Black Pantera e a nova ‘Ascensão’ da MPB: Música Pesada Brasileira
Cadu Costa
Quando a primeira faixa de Ascensão, novo disco do Black Pantera começou a tocar, já é possível sentir o amor de cada segundo da experiência. E depois qualquer disco que começar com
“Quero que tudo isso vá pra PQP!” vai ganhar nota máxima em qualquer quesito. Ainda mais se forem três caras pretos cantando crossover trash com toda aquela carga política antirrascista por trás.
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‘Jesus não era branco’
Quando esses mineiros de Uberaba, os irmãos Charles Gama, Chaene da Gama e Rodrigo “Pancho” Augusto, começaram essa jornada do Black Pantera em 2014, talvez não imaginassem o quanto era importante eles não desistirem. Ou melhor, sabiam sim, pois só quem tem uma visão ampla do negócio sabe o que é criar versos como:
“Jesus não era branco
Não era ariano
A vida começou no continente africano
Padrão é o caralho!”
Essa sugestiva segunda música é uma das melhores de Ascensão, mas o álbum é tão maravilhoso que fica realmente difícil escolher uma.
Rage Against The Machine e Djonga
Em “Anti Vida”, aquela esperta crítica ao (des)governo que mata mais que vírus de pandemia e aos seus inacreditáveis apoiadores. “Não adianta passar pano, primo. Os ratos são os primeiros a abandonar o navio. Só não vê quem não quer”.
“Fogo nos Racistas”, por exemplo é o que o Rage Against The Machine faria se falasse português. Talvez influenciados pelo conterrâneo Djonga, o Black Pantera mostra que fogo e racista sempre combinam para aquela verdadeira revolução social dar certo.
Dead Fish e Amazônia
Outro destaque vai para a participação de Rodrigo Lima, do Dead Fish, em “Dia do Fogo”, uma canção sobre um momento-chave na história recente da Amazônia quando produtores rurais da Região Norte do Brasil teriam incendiado áreas da maior floresta tropical do mundo. E com o apoio de você-sabe-quem.
“Quando a última árvore cair e a falta de ar te consumir, me diz. Quando o sol já não brilhar ou quando o céu cair e tudo que restar for a saudade de existir”, cantam eles num hardcore absoluto.
Um dos melhores discos de 2022
E o que dizer do final com “Estandarte” e a parceria com a banda Tuyo? “E se o mundo acabasse nesse instante? Antes que os beats e as batidas cessem, dance / Antes que calem sua voz, questione, cante / Antes que o amor se acabe, beije, cuide, transe / O amor é aquilo que faz. Ele não diferencia os iguais”. Simplesmente maravilhoso!
Ascensão, do Black Pantera, não é somente um puta disco de rock pesado. É um dos melhores discos do ano e onde desafiamos o ouvinte a encontrar uma única música ruim. Político, diz a que veio, sabe onde direcionar sua fúria e traz a sensação de que você não está sozinho e tem onde extravasar. Pesado, brutal e extremamente necessário. Queremos mais, muito mais.
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