‘Casulo’: mais um filme coming of age, só que bom
Ana Rita
A adolescência é um momento muito importante em nossas vidas. Na maioria das vezes, é a época das nossas vidas que nos molda para o mundo, ou pelo menos só nos prepara para parte do que enfrentaremos dele. Muitos diretores aproveitam esse estágio de amadurecimento para nos contar boas histórias, sejam emocionantes ou apenas de aventuras.
Facilmente se associa a adolescência a rebeldia, mas também a liberdade, de modo positivo ou não. Entrar ou sair da adolescência é uma forma de sair do casulo, e como uma borboleta, voar pelo mundo. Por mais comum que essa analogia seja, é de onde a diretora alemã Leonie Krippendorff se baseia em seu filme Casulo (Kokon), um drama LGBTQIA+ de coming of age, tratando de descobrimento, autoconhecimento e amadurecimento.
Em Casulo, Nora (Lena Urzendowsky) é uma menina que mora com a mãe e a irmã um pouco mais velha. Mais silenciosa e observadora, ao contrário da irmã popular, Nora está se conhecendo e se entendendo, iniciando sua adolescência e conhecendo seus dramas.
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Família, amigos e infância
Todos temos problemas e em todas as fases da vida. Mas parece que adolescência esses problemas e irritações se tornam mais intensos. Penso que talvez seja porque estamos conhecendo o mundo de forma mais cruel e que precisaremos começar a enfrentá-lo. Ou podem ser só os hormônios mesmo.
Nora está se tornando uma ‘ex-criança’, se pode assim se dizer. É uma menina mais nerd e geek. Seu contato para esse novo mundo se torna precoce devido a sua irmã, que sendo popular, está sempre em festas e ‘reuniões’ com os amigos. Neste meio, drogas são inseridas, o interesse e a pressão pelo início da vida sexual também. Padrões são mais estabelecidos, seja pela sociedade ou apenas perpetuados pelos adolescentes, que zombam de outros alunos.
A mãe de Nora tem problemas com bebida e não é tão presente, o que faz a personagem sempre recorrer à irmã, mesmo que essa também esteja lidando com os dramas da adolescência.
Durante uma brincadeira, Nora quebra o braço e isso a impede de participar da viagem da escola. Por isso, terá que passar duas semanas na turma de sua irmã. Esse fato intensifica o contato da jovem com sua nova etapa da vida humana, se aproxima e se distancia da irmã. Entra em uma etapa de descobertas e questionamentos.
Pré-adolescência e seus dramas
Pensando de forma biológica, para muitas meninas, uma das maiores mudanças e indicações dessa adolescência é a menstruação, muito por um tabu, mas também pelas mudanças fisiológicas a partir disso. Diversos historiadores discutem quando esse tabu sobre a menstruação teve início. Mas é fato: mulheres menstruam, não há mistério nisso nem medo. Para uma adolescente, é o fim de um ciclo e o início de uma nova era. É também um dos pontos que marcam as mudanças para Nora, que tornando tudo constrangedor, menstrua durante a aula de Educação Física, se suja e todos os alunos veem.
Nenhuma dessas mudanças foi explicada para Nora. Ela não recebeu apoio ou ajuda da mãe e irmã. A menina é criada solta, mesmo com sua família. Está só. Isso se evidencia com Nora pesquisando sobre absorventes na internet e aprendendo a usá-los em vídeos no YouTube.
O filme Casulo intercala as cenas da sua narrativa com alguns vídeos na vertical, semelhantes aos ‘stories’ que conhecemos nas redes sociais, narrados por Nora, como diários audiovisuais marcando a passagem do tempo e suas experiências.
Sexualidade
Enfrentando alguns dramas comuns da puberdade, Nora também está descobrindo sua sexualidade, bem como começando a explorá-la. Assim, Nora conhece Romy (Jella Haase), uma menina mais velha, que estuda com sua irmã e a ajuda.
Os laços entre as duas vão se estreitando, uma amizade e companheirismo vão sendo construídos e, dessa forma, temos a formação de um jovem casal, com Nora mais livre e feliz. Nesse momento, é o ponto alto de coming of age do filme Casulo. Mesmo com conflitos na relação, a maturidade que a jovem mostra é bela. É aprender e reconhecer.
Sair do casulo
Nas aulas com a turma de sua irmã, um trabalho de artes é proposto. Os alunos devem apresentar uma criação abstrata. Mesmo com Nora criando uma lagarta (que logo supomos a transformação na borboleta), é na fofa apresentação da jovem que a analogia do casulo e amadurecimento se concretiza.
A lagarta que Nora criava quebrou o casulo e sumiu. Depois retorna como borboleta. É quando finalmente ela se encontra durante essa nova fase. Assim como sua lagarta, a jovem está fora do casulo. Mesmo com a comparação óbvia desde o início, como eu mesma já disse, Casulo sabe bem como conduzir. Nos apegamos aos personagens, torcemos para que Nora se entenda, alcance essa felicidade e autoconhecimento.
Onde assistir ao filme Casulo?
A saber, o filme Casulo estreou nos cinemas na última sexta-feira (10). Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.
Trailer do filme Casulo
Casulo: elenco do filme
Lena Urzendowsky
Jella Haase
Lena Klenke
Ficha Técnica
Título original: Kokon
Direção: Leonie Krippendorff
Roteiro: Leonie Krippendorff
País: Alemanha
Gênero: drama e romance
Ano de produção: 2020
Duração: 99 minutos
Classificação: a definir