Junji Ito | O “fofúnebre” é um dos grandes destaques da CCXP23
Fábio
Pode parecer contraditório, mas o quadrinista Junji Ito, mestre dos mangás de terror é uma das pessoas mais tranquilas, simpáticas, doces e humildes do meio. Algo que, a princípio, destoa completamente das suas obras sombrias, horripilantes e bem assustadoras. Essas personalidades distintas acabaram lhe rendendo o apelido de “fofúnebre” (fofo + fúnebre) durante sua passagem pela CCXP23.
No painel e coletiva de imprensa realizados nessa sexta (1), o autor falou sobre a sua carreira, seus projetos mais recentes, suas influências e um pouco sobre o seu futuro. Impressionado com a maneira calorosa com que foi recebido pelo público, Ito esbanjou simpatia e atenção com seus fãs brasileiros.
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Palco Thunder
No palco Thunder da CCXP23, Junji Ito entrou timidamente, saudado pelos apresentadores Marcelo Forlani (Omelete) e Bruno Zago (Pipoca e Nanquim, editora que trouxe o autor para o Brasil). Ovacionado pelos fãs, revelou que tanto sua passagem pelo país, quanto o reencontro com uma de suas personagens mais conhecidas estão no seu radar para seus próximos trabalhos. “Vou voltar a escrever Tomie. Já faz um tempo que não nos encontramos e desejo que esse reencontro seja proveitoso. A paixão do povo brasileiro por ela pode influenciar nessa nova história. Estou recebendo essa paixão de vocês”, explica Ito.
Horror brasileiro
Outro ponto interessante do painel foi quando Zago e Forlani mostraram para o “fofúnebre” trechos de filmes de terror brasileiros. Um filme do lendário Zé do Caixão e obras mais contemporâneas como Mata Negra (2018) e O Cemitério das Almas Perdidas (2020). Filmes que deixaram Ito curioso e com vontade de assisti-los até o final.
No encerramento do painel de Junji Ito na CCXP23, ele convidou a plateia a uma “sessão relaxante”, exibindo imagens de suas obras, com um áudio descrevendo cenas horripilantes, mas naquele tom usado em sessões de terapias relaxantes. Um belo convite a obra deste incrível mangaká.
Coletiva
Se no painel Ito já demonstrava simpatia, na coletiva ele foi ainda mais. Em nenhum momento se colocou como um ícone dos mangás de terror (o que de fato ele é); preferiu sempre enaltecer seus antecessores ao invés se gabar de suas virtudes e ficou até um pouco constrangido em apontar quem seria o “próximo Junji Ito”. Além disso, ele ainda teve tempo de falar sobre sua experiência no universo dos games e das animações.
“Falando sobre as animações, recentemente nós lançamos na Netflix ‘Junji Ito Maniac: Japanese Tales of the Macabre’ e ‘Junji Ito Collection’. A diretora é a Tagashira Shinobu e ela entendeu muito bem o meu mangá. A essência estava lá. Quando assisti não senti nenhum incômodo, não senti que ficou faltando alguma coisa. E agora nós estamos neste momento avançando na produção de ‘Uzumaki’, que será dirigido por Nagahama Hiroshi. Por causa da busca pela perfeição, ela atrasou um pouco, mas ela vai superar as expectativas de quem está esperando”, comentou Ito.
Trailer – Uzumaki
Sobre quem inspirou sua carreira, Ito reverencia os clássicos. “A maior referência que tenho no mangá de terror é o Kazuo Umezu, que acompanho suas obras desde quando eu era criança. Elas são incríveis e ele é de fato a minha grande referência. Além dele, outro mangaká que me influenciou foi o Ino Hideshi, que tem um mangá bem artístico e me impactou bastante. Fora do terror eu admiro o Katsuhiro Otomo, criador do Akira. E, por fim, o romancista norte-americano H.P. Lovecraft, entre outros.
O novo Junji Ito
Modesto, Ito prefere tratar pessoas como o professor Umezu como ícones ao invés de se auto reverenciar. Mesmo assim reconhece sua importância devido ao grande número de cosplayers e alvoroço nas redes sociais em relação aos seus personagens. Apesar de hesitar em apontar um “sucessor”, ele confessa não ter tempo para ler novos autores de terror, mas destaca o trabalho de Noroi Michiru. “Ele é muito bom. Acompanho o trabalho dele e vale a pena conhecê-lo”, destaca.
Junji Ito no mundo dos games
Embora não seja adepto a video-games, Junji Ito quase entrou nesse segmento graças a amizade com outro gênio. Hideo Kojima, a mente brilhante por trás de Metal Gear Solid. Eles, em parceria com o cineasta Guillermo Del Toro, chegaram a se reunir na sede da desenvolvedora de jogos Konami, porém o negócio não foi adiante. “O Kojima me disse um dia que queria me ver e me disse que o Del Toro queria fazer um jogo de terror e me convidaram para fazer o design dos monstros”. Apesar de não ser familiarizado com esse universo, Ito resolveu se desafiar.
“Nessa reunião eles falaram muito sobre o projeto, deram muitas ideias, porém ele acabou não indo para frente. Apesar de não ser familiarizado com games, se um dia esse projeto voltar eu toparia me arriscar e participar dele”, finaliza.