BBB 2019 / Globo

BBBLAH! NO AR! #10 – BIG BROTHER BRASIL 2019

Lohan Lage Pignone

BBBlah no ar!

E para começar, sem ter a pretensão de fundar um novo slogan para o nosso país, sou obrigado a revelar a impressão que o povo brasileiro me passa, a cada dia mais. O Brasil é o país do contra.

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Quem se lembra dos personagens “do contra”, lá da Turma da Mônica? Pois bem: lá, ao menos, o menino contradizia opiniões que rodeavam o cotidiano infantil, como bater o pé que queria brincar de pique-esconde enquanto todos os outros optavam por cabra cega. Acontece que, no panorama social brasileiro de hoje em dia, ser do contra implica em desnudar um caráter maquiavélico, ou no mínimo dúbio. Ser do contra, nesse aspecto, é ser contra princípios fundamentais para a civilidade humana. E pela primeira vez, creio eu, ser do contra virou maioria no Brasil.

Turma da Mônica / Maurício de Souza

Em um mundo globalizado, repleto de informações, de trocas, era de se esperar que houvesse maior discernimento entre o bem e o meu. E de fato, há esse avanço. No entanto, é justamente através desse bônus virtual que grande parte da população ancora suas paixões exacerbadas e despertam seus ódios ancestrais contra tudo aquilo que julga como “mau”. Logo, se estabelece uma guerra em que, entre mortos e feridos, não há o que se comemorar.

E finalmente chegou ao ponto do reality (ainda) de maior audiência da TV brasileira. As torcidas que pululam as redes sociais, sobretudo o Twitter, são as verdadeiras antagonistas dessa edição do BBB. Torcidas cegas, obcecadas por “ídolos” ou, melhor, pelo o que esses “ídolos” representam. E para espanto geral da nação (ou não), as torcidas que mais se mobilizam são aquelas que apoiam discursos racistas e homofóbicos.

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Essa onda ganhou volume na eleição presidencial do ano passado. E como eu já disse e repito, o BBB é um dos retratos mais fiéis da sociedade. Ou era, até agora. Porque nunca antes na história do reality, houve tanta mobilização de grupos específicos, denominados de mutirões, em prol dos participantes emparedados. Esses grupos transmitem uma imagem do Brasil, e apontam índices assustadores. Pessoas que se debruçam por horas, dias a fio, defendendo a permanência de pessoas que deveriam estar depondo à polícia aqui fora. Isso lembra um bocado a nossa política, não?

Globo / BBB 2019 / Reprodução

Paula é a favorita, apoiada pelo Brasil do contra. Em uma edição que contém o maior número de participantes negros, é uma racista que vencerá. Assim como foi no BBB em que Marcelo Dourado venceu. Homofóbico declarado, venceu uma edição que contava com três participantes gays. O Brasil se incomoda quando, de certa forma, a minoria se apresenta como maioria. Seja em que esfera for. E elege o seu combatente, o seu representante maioral. O BBB 19 já cravou a sua campeã, em um jogo de 202 milhões de votos recordes que se mostram apenas como a ponta do iceberg desse contraditório (e conveniente) olhar do preconceito e do ódio.

Até a próxima!

Lohan Lage Pignone

Lohan Lage Pignone, 31, é nascido no Rio de Janeiro (RJ) e atualmente reside em Nova Friburgo (RJ). Graduado em Letras (Port./Lit.) pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduado em Roteiro para Cinema e TV, pela UVA. Publicou, em 2011, o livro “Poesia é Isso” (Ed. Multifoco). Assinou o roteiro e dirigiu o documentário em curta-metragem “Terra Nova, Friburgo”. Formou-se em Direção (Cinema) pela AIC.
NAN