BÔNUS | Luca Argel sem fronteiras e o Projeta Brasil
Alvaro Tallarico
“Em homenagem ao falecido Ciências sem Fronteiras, criamos o Samba sem Fronteiras“, me falou. Faz pouco tempo, tive a oportunidade de conhecer um sambista brasileiro que vive em Portugal, mais precisamente na cidade do Porto. Luca Argel foi para estudar, em 2012, em meio a crise. Era professor de música no Brasil, e, após algum tempo, acabou formando alguns grupos no Porto, foi compondo e assim seguiu sobrevivendo. Está no seu terceiro disco, o “Conversa de Fila”, um mergulho, um aprofundamento na linguagem do samba, segundo ele mesmo comentou comigo. Conversei com ele após sua participação no show do Pedro Luís, realizado no Clube Manouche.
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Inclusive, o brasileiro radicado no Porto, tem CD, mas tem também vinil. Visando agradar o pessoal que tem aquele gosto pela materialidade, Luca fez um esforço para editar esse álbum em vinil. Atualmente, sua canção de maior sucesso é “Anos doze“. Enfim, conectei essa música com Noel Rosa, pois lembrei desse gênio do samba assim que escutei. “Era um grande cronista, escrevia crônicas em forma de samba. Noel Rosa falava das coisas do tempo dele, falo das coisas do meu tempo”, disse Luca.
Contudo, a inspiração para escrever esse samba de breque veio de outro músico. “Tem uma inspiração muito grande na doze anos, música do Chico Buarque com Moreira da Silva na Ópera do Malandro. Chico fala de uma infância de vida correndo na rua, pulando muro, subindo em árvore, olhando mulher pelada pela fechadura, trocando figurinha. Uma infância bem diferente da que eu tive, que muitos amigos meus tiveram. Viveram e cresceram em prédio e não tinham essa liberdade toda. Resolvi contar sobre outro tipo de infância e as pessoas se identificam”, explicou Luca Argel.
Trecho de Anos Doze
Como eu sinto saudade quando me recordo
Daquele nosso tempo
Em que passávamos as tardes assoprando cartucho
De Super-NintendoSendo piloto da NASA ou agente da CIA
Eu perdia horas
Ficava dentro de casa enquanto fazia
Um belo dia lá foraE a minha mãe ainda chora
Quando lembra certos nomes
Como Zelda, Donkey Kong, Shoriuken e Fatality
Sobretudo, “Conversa de Fila” é um álbum gostoso de se ouvir, a canção que dá título ao disco fala sobre algo já vivido por todos nós. “Natal, Natal” faz sentir o calor do Rio de Janeiro, enquanto “Vila Kosmos” nos transporta de Campo Grande para Netuno ou Saturno. Tem música com cara de marchinha de carnaval como “Rato! Rato! Rato!”, e, mais, “Não Digo”, ouça e deixe aqui sua opinião.
peito banguela, saudade
Mas será que o peito de Luca ficou banguela fora do Brasil? “Peito banguela é uma frase do Aldir Blanc, é super Brasil, até porque lá eles não falam banguela, não tem essa palavra, descobri por causa dessa música. Sinto falta dos amigos, de algo muito particular, do ponto de vista de compositor, que são as referências culturais, algumas palavras. Por mais que a gente divida a língua, o idioma, tem certas coisas que são referências locais que eles não tem. Palavras que a gente usa aqui que não usam lá, programas de TV, músicas, artistas, personagens, ruas, bairros, que só quem é daqui reconhece essas referências. Quando estou escrevendo alguma coisa e quero usar uma referência tenho que ter muito cuidado para não excluí-los, mas, ao mesmo tempo, não perder, o que é, no fundo, o diferencial de brasileiro fora do Brasil, que é ser brasileiro, né?”.
Em suma, sempre faz refletir ver um brasileiro sobreviver a partir da arte em outro país. Afinal, exportar nossa cultura é espalhar um pouco do melhor do Brasil e, indubitavelmente, samba é uma das nossas maiores e mais belas marcas. “Arte é liberdade. Não existe sem liberdade e é uma consequência dela. O criar arte é um ato de liberdade, e é uma liberdade muito especial porque pode ser compartilhada, tanto por quem faz, quanto por quem aprecia e ouve. É uma espécie de liberdade usufruída em conjunto”, comentou Luca Argel. Sendo assim, que possamos sempre usufruir da arte livre, seja no Brasil, em Portugal, China, ou em qualquer lugar.
BÔNUS – 20º Projeta Brasil Cinemark
A saber, em tempos de redação do ENEM sobre a democratização do cinema no Brasil, chega em boa hora o Projeta Brasil Cinemark comemorando 20 anos. Assim, serão dois dias de exibição. Primeiramente, o dia 12 de novembro, terça-feira, será inteiro dedicado ao cinema nacional, com ingressos a 4 reais. Ademais, haverá lançamentos e clássicos do cinema nacional como Carlota Joaquina, Minha Mãe é Uma Peça, Se Eu Fosse Você, Nosso Lar e Divã. Além disso, tem o Projeta Brasil Nova Geração, com programação cinematográfica infantil. Aliás, os filmes para crianças e adolescentes serão exibidos no sábado pela manhã, dia 16 de novembro, com ingressos a 4 reais também.
Confira a lista de filmes que serão exibidos na terça-feira, 12 de novembro:
A História de Um Sonho – Todas as Casas do Timão
A Mata Negra
A Mulher do Meu Marido
A Pedra da Serpente
A Quarta Parede
Alaska
Alma Imoral
Bacurau
Chorar de Rir
Cine Holliudy 2: A Chibata Sideral
De Pernas Pro Ar 3
Diários de Classe
Divaldo – O Mensageiro da Paz
Eu Sou Brasileiro
Eu Sou Mais Eu
Exterminadores do Além: Contra a Loira do Banheiro
Histórias Estranhas
Intimidade Entre Estranhos
Kardec
Marés
Minha Fama de Mau
Minha Vida em Marte
Mussum, Um Filme do Cacildis
Nada a Perder 2
O Amor Dá Trabalho
O Fantástico Patinho Feio
O Filho do Homem
O Galã
O Grande Circo Místico
O Segredo de Davi
Onde a Moeda Cai em Pé – A História do SPFC
Paisagem: Um olhar sobre Roberto Burle Marx
Sai de Baixo – O Filme
Santos de Todos os Gols
Simonal
Socorro! Virei Uma Garota
Tito e Os Pássaros
Ultraje
Vai Que Cola – O Começo
Hebe – A Estrela do Brasil
Ela Disse, Ele Disse
Morto Não Fala
Maria do Caritó
Rasga Coração
Projeta Brasil Nova Geração, 16 de novembro, sábado:
Cinderela Pop
Detetives do Prédio Azul: O Mistério Italiano
Turma da Mônica – Laços (olha aí um vídeo do BLAHZINGA sobre esse ótimo filme)
*A coluna BÔNUS sai toda quarta-feira no BLAHZINGA. Escrita pelo jornalista Alvaro Tallarico, vulgo @viventeandante 🙂