‘Black Myth Wukong’ é um dos grandes lançamentos do ano

Felipe de Andrade

‘Black Myth Wukong’ sacudiu o mercado há quatro anos graças ao seu trailer de 13 minutos. Além do furor, causou muito ceticismo por parte da comunidade gamer devido à sua qualidade visual dotada de gráficos incríveis para a época. Finalmente o estúdio chinês Game Science deu a luz ao seu segundo título, transformando uma equipe desconhecida nos responsáveis pelo jogo do Rei Macaco, mais conhecido como Black Myth Wukong, que pode já estar sendo cotado para concorrer ao GOTY deste ano.

Com sua jogabilidade amplamente inspirada nos jogos mais recentes da franquia God of War, da Sony, e com diversos aspectos que vieram diretamente dos jogos da From Software, e, ainda, com vários elementos de RPG, Black Myth pega o melhor de cada estilo para criar um jogo de ação bem cadenciada.

O título também me fez lembrar um pouco o gameplay de outros jogos recentes. Títulos como Stellar Blade  e a Ascensão do Ronin, mais precisamente. Com ambos exigindo um pouco de cérebro durante os combates, ao invés de esmagar os botões de ataque como um louco.

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O hype durante os anos de desenvolvimento foi tão grande que em apenas três dias após seu lançamento para PC e PlayStation 5 (uma versão futura para Xbox ainda é incerta) o game vendeu nada menos que 10 milhões de unidades pelo mundo. Ele ainda foi o responsável por uma nova onda de popularização do PS5 na China. Isso fez com que os estoques do console zerassem em poucos dias em diversos comerciantes oficiais.

O jogo

A descrição oficial resume bem o universo do jogo: Black Myth Wukong é um RPG de ação inspirado na mitologia chinesa. A história se baseia em “A Jornada para o Oeste”, um dos quatro grandes romances clássicos da literatura do país. Você assume o papel do Predestinado e tem a responsabilidade de encarar os desafios e as maravilhas do mundo para desvendar a verdade obscura por trás de uma lenda gloriosa do passado”.

A nível de curiosidade, esta mesma obra serviu de inspiração para a criação do universo de Dragon Ball, pelas mãos do finado mestre Akira Toriyama. Assim como, também já existe um jogo de ação e aventura, chamado Enslaved: Odyssey to the West, da Ninja Theory. Tìtulo este lançado na época do PS3 e Xbox 360 com a mesma fonte de inspiração.

Inspiração

A inspiração em God of War 2018 também é possível de sentir durante os combates e ao administrar os equipamentos e as muitas árvores de habilidades. Até mesmo a forma com que a exploração se desenrola segue o estilo de plano sequência usado na franquia da Sony, com as animações eventos acontecendo com o Predestinado presente na tela o máximo de tempo possível durante os acontecimentos da jornada.

O combate é bem exigente em Black Myth, e ainda conseguimos perceber suas inspirações na maior parte do tempo, principalmente quando se faz necessário observar muito a movimentação dos inimigos para encontrar o melhor momento para atacar.

Posturas

Existem três posturas de bastão diferentes que podemos usar durante as batalhas: a Postura Esmagadora, cujo ataque pesado ajuda a quebrar a defesa e até derrubar inimigos maiores; a Postura do Pilar, onde o ataque pesado permite apoiar se no topo de o bastão evitando o ataque em solo; e a Postura Ofensiva, em que o Predestinado realiza um ataque poderoso em linha reta, segurando em uma das pontas do bastão e mantendo uma boa distância dos inimigos.

Todas elas têm suas próprias listas de habilidades destraváveis utilizando faíscas, que se conquistam ao passar de nível ou realizando alguns objetivos pelos cenários, ou apenas meditando em diversos pontos ao decorrer da aventura.

Jogabilidade

Existem mais algumas árvores baseadas no uso de ganho de Vigor, usado em ações como bater, pular, esquivar, etc; Artes Marciais, que cuida da proficiência do uso do bastão para ataque e defesa; e Sobrevivência, que rege sob o domínio das artes do fortalecimento físico, como melhorar ataque, defesa ou aumentar barras de vida ou mana, e por aí vai. Podemos, inclusive, melhorar as magias de diversas formas ao fazer uso das faíscas tornando-as cada vez mais fortes e úteis durante a campanha.

 Em diversos momentos pode aparecer a necessidade organizar as habilidades do Predestinado para vencer algum boss mais problemático, devido a seus atributos e ponto fracos não estarem de acordo com a build que o jogador estiver usando. Black Myth possui um diferencial neste quesito, pois se houver necessidade basta acessar a opção Reacender Faíscas em um dos Santuários do Guardião espalhados pelas fases, para refazer toda a distribuição de pontos de habilidade de forma que garanta os atributos necessários para a vitória.

Checkpoints

O Santuário do Guardião serve como checkpoints, savepoints, além de pontos de viagem rápida, permite criar armas e armaduras, preparar bebidas e tônicos, comprar e vender itens, desenvolver magias e mais.

O combate em si conta com ataques leves e fortes que geram combinações para causar mais dano aos inimigos ao realizar combos variados. Quando combinados com as habilidades destraváveis e com vários equipamentos diferentes presentes no jogo, como armaduras, bastões e até espíritos de inimigos mortos, a jogabilidade pode variar bastante de acordo com a demanda que a fase ou algum chefe possa exigir.

E falando em espíritos, Sun Wukong permite colecionar e cultivar a alma deles, possibilitando que o Rei Macaco se transforme em diversos de seus inimigos derrotados durante a jornada momentaneamente. Tirando, assim, vantagem de suas habilidades e poderes para conseguir mais variedade de ações durante os combates em seus altos níveis de dificuldade.

Cuidado para não se frustrar

A exploração aqui pode ser um pouco frustrante dependendo da fase pois o jogo tenta simular um mundo semiaberto, com um cenário gigantesco a primeira vista, mas repleto de áreas inacessíveis que possuem centenas de paredes invisíveis bloqueando a passagem aparentemente sem motivos para tal, ao mesmo tempo em que grande parte dos locais disponíveis é simplesmente vazia.

Outros fatores que contribuem para essa dificuldade de localização são: todo o cenário de cada bioma é muito parecido do início ao fim dos capítulos, sem muitos pontos de referência para nos guiar; o jogo não possui nenhum tipo de mapa ou bússola, o que contribui para piorar um pouco a exploração quando somado um level design confuso.

Explore o que puder

Diversos túneis podem ser observados a todo momento para disfarçar carregamentos constantes de áreas, o que é mais perceptível com os glitches na iluminação durante as trocas de cenários, sejam eles abertos ou fechados. Ainda assim, vale a pena explorar cada ponto dos mapas, pois itens valiosos, áreas secretas e NPCs com missões secundárias que contribuem para a campanha, podem e vão estar em locais bem escondidos com boas recompensas para os mais curiosos.

Por mais que pareça ter passado por um downgrade quando comparado com os trailers, o sistema de efeitos especiais, de partículas e de iluminação conseguem fazer com que  o jogo tenha um os melhores visuais já vistos nessa geração atual.

Os gráficos e o som

Gráficos muito realistas, biomas diferentes a cada novo capítulo, animações incríveis dos personagens (em alguns momentos dignas de jogos como Asura’s Wrath e das lutas principais e ataques especiais da franquia Naruto Storm, ambos da japonesa Cyber Connect  2), e a fortíssima retratação da cultura chinesa são exibidos a todo momento na tela para o deleite dos fãs.

O som ambiente é de uma ótima qualidade, digna dos jogos triple A de estúdios conhecidos. As músicas que mesclam a urgência das batalhas contra chefões, ou a calmaria da exploração com típicos tons da música cultural chinesa contribuem muito para a imersão. Este ponto ainda consegue chegar a outro patamar quando jogamos com a dublagem original em chinês.

Toda parte sonora ainda pode ganhar um novo nível de qualidade quando o jogo é aproveitado fazendo uso do fone pulse 3D do PS5, permitindo a localiza de inimigos, cachoeiras e até projéteis mesmo que não estejam na tela, apenas pelo som.

A história

A lore e a história são desenvolvidas através de textos ricos em detalhes para todos os personagens. Não importa se eles são grandes chefões ou um minion qualquer, e até mesmo NPCs encontrados pelos cenários. Como estes textos podem variar de quatro até 10 parágrafos com facilidade, os mais preguiçosos podem deixar passar detalhes cruciais da história dos personagens ou da região. Além de várias curiosidades legais pelo simples fato de não ler os arquivos.

A localização para o nosso idioma é bem competente e poucos erros de tradução foram percebidos durante as minhas horas de teste. Destaque para o capricho com as centenas de versos traduzidos para o PT-BR, de forma que rimassem e ainda fizessem sentido.

Trabalhar em melhorias

Infelizmente nem só de coisa boa vive esta Jornada para o Oeste, e o jogo ainda carece de melhorias por parte do estúdio, que já começou a liberar algumas melhorias através de patches de atualização.

Presenciei problemas de desempenho no PS5, que me forçou a jogar no modo equilibrado ou desempenho, já que no modo qualidade nem mesmo uma TV com a taxa de 120hz ajudou o jogo a rodar  liso e sem travamentos.

Pude observar texturas com baixa resolução, problemas de iluminação e quedas de fps em vários momentos do jogo. Outra coisa que incomoda bastante é o tamanho da fonte das legendas, que dentro dos menus do jogo, com fundo escuro, funcionam bem. Agora, durante os diálogos em meio a ação, acabam sendo pequenas demais para ler com clareza a média distância da TV.

Falta tradução

Ainda com relação aos textos, várias histórias do personagem ainda não possuem tradução para português. Ao invés disso temos uma mensagem dizendo que “A história está sendo traduzida com o máximo cuidado! Tenha um pouco mais de paciência conosco”.

Fica claro que o estúdio precisava de um pouco mais de tempo para que o título recebesse o polimento esperado antes da sua entrega. Ainda assim, nada disso chega a ofuscar o sucesso que o título conquistou.

 Veredito

 O estúdio chinês Game Science cumpriu a promessa e entregou um ótimo jogo de ação. Título este com elementos de RPG, que alcançou incríveis 10 milhões de cópias vendidas apenas três dias.

Black Myth Wukong conta “a Jornada para o Oeste”. Trata-sde de uma obra tradicional da cultura chinesa, através de um título de extrema qualidade. Porém, abaixo de ser perfeito por alguns problemas técnicos que podem e devem ser corrigidos com o tempo. Até porque já confirmaram que a história do Rei Macaco ainda não acabou. Por isso, expansões e uma possível sequência podem dar as caras em algum momento devido ao grande sucesso comercial do título.

Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso que fala sobre Cultura Pop.

Prós

  • Ótimos gráficos
  • Boa jogabilidade
  • Som de qualidade
  • Combate variado
  • Bom design de personagens
  • Batalhas desafiadoras

Contras

  • Problemas de desempenho
  • Level design confuso
  • Dublagem caricata em inglês
  • Centenas de paredes invisíveis

Notas

Gráficos 5
Jogabilidade 4
Áudio 5
História 4
Diversão 4
Nota 4.4

 

Felipe de Andrade

NAN