O ‘erro’ de nascer mulher
Taynna Gripp
Em carta aberta publicada na tarde de sábado (25), a atriz Klara Castanho veio a público revelar que teve uma gestação e o bebê, fruto de um estupro, foi entregue para adoção. Durante o fim de semana vários programas noticiaram e repercutiram o fato, a atriz recebeu apoio de grandes nomes da indústria televisiva e caminharemos para que em breve, tudo isso seja notícia passada.
Mas esse não é mais um texto para falar sobre Klara. Ou sobre a criança entregue. Ou tampouco sobre os abutres que expuseram uma mulher em uma situação de completa vulnerabilidade. Não é sequer sobre a estatística absurda de que uma mulher foi estuprada, em média, a cada dez minutos no Brasil em 2021, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Esse é um texto sobre como a dor da humanidade às vezes nos dilacera e nos deixa sem palavras, sobrando apenas aquele grito gutural quase animalesco que a gente tem em situações assim.
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Ser mulher
E é difícil não sucumbir quando tudo que basta para ser notícia é ser mulher. Klara Castanho não interrompeu a gravidez, mesmo ela tendo acontecido de um ato tão inescrupuloso. A força que essa mulher de 21 anos teve eu posso afirmar que muitos não teriam. Mas à ela não cabe nenhum acerto, porque longe de ser alguém passível de compreensão, a atriz cometeu o grande erro de nascer mulher em uma sociedade patriarcal que mata mulheres e idolatra homens.
Quando escolhe o aborto, é assassina; mas se escolhe a doação legalizada, é desumana; quando escolhe não ter filhos, é egoísta. A nós, mulheres, a única escolha aceitável é o silêncio, a consternação.
Queria ter palavras suficientes para consolar Klara ou qualquer mulher que já tenha vivenciado o horror de ser invadida desse modo, mas me faltam. A mim basta a dor do universo, a dor comum que nos deixa mais desacreditados da humanidade. Afinal, se nem mesmo a empatia consegue nos humanizar, será que existe algo que consiga?
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