‘Bojack Horseman’ (6ª Temporada – Parte 1) – Netflix | CRÍTICA
Pedro Marco
Com o passar do tempo, cada vez mais as animações são reconhecidas, de fato, como um meio de contar histórias para o público adulto. Talvez, este mérito se deva aos grandes sucessos de animações asiáticas como Akira e Ghost in the Shell, e até séries como Death Note. No ocidente, por exemplo, a disseminação partiu desde a Revista MAD até a louca cabeça de Matt Groening e seus polêmicos Simpsons, Futurama e Uma Família da Pesada. Curiosamente, esta nova onda está tomando ares niilistas com uma comédia mais pessimista dentro das animações adultas. Deixando Rick and Morty para outra hora, a bola da vez é a série original da Netflix, Bojack Horseman, em sua primeira parte da última temporada.
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A trama
Seis anos foram passados com o famoso cavalo de Horsin Around. Lançada em 2014, a série acompanha Bojack (Will Arnett), um ator decadente de uma sitcom dos anos 90, tocando sua vida de meia idade nas ruas de sonhos e desesperos de Hollywood. Aliás, já ia me esquecendo um pequeno detalhe… Ele é um cavalo.
Em uma mistura espiritual de Two and a Half Men e Ted, neste universo animado bidimensional, humanos e animais metamorfizados convivem em perfeita harmonia, retratando a selvageria do mundo corporativo. Junto com Bojack, temos seu melhor amigo Todd (dublado pelo nosso eterno Jesse Pinkman, Aaron Paul); Diane, que é introduzida como a ghost writer de sua biografia; Princess Carolyn, sua agente e ex-namorada e mais uma enorme gama de personagens de carisma extremamente memoráveis, que ocasionam um grande fandom de quem acompanhou estas seis temporadas.
Discussões e críticas sociais
Apesar de ser uma grande comédia, Bojack Horseman consegue entreter em vários níveis de camadas para todo gosto. De forma mais superficial, a série pode ser vista como uma sitcom recheada de referências para todas as tribos e idades. Indo desde momentos específicos de política americana, até Stranger Things e Kayne West, o seriado brinca com um roteiro tão imersivo no mundo da fama que seria impossível uma pessoa captar todos os easter eggs ou nenhum. Indo mais ao fundo, o desenho investe em situações de pessimismo e decepções, que podem beirar o depressivo em alguns momentos, mas consegue, ao fim, manter um equilíbrio admirável com seu alívio cômico.
No entanto, o que faz este programa ser a série definitiva desta geração, certamente, são as discussões e críticas sociais. Ao longo de seus episódios, o seriado trata de racismo (espelhada nas relações entre os animais), feminismo, aborto, questões armamentistas, política mundial, idolatria, abuso sexual, exploração infantil, consumo excessivo de drogas, alienação e tantos outros que poderiam ser citados à exaustão.
Admiravelmente, Bojack Horseman mostra uma enorme maturidade ao mostrar o homossexualismo como algo comum e cotidiano, sem panfletagem; desmistifica o glamour hollywoodiano das estrelas e de como chegar lá; e ainda consegue ser uma comédia excelente que investe desde o humor mais sutil e sarcástico, até trocadilhos linguísticos e piadas feitas para serem ruins, bem como gerarem situações desconcertantes.
Celeiro experimental
Em um ponto mais profundo de uma análise mais técnica da série, seu grande celeiro experimental mostra-se o trunfo de sua originalidade. Nestes seis anos tivemos: um episódio completamente sem diálogo; uma experiência audiovisual psicodélica; um episódio com cenas picadas e desconexas sem perder a coesão coerência e entendimento; dois episódios onde flashbacks e presente se mesclavam para contar duas histórias ao mesmo tempo; narrações em off; e quando as ideias pareciam esgotadas, a última temporada ainda nos traz um time lapse dissuasivo para retratar a exaustão de uma mãe solteira empregada.
Temas pesados, mas com humor
Nesta temporada dividida em duas partes, seguindo a onda de Harry Potter, Jogos Vorazes e Vingadores, iniciamos com Bojack na missão de ficar finalmente sóbrio em uma clínica de reabilitação. Nos outros focos, temos o dilema de Mr. Peanutbutter em face de contar sobre seu adultério, Princesa Carolyn prestes a se tornar uma nova mãe, assim como Diane procurando um novo sentido para sua vida.
Apesar dos temas pesados e polêmicos, esta (meia) sexta temporada consegue manter o bom humor e garantir boas risadas.
Ironizando os grandes conglomerados corporativos e até mesmo a passante cultura de filmes de super heróis e sua necessidade “lacradora”, a temporada mais extensa ganha com episódios focados em personagens específicos e maior espaço para coadjuvantes. Aliás, por falar nisso, o último ano mira o tocante de dar voz a assistentes e estagiários, recaídas após terapias e até mesmo a glamourização da depressão nos holofotes.
Ansiedade pelo que há por vir
Enfim, encerrando a saga de Bojack com grandes flashbacks, homenagens e o retorno de vários personagens, a série tenta investigar a origem de todos seus maiores problemas ao conseguir desenvolver, pela primeira vez, o protagonista sóbrio. Fora das drogas ilícitas, este final opta por se focar em alcoolismo e tocar assuntos delicados como o consolo na religião após encontrar-se completamente perdido. Por mais que risos e abraços estejam cada vez mais constantes nos episódios, os fãs calejados aguardam com pesar em ver tudo isto desmoronar quando o seriado retornar no final de janeiro.
Apesar do quarto e quinto ano terem apresentado um final satisfatório, esta parte 1 encerra literalmente no meio de uma frase. Roendo as patas e ferraduras para ver os episódios finais, podemos nos agraciar com as piadas, referências, participações especiais, bem como os grandes socos no estômago que Bojack Horseman dá em seus momentos mais sérios, ou mesmo escondidos em seu humor.
Então, para não perder os comentários sobre a conclusão de Bojack Horseman, não deixe de nos seguir, curtir e compartilhar.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Bojack Horseman
Temporada: 6
Número de episódios: 8
Criador: Raphael Bob-Waksberg
Elenco: Will Arnett, Aaron Paul, Amy Sedaris
Distribuição: Netflix
Data de estreia: Sex, 31/05/19
Gênero: Animação
Ano de produção: 2019
Classificação: 16 anos