Bush esquece a tristeza do post-grunge e tenta cantar o otimismo em novo álbum
Marcelo Fernandes
O Bush, para muitos, foi o destaque da safra post-grunge da segunda metade dos anos 90, formado por bandas que tentavam emular o “Som de Seattle”, muitas vezes com uma atuação aquém dos seus inspiradores. No caso da banda inglesa, a voz semelhante à de Eddie Vedder, do Pearl Jam, de Gavin Rossdale; assim como composições cheias de power chords distorcidos, contribuíram bastante para as comparações.
Em seu novo álbum, The Art of Survival, o Bush não tenta dar um passo maior que a perna e mantém o básico do seu rock. Pausa e fúria, refrões seguidos de bends e composições sem muita ousadia na forma. A diferença está um pouco nas letras. Ao invés de versos tristes emulando o grunge de hits antigos, como “Swallowed” e “Machinehead”, Rossdale canta um rock de autoajuda que pretende elevar a moral dos ouvintes, indo para um lado mais Foo Fighters e menos “grunge raiz” em sua mensagem.
Nesses termos, o destaque do álbum vai para o single de trabalho, “More Than Machines”, de longe a mais pegajosa e bem trabalhada do disco. Na música em questão, a banda se mostra mais competente no uso de suas armas de estúdio, os já citados bends e os efeitos de ganho, sendo a distorção o mais perceptível.
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Presente repete o passado
O Bush sabe onde joga melhor, e repete sua fórmula em quase todo o disco The Art of Survival, que poderia ser um EP. Uma dessas é “Shark Bite”, que lembra bastante os antigos sucessos, e pode ser uma boa pedida quando quiserem criar uma rodinha nas apresentações, com um pré-refrão e refrão feitos num crescendo onde Rossdale canta que “eles são os esquisitos”.
O pedal de distorção é desligado em “Creatures of the Fire”, que, aparentemente, alguém esqueceu de editar, com 4:37 que parecem nunca acabar. Mas a densa “1000 Years” também tem o seu lugar, em uma letra que deixa um pouco de lado o otimismo que o cantor e líder revelou nortear o álbum. Talvez se tentasse algo mais nessa linha, deixando manias antigas no passado, o Bush poderia se aproximar da reinvenção e se afastar da repetição.
Um pouco esquecível, o disco irá contribuir com algumas faixas que irão preencher os shows do Bush entre os antigos hits. Com timbres de guitarra semelhantes demais entre as faixas, muitas vezes a impressão é estar ouvindo apenas uma versão diferente da música anterior. Recomendado para fãs ardorosos.
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