‘Boca de Ouro’ | CRÍTICA
Alvaro Tallarico
Boca de Ouro é um clássico de Nelson Rodrigues, e como cinema, de Nelson Pereira dos Santos. Esse aqui lembra Sin City em alguns momentos e tem toda uma atmosfera noir, com investigações e damas fatais. Varia entre o preto e branco e o colorido. Aliás, impossível não elogiar a fotografia excepcional de Felipe Reinheimer, usando bem a paleta de cores. Inclusive, Felipe também arrasou no filme Pureza. A direção de arte como um todo merece elogios, pela caracterização de época e detalhes caprichados.
https://www.youtube.com/watch?v=QHnUG_SIYYo&t=395s
Logo no início do longa-metragem tem um interessante plano longo com o jornalista Caveirinha, feito por Silvio Guindane, sempre atuando bem. Daniel Filho, que também participou do filme antigo Boca de Ouro, é diretor e produtor desse filme atual. Inclusive, procura fazer algumas tomadas diferentes, como por cima de um ventilador, usando closes bem colocados e mantendo com eficiência o clima de suspense.
A saber, Boca de Ouro de 1963 foi o quarto longa-metragem do Nelson Pereira dos Santos, o qual, inclusive recebe uma dedicatória na exibição. O filme de 1962, assim como esse, é uma adaptação da peça do escritor Nelson Rodrigues (1912-1980), mas só estreou em 1963.
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Sinopse
Anos 1960. Boca de Ouro (Marcos Palmeira) é um criminoso que, ainda bebê, foi abandonado pela mãe, a líder de uma quadrilha de tráfico de drogas, no banheiro de uma gafieira. Ao crescer ele manda arrancar todos os seus dentes e colocar no lugar outros feitos de ouro. Além disso, cultiva o sonho de ser enterrado num caixão de ouro. Designado para descobrir a verdadeira história do marginal, o repórter Caveirinha decide entrevistar sua ex-amante, que conta diferentes versões da vida do bicheiro.
Marcos Palmeira, que já viveu o detetive Mandrake em uma série de televisão, fornece veracidade ao cruel – ou galante – bicheiro, Boca de Ouro, o “Drácula de Madureira”. Esse filme é como se fosse vários em um só. Todo o elenco está bem. Luana Comparato como Celeste entrega a ambiguidade necessária e Malu Mader como Guigui não deixa a desejar. Além disso, Fernanda Vasconcellos como Maria Luisa seduz em tom avermelhado e Guilherme Fontes traz momentos cômicos como Agenor.
Enfim, Daniel Filho claramente busca um toque teatral e consegue unir isso ao cinema sem decepcionar. Aliás, em certas situações faz rir, mantém fidelidade ao texto de Nelson Rodrigues, com todas suas tiradas diferenciadas ao redor de um bicheiro permeado por lendas. Em suma, mais um filme nacional de qualidade.
*FILME ASSISTIDO NO FESTIVAL DO RIO 2019.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Euclydes Marinho
Elenco:Marcos Palmeira, Lorena Comparato, Malu Mader
Distribuição: Imagem Filmes
País: Brasil
Gênero: Suspense
Ano de produção: 2019
Duração: 93min