BBBLAH! NO AR! #5 – BIG BROTHER BRASIL 2019

Lohan Lage Pignone

BBBlah! no ar!

Completamos um mês de Big Brother Brasil e qual foi o saldo, em termos de entretenimento?

A décima nona edição mostrou, desde o pontapé inicial, que faria diferente, quebrando alguns paradigmas. Inaugurou com prova, super paredão, e quarto dos sete desafios. Acontece que essas novidades não surtiram o efeito esperado e, pra completar, os moradores da casa mais vigiada do Brasil não estão contribuindo na produção de conteúdo. Vulgo: tretas.

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Pelo menos, uma pauta se encaminhou: a da vilania. Paula e Maicon estão brigando com unhas e dentes por esse posto. Uma fala mais absurda que a outra. Um show de preconceitos étnicos, sociais, religiosos, machismo, zoofilia enfim, um combo maligno que muitos gostam de rotular como mimimi. A dona da porca Pippa ainda consegue se destacar mais positivamente do que o queijeiro que diz ter perdido a virgindade com uma cabra, pois se safa com seu humor ácido e suas tiradas ignóbeis que inevitavelmente provocam risos no telespectador. Sincera mas nem tanto, porque sua sinceridade é pra lá de conveniente, Paula também tem ganhado uma forcinha da edição. Mas como julgar a edição, né, gente? Cá pra nozes, está difícil de montar um episódio. Se a “miguinha” é a que mais faz por onde, apesar dos pesares e da voz irritante, é ela quem ganha espaço na tela e, consequentemente, no coração das tias do sofá.

(@mayconsantosoli | @eupaulasperling/Instagram)

Se esse BBB, como eu já salientei nesta coluna, é um jogo politicamente polarizado, pode-se afirmar que Maicon é o típico eleitor do Bolsonaro. Parece que foi escolhido a dedo. Conservador ao extremo, do tipo que acha que mulher só pode sair de casa depois que se casar e que rechaça o beijo gay, só falta vestir a armadura medieval. Depois de claramente fazer uma demonstração de preconceito étnico-racial e de intolerância religiosa contra Gabriela e Rodrigo em uma das festas (dois dos participantes negros da competição – sendo o Rodrigo praticante da umbanda e Gabi lésbica), ao dizer que “ao começar a tocar umas músicas esquisitas – “Identidade”, de Jorge Aragão – sentiu uma energia estranha vinda deles, notou uma sincronia estranha entre eles, viu a aparição de Jesus que lhe disse para não fazer o que eles faziam”, enfim, tanto absurdo que dá coceira nos dedos digitando aqui. Do lado de cá, depois dessa, a família de Maicon quer pintá-lo como sensitivo. Tá aí, eis o sensitivo de Taubaté.

Big Brother Brasil / Divulgação / Globo

O quesito “vilões” anda bem, obrigado. Tão bem que, segundo a enquete do UOL – uma das mais respeitadas ao longo do programa – aponta que Paula e Maicon são os favoritos a embolsarem um milhão e meio de reais. E quer saber? Não me espanta nem um pouco. Para quem presenciou uma eleição como a do ano passado, essa edição do BBB é fichinha quando se trata de voto do povo. Dizem que o povo, seja para eleger o novo presidente, seja para eleger o novo milionário de reality show, vota em quem se identifica. Ao menos estamos conhecendo e confirmando a verdadeira face do Brasil, não é mesmo? Salve, salve o BBB!

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E se os heróis mocinhos vão mal das pernas, o apresentador Tiago Leifert também não tem ficado muito atrás. Quando começa o programa e o Leifert inicia seu tom professoral, num didatismo de dar náuseas, explicando cada detalhe do que vai acontecer logo na sequência, ele levanta uma placa com a seguinte inscrição: VOCÊS SÃO UNS BURROS, BRASIL! Ora, Tiago, pega leve. Ok, nossos índices educacionais estão bem longe de serem os melhores, ou satisfatórios… eu sou professor e sei que uma das maiores dificuldades do brasileiro é a de interpretar. Mas não, nunca, subestime o telespectador. Principalmente um telespectador de reality show. Brasileiro fez mestrado em teledramaturgia, meu caro, e isso já é mais do que suficiente para sacar tudo de BBB e qualquer outro reality que pintar aí. A mesma dica vale para a sua relação com os participantes: menos. Force menos a barra. Se eles precisam jogar mais, não vá dizer explicitamente que eles precisam jogar mais. Se eles precisam dar Ibope para a Globo, não admita isso na lata, é até constrangedor, sério. Noutra época, o Bial faria isso com a maior sutileza do planeta, recorrendo a uma rica metáfora, ou a um intertexto shakespeariano, whatever. E de quebra, colocava mil minhocas na cabeça deles, que, ao tentarem compreender tudo, acabavam cometendo os tão esperados deslizes e confrontos. Quando você permite ao rato que te veja construindo a ratoeira, não há queijo Parmigiano que atraia o dentuço para a morte. As armadilhas do BBB já estão mais do que manjadas. São dezenove edições, ora bolas. É fácil explicar o porquê dos nossos heróis estarem mais escaldados que gatos selvagens, chegando ao ponto de se recusarem a responder a uma pergunta feita pelo apresentador do programa: “Quem acha que tal pessoa deve sair do programa essa noite?”. Comprometimentos devem ser gerados naturalmente. Alô turma do roteiro, deixem a criatividade reinar. Deem uma pirada! A trama agora só dá no tranco com um bom plot twist. Vão por mim!

Reprodução / Tiago Leifert / Big Brother Brasil / Reprodução do site Virgula

Sei que não haverá e entendo perfeitamente os motivos da produção, mas uma Casa de Vidro cairia bem pra caramba a essa altura. Ver personagens como Hana, Gustavo e Diega (precocemente eliminados, três que movimentavam bem o jogo) confinados no mesmo ínfimo espaço, brigando por uma vaga de retorno ao BBB, seria hilário. O jogo ainda está bem imprevisível, não haveria tanta vantagem em termos de informações externas. E ainda poderiam dar uma chance ao Vanderson na Casa de Vidro, uma vez que sua saída foi causada por uma acusação até então não comprovada pela investigação policial.

Enfim, por hoje é só. Amanhã teremos uma nova liderança. Bora virar esse jogo, BBB?

Lohan Lage Pignone

Lohan Lage Pignone, 31, é nascido no Rio de Janeiro (RJ) e atualmente reside em Nova Friburgo (RJ). Graduado em Letras (Port./Lit.) pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduado em Roteiro para Cinema e TV, pela UVA. Publicou, em 2011, o livro “Poesia é Isso” (Ed. Multifoco). Assinou o roteiro e dirigiu o documentário em curta-metragem “Terra Nova, Friburgo”. Formou-se em Direção (Cinema) pela AIC.
NAN

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