BÔNUS | A Dama e o Vagabundo e Akira
Alvaro Tallarico
A Dama e o Vagabundo teve seu trailer (logo abaixo) recém-lançado, durante a D23 Expo Disney. Logicamente, vimos um grande compartilhamento nas redes sociais. A nostalgia vende. Falei um pouco sobre isso na última coluna Precisamos de um novo Matrix?.
Como resultado, as respostas foram variadas. Alguns vieram dizer que sim, sem dúvida alguma, até por tantos filmes ruins que existem. Em compensação, também ouvi que deveriam fazer um por ano, até que isso nos fizesse esquecer completamente o original.
Agora vamos mexer em uma história presente em nosso imaginário desde 1955. Sendo que existe uma outra e relevante questão sobre A Dama e o Vagabundo: o filme é um dos mais maduros da Disney.
Veja só, uma garota rica e protegida se apaixona por um rapaz pobre, um cara das ruas. Este acaba por levá-la para conhecer um mundo grande, real e perigoso. A menina passa uma noite na cadeia onde aprende sobre os horrores da pena de morte. Ainda por cima fica arrasada quando descobre que está grávida.
O rapaz retorna para fazer as pazes e acaba falsamente acusado de um crime. Vai para a cadeia para ser executado. Porém, uma emocionante e angustiante operação de resgate pode salvar sua vida e reunir novamente o casal.
Se ligou? O enredo de A Dama e o Vagabundo vale para muitos dramas sobre amor e divisões de classe.
A DAMA E O VAGABUNDO FALA SOBRE CLASSES
Entretanto, A Dama e o Vagabundo é mais uma refilmagem. A Disney hoje tem a Marvel, a Pixar, Star Wars. Mas vem aí outro remake de um desenho clássico. Definitivamente, é falta de novas ideias, né? Mas, calma, vamos dar uma chance, afinal, A Dama e o Vagabundo é uma das melhores animações da Walt Disney.
É uma das minhas favoritas desde garoto. De certo modo é um raro filme da Disney que parece focar mais na realidade do que na fantasia. Ué, mas são cachorros falantes! Sim, tudo acontece em um mundo imaginário de cães falantes, no entanto há mais por trás.
Em cima disso, as classes são bem definidas, a cocker spaniel Dama, o terrier escocês Joca e o bloodhound Trusty são a classe alta do filme, animais de estimação de donos ricos. Estes vivem em um cenário todo arrumadinho, onde há uma tampa em cada lata de lixo, uma cerca ao redor de cada árvore e uma coleira para cada cão. Todavia, do outro lado, temos o divertido vira-lata Vagabundo, um falastrão sem-teto da classe baixa. Em volta dele, outro cenário, onde impera a desigualdade, mas com independência e a ameaça constante de ser caçado e preso.
Ademais, diferente de outros filmes que lidam com essa questão alegando que a liberdade da classe baixa é melhor que a rigidez da alta, A Dama e o Vagabundo cria empatia pelos cães de ambos os lados.
AMADURECIMENTO DA DAMA
Ao mesmo tempo, o filme é ousado em seu reconhecimento dos privilégios ligados ao dinheiro e ao status. Um cruel caçador de cães carrega Dama para fora da “cadeia” dizendo que ela seria legal demais para aquele lugar enquanto a leva de volta para seus donos. Enquanto isso, os cães pobres continuam trancafiados, com medo de atravessarem a porta de onde nenhum cão retorna.
Sim, traz uma reflexão, de forma sutil, sobre como a lei e as classes se relacionam. Parece atual? A pesarosa canção dos cães presos ainda é um dos momentos mais comoventes da história da Disney.
A saber, nem tudo é perfeito, o filme busca mostrar uma América cheia de novos imigrantes, com os chihuahuas mexicanos, wolfhounds russos, buldogues ingleses e gatos siameses vindos de seus respectivos países, contudo os estereótipos são exagerados.
Acima de tudo, a história é sobre o amadurecimento da Dama. Nossa heroína começa como um filhote de cachorro em um natal e termina como mãe no outro. Nesse ínterim, lida com as agruras e desventuras necessárias para o crescimento e percebe que o mundo é bem maior que seu bairro e existem injustiças.
Leia mais:
– PRECISAMOS DE UM NOVO MATRIX?
– MOSTRA DE ANIME NO CCBB
– D23 EXPO| AS NOVIDADES DA DISNEY
Além disso, com sensibilidade extrema, o filme mostra a atmosfera de uma paixão se iniciando. É onde entra uma das cenas mais icônicas do cinema. Quando a Dama e o Vagabundo dividem um prato de espaguete. O macarrão nunca havia sido tão romântico antes. Outro dia, em um programa de TV aberta de namoros a prova era essa, cada um pegava um pedaço e espaguete e… aí está a influência do filme perdurando e ultrapassando fronteiras.
No geral, A Dama e o Vagabundo é melhor em fornecer reflexões do que em oferecer respostas simplórias.
Que venha o live-action.
MOSTRA DE ANIME NO CCBB TRAZ AKIRA
Falando em clássicos e saindo de uma ponta para outra do mundo, essa semana passei pela Mostra de Anime do CCBB e revi um grande sucesso. Akira, o qual se passa no ano de 2019 após uma terceira guerra mundial, na cidade de Neo-Tóquio.
Akira é uma mistura de apocalipse com amizade, espiritualidade, ciência e luta política. Nem preciso citar a palavra filosofia, certo?
Experiências com crianças, a luta por poder, as opiniões divergente entre políticos, cientistas e militares.
Katsuhiro Omoto é um artista, escritor de mangá. Akira foi uma longa série que começou em 1982 e continuou por oito anos. Surpreendentemente, Otomo tirou uma folga dos quadrinhos de 1986 a 1988 para escrever, dirigir, supervisionar e projetar a versão cinematográfica.
Mais notável ainda é a cidade futura de Otomo, um cenário rico em detalhes, desde os enormes edifícios até os pormenores de veículos e uniformes policiais.
https://www.youtube.com/watch?v=OLFZQhVOgYc
Como resultado do roteiro denso e mirabolante, o filme é de explodir a cabeça e contém cenas meio David Cronenberg, bizarras e assustadoras. Vemos momentos realmente aterrorizantes em uma atmosfera envolvente e deveras difícil de entender. Claro, a obra em quadrinhos é bem grande e foi compilada em um único filme.
Juntamente com cenas espetaculares de perseguição e ação.
Ocidente e oriente. Tão diferentes culturas. Absorver o melhor de cada uma delas pode nos fazer melhores seres humanos?
Certamente, Akira é um marco da história do cinema e fez com que os animes fossem muito mais respeitados mundialmente. Vale a pena.