Angola Janga é um romance gráfico bem acabado de muita qualidade

BÔNUS | Angola Janga, aventura de Zumbi dos Palmares

Alvaro Tallarico

Os perseguidos fogem, se organizam e lutam por suas vidas e pela liberdade. Já ouviu falar no Quilombo dos Palmares? Ou Zumbi dos Palmares? Angola Janga é um romance gráfico feito por Marcelo D’Salete. Esse homem, professor, historiador, ilustrador, é o responsável por essa história após 11 anos de pesquisas.

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É interessante acompanhar esse resgate histórico através de 432 páginas com muita ação. Angola Janga significa “pequena Angola”, mais conhecida como Palmares. Aliás, a capital de Angola Janga, Macaco, chegou a ter uma população tão grande quanto de outras grandes cidades brasileiras na época. Vemos Zumbi, um ser humano que virou lenda e acabou inspirando a criação do Dia da Consciência Negra.

O SER HUMANO ZUMBI DOS PALMARES

Nesse romance gráfico, o ser humano Zumbi (1655-1695) não é um mito, mas alguém com suas falhas e personalidade próprias, assim como Ganga Zumba (1630-1678). Líderes com ideais distintos, mas um objetivo em comum: proteger seu povo. O estilo da arte me lembrou um pouco Frank Miller. Bons jogos de sombras, um clima de suspense, uma partida de xadrez com muitos personagens defendendo seus próprios pontos de vista. A crueldade humana se faz presente, assim como algumas nuances de religiosidade e diversidade de fés, de Cristo a Ananse Ntontan (a teia da aranha, símbolo Adinkra de origem Asante, de Gana) passando por Anguêri (entidade de origem guarani).

Angola Janga por Marcelo D’Salete

LEITURA INSTIGANTE

A leitura é daquelas que não dá vontade de parar, mas, ao mesmo tempo, pede algumas pausas. O romance é longo, atrativo, com muitas cenas requisitando momentos de reflexão. Adquiri um exemplar de Angola Janga na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), neste ano de 2019. Presenciei uma mesa de conversas em uma das casas da festa, onde pude ver e ouvir Marcelo D’Salete falar sobre o trabalho que teve, como o fato de ter feito pesquisa iconográfica de retratos feitos por Albert Eckhout (1610-1665) e Frans Post (1612-1680), os quais passaram pela região no século XVII. Marcelo falou um pouco sobre a dificuldade de ser quadrinista no Brasil, como é uma arte subestimada e pouco valorizada. Contudo, maravilhosa, única e abrangente.

O mês de novembro está próximo, com o Dia da Consciência Negra e o lançamento do filme ‘Fogo contra Fogo‘, contando uma história real no cenário sul-africano do apartheid. Sendo assim, a  leitura de Angola Janga é mais do que recomendada. Afinal, a graphic novel possui um misto de história, ação, resistência, brasilidade e mitologia. Relevante ao extremo para compreendermos melhor como esse Brasil foi construído e revisar um pouco de História através de outro olhar.

BÔNUS: DOIS FILMES NACIONAIS PERDEM APOIO DA ANCINE

Enquanto louvo essa obra de literatura gráfica, notícias tristes contra a cultura diversa e representativa pipocam. Saiu na Coluna do Lauro Jardim, no jornal O Globo, que dois filmes nacionais já prontos para participar do Festival Internacional de Cinema Queer, em Lisboa, perderam o apoio financeiro que teriam da Ancine. “Greta” e “Negrum3”, receberiam uma ajuda de custo de R$ 4,6 mil cada um para participar do evento.

Mais do que nunca é hora de prestigiar obras como Angola Janga.

Toda semana tem coluna BÔNUS aqui no melhor portal de cultura dos multiversos: o BLAH!ZINGA!
 

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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