‘Casa de Antiguidades’ é assustadoramente atual
Wilson Spiler
O filme Casa de Antiguidades, de João Paulo Miranda Maria, que estreia nos cinemas no próximo dia 21 de julho, foi único latino a receber o selo da seleção oficial de Cannes 2020 – que mesmo não acontecendo, por conta da pandemia, divulgou a lista das obras que estariam em competição oficial.
Protagonizado pelo grande Antonio Pitanga, o longa conta a história de Cristovam, um “caipira” do interior do Brasil que busca em outras terras melhores condições de trabalho. Mas, o contraste cultural e étnico da nova morada em relação à sua terra natal provoca no vaqueiro um processo de solidão e perda de identidade.
Enquanto isso, boatos e maldades dos habitantes locais o levam ao desespero e a decisões equivocadas, fazendo-o perder a razão e a lucidez. Sem saída, ele passa a reviver o passado para suportar o presente.
Leia também:
15 anos de ‘Ordem da Fênix’, o filme mais político da franquia ‘Harry Potter’
Tudo é ruim em ‘Se Sabem Como Eu Sou, Por Que Me Convidam? 2’
Carregado na nostalgia, ‘Live is Life’ diverte e emociona
Brasil 2020, 2021, 2022…
Casa de Antiguidades dialoga perfeitamente com o período em que vivemos no Brasil. Uma época em que a intolerância, o racismo, a xenofobia e o culto à violência, assim como às armas, tem crescido graças à ascensão da extrema-direita que tem o presidente da República como seu maior representante.
Os planos de João Paulo Miranda Maria quase sempre fechados – principalmente dentro da casa do protagonista tendem a dar uma sensação de insegurança. O cineasta usa a câmera e a trilha sonora com muita habilidade, transformando o que é um drama, teoricamente, em quase um filme de terror.
Elementos simbólicos
O uso de elementos como a profissão de vaqueiro, o gado, berrante e até derramamento de leite remetem diretamente à triste situação do Brasil atual. Além disso, integrantes de grupos violentos com a mesma cor de camisa, que embora seja azul, é uma clara referência aos uniformes da CBF vestidos por bolsonaristas. Atente-se aos diálogos, às entrelinhas. Está tudo lá. Estruturalmente. Inclusive os discursos separatistas, neonazistas, do nós contra eles, contra minorias, ideais neoliberalistas e ode a culturas norte-americanas e europeias permeiam a obra de Miranda.
Pitanga, por sua vez, como um homem sem rumo, transfigura a imagem de um ser humano derrotado, vencido pelo cansaço e pelo ódio. Uma atuação brilhante em um filme igualmente excepcional. Casa de Antiguidades é lento, é pesado, é denso, é profundo. Certamente, é uma verdadeira obra-prima de um país completamente exaurido.
Onde assistir Casa de Antiguidades?
A saber, Casa de Antiguidades estreia nesta quinta-feira, 21 de julho de 2022, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
Aliás, está de olho em algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.
Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso:
Trailer do filme Casa de Antiguidades
Casa de Antiguidades: elenco do filme
Antonio Pitanga
Sam Louwyck
Ana Flávia Cavalcanti
Aline Marta Maia
Gilda Nomacce
Ficha Técnica: filme Casa de Antiguidades
Título original do filme: Si Saben Cómo Me Pongo ¿Pa’ Qué Me Invitan? 2
Direção: João Paulo Miranda Maria
Roteiro: João Paulo Miranda Maria e Felipe Sholl
Duração: 87 minutos
País: Brasil e França
Gênero: drama
Ano: 2020
Classificação: 16 anos