Tina ainda se mostrou uma jogadora pronta para o bom combate e disposta a um jogo de alto nível. Um jogo de observância minuciosa.

Pegando como parâmetro, no “BBB 22”, Rodrigo Mussi foi o segundo eliminado sob a égide de ser um jogador compulsivo, que excedeu a “cartilha x” que alguém convenientemente rascunhou. Agora, no “BBB 23”, Tina, mais uma participante com perfil de grande jogadora é eliminada pelo público.

Tina ‘queimou a largada’ no BBB 23?

Alega-se que Tina, assim como Rodrigo, talvez tenham “queimado a largada”. Mas eu diria que, no BBB, a partida se renova a cada semana, a cada eliminação. Não se queima uma largada no BBB; apenas se inicia um novo ciclo de fuga do paredão.

Ninguém comenta a mesma coisa no que diz respeito à formação de casal, por exemplo. Um beijo na primeira festa seria queimar a largada?  Tina claramente não entrou no BBB 23 para fazer amigos, muito menos casal. Sua saída do programa, num misto de incredulidade e ressentimento, foi quase toda silente, observando o pranto cênico de pessoas que nunca a tiveram como prioridade. Ela talvez tivesse se livrado do alvo caso não tivesse atendido ao Big Fone. Mas como prever o que o jogo tem a oferecer?

Quanto à eliminação de Tina do BBB 23, cabem ainda algumas ressalvas, que podem ser associadas ao racismo estrutural. Embora tenha disputado diretamente contra Cezar Black, homem preto, ela teve sua imagem atrelada à de preta raivosa, ressentida. Que dispara frases como “amo mais os meus cabelos do que seres humanos”. E que também cravou uma das frases que já entrou para o hall das icônicas dos “BBBs”: “Eu não empresto o meu cabelo!”, dita a Black em um dos jogos da discórdia.

Despida

E o jogo desvira quando uma jogadora do naipe de Tina se despede tão cedo. Desvira quando começamos a testemunhar o esfacelamento dos grupões. Geralmente esses grupos são formados ao longo dos dias, de maneira mais discreta; neste BBB, os grupões se amotinaram em um embate totalmente franco e aberto.

E de tão intenso que foram esses movimentos logo na intro do game, hoje podemos dizer que essa dinâmica está fadada ao fracasso, não vai se sustentar. Cada grupo tem seu diferente, dissidente. Os jogos individuais começarão a pipocar em breve e será interessante descobrir quem é de quem realmente ali dentro. Quem é a Cristina Yang da Meredith Grey.

Metamorfose ambulante

Raul Seixas canta que vai “desdizer aquilo tudo que eu lhe disse antes”. Desdizer, desvirar. Ser metamorfose ambulante é a verdadeira graça que um ser humano pode imprimir. Mas quando um jogo que já virou vem a se desvirar, tudo cai no campo do risco. O avesso é sempre temeroso.

Com o advento dos camarotes ao BBB, Boninho deu gás novo ao reality e o jogo virou. Tudo um sucesso, o qual começou a ruir no “BBB 22”. Em termos de audiência, a edição do BBB 23 é a pior da história até aqui. Os seguidores dos participantes no Instagram não crescem com a mesma facilidade e intensidade se comparado às edições anteriores.

Jogo desvirado

O jogo começa a desvirar para a emissora e a direção se vê imersa no começo do fim. Com a chegada dos camarotes, aumentou também a quantidade de patrocinadores. E, a cada ano, o programa recebe cifras altíssimas de diversos parceiros. O investimento no BBB é tão surreal que acaba criando uma espécie de superlotação de marcas que se estapeiam diante das câmeras.

O BBB 23 parece, em alguns programas, um comercial de mais de uma hora. O merchandising dominou de forma expansiva e maçante todas as frentes do reality. Isso provocou queda na qualidade das provas e uma hipervalorização do padrão estético – embora este dado não seja novidade – para que o merchan saia bem “bonito na foto”.

Afora essa pegada de comercial estendido, o BBB chega em uma fase em que o público já começa a dar indícios de saturamento. Tanto para quem transmite, como para quem assiste a um mesmo reality por 23 anos, eu diria que é um grande feito. No entanto, as pessoas se cansam e buscam sempre consumir novidades, sobretudo via streaming. Impérios desmoronam, por x motivos, e eu hoje já não prevejo vida longa ao BBB.

Parece que o jogo já virou o que tinha de virar. Hoje, ele começa um processo de “desviramento”. Gostaria de poder desdizer isso, caro Raul, mas não será possível. Até a próxima e desde já na torcida para que o interesse pelo programa seja reavivado por algum acontecimento bombástico (mas não trágico) nesta edição.

Aliás, está de olho em algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso:

https://app.orelo.cc/uA26

https://spoti.fi/3t8giu7

Lohan Lage Pignone

Lohan Lage Pignone, 31, é nascido no Rio de Janeiro (RJ) e atualmente reside em Nova Friburgo (RJ). Graduado em Letras (Port./Lit.) pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduado em Roteiro para Cinema e TV, pela UVA. Publicou, em 2011, o livro “Poesia é Isso” (Ed. Multifoco). Assinou o roteiro e dirigiu o documentário em curta-metragem “Terra Nova, Friburgo”. Formou-se em Direção (Cinema) pela AIC.
NAN