‘Belfast’ mostra as memórias afetivas de Kenneth Branagh

Nathália Sorrini

Filmes baseados em fatos reais já são um grande sucesso. Mas o que não vemos muito por aí são filmes pessoais. Aqueles que fazem homenagens para pessoas de sua infância e que fala com o expectador de maneira tão íntima. Esse é o caso de Belfast.

Uma mistura de Roma e Jojo Rabbit, Belfast conta a história de uma família simples que mora em uma pequena vila que dá título do filme. Geralmente em filmes assim quem se destaca sempre é o pai que era considerado o chefe da família. Mas o nosso porta voz é o Buddy, o caçula da família que rouba o filme, transmitindo toda a doçura e a força de uma criança.

Kenneth Branagh

A direção de Kenneth Branagh remete a sua infância e fica evidente o cuidado que ele teve de transmitir a Belfast dos anos 60. Porém, com muito respeito e carinho pela vila. Acompanhamos uma década com muita rivalidade, guerras e conflitos religiosos diretos. O filme é tão pessoal que é praticamente um soco no estômago nas partes dos grandes conflitos, até porquê estamos assistindo pela visão de uma criança.

As vezes o filme preto e branco pode causar preguiça ou até incoerência se não for usado para um propósito maior. No entanto, um dos grandes trunfos de Belfast é usar a cor – ou a falta dela – para dizer como uma criança enxerga o mundo. O fato disso é que o filme todo se passa em preto e branco, mas a hora que Buddy assiste a um filme, a tela está colorida. Isso nada mais é que uma criança descobrindo suas paixões e finalmente conseguindo enxergar um mundo com cores, através de uma faísca que se acendeu.

Pode ser que muita gente se incomode pela falta do desenvolvimento de personagens que não consta no roteiro e talvez isso seja totalmente proposital. Porém, a ideia do filme é transmitir todos os sentimentos da criança e como toda criança ela não vai saber de todos os problemas que existem na família. Mas, em quesito geral, existe um leve desenvolvimento da família.

Belfast

Coadjuvantes de luxo

Existem personagens secundários que complementam a trama organicamente. Caitriona Balfe e Jamie Dornan entregam pais preocupados com o futuro da família e tenta de tudo para dar uma vida digna aos filhos. Mesmo com a recusa da mãe em sair de Belfast, o filme dá as todas evidências dos motivos que isso talvez possa acontecer. O pai não é tão presente, pois cumpre o papel do trabalhador da família e fica em segundo plano. Mas existe uma cena em específica que acende a chama de um casal cheio de problemas.

Quem rouba a cena de coadjuvantes são os avós, interpretado por Judi Dench e Ciarán Hinds. Eles trazem toda a bagagem de suas atuações trazendo inspiração e toda aquela memória afetiva dos avós de uma forma singela e introspectiva. Um simples olhar é o suficiente para transmitir todos os sentimentos. É evidente que Branagh inspirou em seus avós e com certeza não existiria uma homenagem melhor que essa.

Um fato curioso é que tanto os pais como os avós não são apresentados pelos nomes próprios. Isso só enfatiza mais que o filme é conduzido apenas pela visão de Buddy.

Belfast é pessoal, íntimo e um tanto limitado, mas não perde sua doçura por ser um filme montado aos olhos de uma criança. Memórias afetivas nos percorrem a vida toda e a visão que Branagh nos traz é que elas sempre estarão conosco. Pode ser um filme simples, mas com uma direção intima, uma trilha condizente e um elenco deslumbrante, capaz de sair de uma simplicidade e se tornar algo gigante.  

Onde assistir ao filme Belfast?

A saber, o filme Belfast estreia nesta quinta-feira (10) exclusivamente nos cinemas brasileiros. Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

Trailer do filme Belfast

Belfast : elenco do filme

Jude Hill
Lewis McAskie
Caitriona Balfe
Jamie Dornan
Judi Dench
Ciarán Hinds

Ficha técnica

Título original do filme:
Direção: Kenneth Branagh
Roteiro: Kenneth Branagh
Duração: 98 minutos
País: Reino Unido
Gênero: drama, biografia, história
Classificação: 14 anos

Nathália Sorrini

Aspirante a cineasta, apaixonada por séries de tv e lufana de coração
NAN