Biografia de autor | João Ubaldo Ribeiro

Vanesca Soares

João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu em Itaparica, na Bahia, em 23 de janeiro de 1941 e faleceu no Rio de Janeiro, em 18 de julho de 2014. Ele foi escritor, jornalista, roteirista e professor, formado em Direito. Também foi membro da Academia Brasileira de Letras (ABI) – onde ocupava a cadeira de número 34 – e ganhador do Prêmio Camões de 2008, maior premiação para autores de língua portuguesa. É autor de romances como Sargento Getúlio, O Sorriso do Lagarto, A Casa dos Budas Ditosos (que causou polêmica e chegou a ser proibido) e Viva o Povo Brasileiro.

Nascido na Bahia na casa do avô materno, quando completou dois meses de idade a família mudou-se para Aracaju, Sergipe, onde passou parte da infância. Seu pai, Manuel Ribeiro, advogado de renome na capital baiana, veio a ser o fundador e diretor do curso de Direito da Universidade Católica de Salvador. Sua mãe Maria Filipa Osório Pimentel deu à luz mais dois filhos: Sônia Maria e Manuel.

Seu pai, por ser professor, não suportava a ideia de ter um filho analfabeto e João iniciou seus estudos com um professor particular, em 1947. Alfabetizado, ingressou no Instituto Ipiranga, em 1948, ano em que leu muitos livros infantis, principalmente a obra de Monteiro Lobato. O pai de João sempre fora exigente, o que fez do garoto se empenhar intensamente nos estudos. Incentivado por ele, leu autores como Padre Antônio Vieira, Padre Manuel Bernardes, Shakespeare, Homero, Miguel de Cervantes, Machado de Assis e José de Alencar, dentre outros, que o influenciaram desde a tenra idade

Em 1951 ingressou no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, em Aracaju. Prestava ao pai, diariamente, contas sobre os textos que havia lido e algumas vezes era obrigado a resumi-los e traduzir alguns de seus trechos. Afirma ter feito essas tarefas com prazer e, nas férias, estudava também o latim. Seu pai era chefe da Polícia Militar, e nessa época, passa a sofrer pressões políticas, o que o faz transferir-se com a família para Salvador. Na capital baiana João Ubaldo é matriculado no Colégio Sofia Costa Pinto. Em 1955 matriculou-se no curso clássico do Colégio da Bahia, conhecido como Colégio Central, onde conheceu seu colega Glauber Rocha. Em 1958 iniciou seu Curso de Direito na Universidade Federal da Bahia. Em 1959, entrou para o curso do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exército, no CPOR da Bahia, mas não chegou a completá-lo: escolhido para compor um grupo de estudantes convidado para uma viagem para os Estados Unidos, na volta ao quartel foi injustamente desligado.
Em 1964, João Ubaldo parte para os Estados Unidos com uma bolsa de estudos concedida pelo governo daquele país para fazer seu mestrado em Ciência Política na Universidade do Sul da Califórnia.
-Joao Ubaldo Ribeiro
Em 1957, João Ubaldo estreou no jornalismo, trabalhando como repórter no Jornal da Bahia, sendo depois transferido para a Tribuna da Bahia, onde chegaria a exercer o posto de editor-chefe. Editou juntamente com Glauber Rocha, revistas e jornais culturais e participou do movimento estudantil (1958). 
João Ubaldo Ribeiro colaborou em O Globo, Frankfurter Rundschau (Alemanha), Jornal da Bahia, Die Zeit (Alemanha), The Times Literary Supplement (Inglaterra), O Jornal (Portugal), Jornal de Letras (Portugal), O Estado de São Paulo, A Tarde e muitos outros nacionais e internacionais.
Seu primeiro casamento foi em 1960 com Maria Beatriz Moreira Caldas, sua colega na Faculdade de Direito. Separaram-se após nove anos de vida conjugal. João passou boa parte de sua vida no exterior, em países como nos Estados Unidos (como estudante e, posteriormente, como professor convidado), em Portugal (editando em parceria com o jornalista Tarso de Castro a revista Careta) e na Alemanha (publicando crônicas semanais para o jornal Frankfurter Rundschau, além de produzir peças para o rádio).
Voltou ao Brasil em 1965 e começou a lecionar Ciências Políticas na Universidade Federal da Bahia. Ali permaneceu por seis anos, mas desistiu da carreira acadêmica e retornou ao jornalismo. Em 1969 casou-se com a historiadora Mônica Maria Roters, com quem teve duas filhas, Emília e Manuela. O casamento acabaria em 1978. Em 1980 casou-se com a psicanalista Berenice Batella, com quem teve dois filhos, Bento e Francisca.
Em 1994 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Participou no mesmo ano da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, recebendo o Prêmio Anna Seghers, concedido somente a escritores alemães e latino-americanos.
Em 1959 participou da antologia Panorama do Conto Baiano, com o conto Lugar e Circunstância; a antologia é publicada pela Imprensa Oficial da Bahia. Nesse período trabalha na Prefeitura de Salvador como office-boy do Gabinete e logo em seguida como redator do Departamento de Turismo. Em 1961, participa da coletânea de contos Reunião, editada pela Universidade Federal da Bahia, com os contos Josefina, Decalião e O Campeão.
Em 1963 escreveu seu primeiro romance, Setembro Não Faz Sentido, com prefácio do colega Glauber Rocha e apadrinhamento de Jorge Amado. O título original seria A Semena da Pátria, mas por sugestão da editora, João alterou o título. A Editora Civilização Brasileira lança, em 1971, o romance Sargento Getúlio, feito que garantiu a João o Prêmio Jabuti de 1972 concedido pela Câmara Brasileira do Livro, na categoria “Revelação de Autor”. Segundo a crítica da época, o livro contém o melhor de Graciliano Ramos e o melhor de Guimarães Rosa.
Sargento-Getúlio
Publicou, em 1974, o livro de contos Vencecavalo e o outro povo, cujo título inicial era A guerra dos Pananaguás, pela Editora Artenova. Com tradução feita pelo próprio autor, vários romances tornaram-se famosos no exterior, entre eles o Sargento Getúlio que, lançado nos Estados Unidos em 1978, ganhou receptividade pela crítica do país. Em 1981 muda-se para Lisboa, Portugal e, voltando ao Brasil, publica Política – livro ainda adotado em faculdades e republicado como Já Podeis da Pátria Filhos . Sua produção jornalística nessa época foi reunida em 1988 no livro Sempre aos Domingos.
Em 1982 inicia o romance Viva o Povo Brasileiro (intitulado primeiramente como Alto lá, meu general). Nesse ano participou do Festival Internacional de Escritores, em Toronto, Canadá. Viva o povo Brasileiro é finalmente editado em 1984, e recebe o Prêmio Jabuti na categoria “Romance” e o Golfinho de Ouro, do Governo do Rio de Janeiro. Ao lado dos escritores Jorge Luis Borges e Gabriel Garcia Marquez, participa de uma série de nove filmes produzidos pela TV estatal canadense sobre a literatura na América Latina.
Em 1983, estreia na literatura infanto-juvenil com o livro Vida e paixão de Pandonar, o cruel. Em 1989 lança o romance O sorriso do lagarto. Sua segunda experiência na literatura infanto-juvenil apresenta-se em 1990 com o livro A Vingança de Charles Tiburone.
Em 1994 lança o livro de crônicas Um brasileiro em Berlim, sobre sua estada na cidade. Publica, em 1997, o romance O feitiço da Ilha do Pavão, pela Editora Nova Fronteira. Fora escolhido, em 1999, um dos escritores em todo mundo para dar um depoimento ao jornal francês Libération sobre o milênio que se aproximava na época.
Em 2000, saíram várias reedições de seus livros na Alemanha, incluindo uma nova edição de bolso de Sargento Getúlio. O sorriso do lagarto foi publicado na França. A casa dos Budas ditosos foi traduzido para o inglês, nos Estados Unidos. Viva o povo brasileiro foi indicado para o exame de Agrégation, um concurso nacional realizado na França para os detentores de diploma de graduação.
Seus principais romances são Sargento Getúlio, Viva o Povo Brasileiro e O Sorriso do Lagarto, no qual expressa com bastante vivacidade e imaginação exuberante aspectos políticos e sociais da vida nordestina e brasileira.
João teve várias de suas obras adaptadas para o cinema e para a televisão, tendo, inclusive, participado no processo de criação delas:
 
Bibliografia: 
Romances
Setembro não tem sentido – 1968
Sargento Getúlio – 1971
Vila Real – 1979
Viva o povo brasileiro – 1984
O sorriso do lagarto – 1989
O feitiço da Ilha do Pavão – 1997
A Casa dos Budas Ditosos – 1999
Miséria e grandeza do amor de Benedita (primeiro livro virtual lançado no Brasil) – 2000
Diário do Farol – 2002
O Albatroz Azul1 – 2009
Contos
Vencecavalo e o outro povo – 1974
Livro de histórias – 1981. Reeditado em 1991, incluindo os contos “Patrocinando a arte” e “O estouro da boiada”, sob o título de Já podeis da pátria filhos
Crônicas
Sempre aos domingos – 1988
Um brasileiro em Berlim – 1995
Arte e ciência de roubar galinhas – 1999
O Conselheiro Come – 2000
A gente se acostuma a tudo – 2006
O Rei da Noite – 2008
Ensaios
Política: quem manda, por que manda, como manda – 1981
Literatura infanto-juvenil
Vida e paixão de Pandonar, o cruel – 1983
A vingança de Charles Tiburone – 1990
Dez bons conselhos de meu pai – 2011
 
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Vanesca Soares

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