BBBLAH! NO AR! #4 – BIG BROTHER BRASIL 2019

Lohan Lage Pignone

BBBlah! no ar!

Pois é, meus caros, tivemos nesta semana o que eu chamo de “semana crucial” (ou the X Week, fica mais cool) no game mais famoso do Brasil. Despediu-se do jogo o melhor projeto de protagonismo desta edição: Hana Khalil, a nossa heroína vegana.

Há duas semanas, nesta coluna, falei um bocado sobre os arquétipos nas narrativas, mais especificamente sobre a figura do herói e a do vilão. Salientei que todo herói é um perseguidor, isto é, não olhemos os nossos heróis apenas como perseguidos, como vítimas. Ele também está em busca de algo, ele também está dando nó em pingo d’água para chegar lá, seja aonde for. Mas a grande questão é: de quais os artifícios que esse herói lançará mão para alcançar o seu objetivo? Ele será herói por ser mais perseguido ou por ser mais perseguidor? Dependendo de suas escolhas, o seu posto se inverte: do herói no cavalo branco para o grande vilão da história.

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Na ocasião, disse ainda que não tínhamos como vislumbrar, em duas semanas de jogo, quem já dava sinais de Carminha feelings. Será que, completado um mês, já teríamos essa noção? Já teríamos também os mocinhos dessa novela das 23h? No meu entender, sim. Só que com um detalhe fundamental para o entendimento do panorama do jogo hoje: o herói não está assumindo o protagonismo. O vilão sim. Isso, aliás, não é novidade na televisão brasileira, é quase lugar-comum na teledramaturgia. Só que nas novelas, é quase inconcebível que o autor dê cabo do seu mocinho chatonildo ou da sua mocinha picolé de chuchu, palerma. E no BBB o lance é outro: mocinho que não se “vende”, o mínimo que seja, tem grandes chances de ser riscado da trama. O público não perdoa. E, da turma que tem se destacado como “vítimas”, era ela, nossa Super Vegan Girl Hana, que mais se assumia como protagonista, embora não estivesse correspondendo o papel à altura do que se esperava. E, sometimes, em termos de BBB, a frustração pode ser mais nociva do que o tédio. Muitos se frustraram com a personagem de Hana, e justamente no momento x do jogo, como mencionei lá no começo. Por que momento x? Porque este não foi só um paredão: foi o juízo final da décima nona edição do BBB.

Globo / Reprodução

Foi o embate das representatividades do que se pode dizer “do bem” e “do mal”. Hana e Rizia, as engaioladas, fizeram jus ao apelido e não alçaram os voos tão aguardados. Foram as mocinhas da vez. Já Hariany, a sem sal que os colegas de confinamento temperam cada vez mais, representou o lado “vilanesco”, apesar de Hari não se posicionar em um lado específico. A maioria dos votantes que mantiveram Hariany no programa por uma diferença de 400 votos não o fez por ela, em favor dela. Mas sim, contra Hana. Hana era o alvo. Hari foi apenas um estopim. Atirem na mocinha que está quase virando protagonista, não na coadjuvante papagaio de pirata da “miguinha” racista Paula.

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Logo, a derrota de Hana é, consequentemente, a derrota de todo um grupo de heróis. Heróis que ainda se mostram apáticos no jogo. Heróis que até então firmam seus atos heróicos mais como perseguidos do que como perseguidores. Presos, como os ratinhos de Skinner, referência que o Leifert não à toa fez no último discurso da eliminação. Se Hana era a mais badalada da gaiola, a que tinha mais seguidores no Twitter e saiu, como que se vislumbra um futuro para os demais militantes?

Globo / Reprodução

Por falar em militância, deixo claro que sou SUPER a favor que os participantes não a deixem de lado. Afinal, antes de ser um jogo, ali é a vida real. E o BBB é a melhor plataforma para isso, para que exponham essas realidades marginalizadas. Rodrigo e Gabriela merecem aplausos pelo serviço social e humanitário que têm feito lá dentro. No entanto, não podem de forma alguma se desvincular da ideia que também estão vivenciando um jogo e que, aqui fora, tivemos um presidente eleito que se posiciona firmemente contra ativismos. Eleito pelo povo. Povo que também elege quem sai e quem fica no BBB. E aí? Como agir?

Ao mesmo tempo, temos Paula, que não se cansa de dizer disparates preconceituosos contra negros, moradores da favela, religiões. Nesse embate político, quem o Brasil vai eleger? Com quem o Brasil mais vai se identificar? A saída precoce de Hana já deu um nítido indício dos caminhos que o Brasil vai tomar. Será que veremos agora mais perseguidores de sonhos do que perseguidos? Será esse jogo não vai virar?

Veremos.

Lohan Lage Pignone

Lohan Lage Pignone, 31, é nascido no Rio de Janeiro (RJ) e atualmente reside em Nova Friburgo (RJ). Graduado em Letras (Port./Lit.) pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduado em Roteiro para Cinema e TV, pela UVA. Publicou, em 2011, o livro “Poesia é Isso” (Ed. Multifoco). Assinou o roteiro e dirigiu o documentário em curta-metragem “Terra Nova, Friburgo”. Formou-se em Direção (Cinema) pela AIC.
NAN