‘Chernobyl’ é um seriado daqueles que deixará o telespectador embasbacado
Stenlånd Leandro
Poucas são as histórias contadas do qual o final venha a ser doloroso. Embora algumas pessoas tenham sobrevivido ao desastre de Chernobyl, mostrar com louvor a trágica história do povo ucraniano é um feito. Baseada no livro “Vozes de Chernobyl”, de Svetlana Alexievich, – e claro no trágico acontecimento histórico, a criação da minissérie teve alguns personagens e diálogos retirados da diretamente da obra literária. Estrelada por Jared Harris, Stellan Skarsgård e Emily Watson, a minissérie retrata os trabalhadores da fábrica e suas famílias, os cientistas, os bombeiros, os soldados, os voluntários, os bio-robôs, entre outros.
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A tragédia de Chernobyl já consta em muitos vídeos de youtube e até matérias jornalisticas, mesmo atuais. Até mesmo a reportagem do Fantástico já esteve no local da tragédia ocorrida na União Soviética, em 1986. Em 2016, o desastre nuclear completou 30 anos, atualmente 33. Considerado o mais grave acidente da industria nuclear criou pânico e o mundo parou para assistir. O reator 4 do complexo V.I Lenin voou pelos ares, deixando no ar um “mar” de radiação ao redor. A União Soviética não conseguiu conter as notícias por muito tempo.
COMO TUDO ACONTECEU EM CHERNOBYL?
A equipe de plantão da usina de Chernobyl tinha que fazer alguns testes. O objetivo era verificar o funcionamento da usina em baixa energia e, então, a potência do reator 4 deveria de ser reduzida. Além do recomendado pelo manual que é mostrado no último episódio, agora temos explicações. Essa redução chegou a zero e, então, o teste falhou por três vezes consecutivas até o dia fatídico. Embora tentassem subir a energia de volta, o reator ficou instável e não aguentou a pressão. Assim, o núcleo ficou exposto por meses e – até hoje – emite radiação gama. Foram dez dias com o reator queimando energia e expondo a população a diversos elementos químicos. Estrôncio-90, Iodo-131 e Césio-137. Uma lista totalmente complexa dos elementos radioativos mais perigosos do universo misturando-se ao ar da cidade.
A pequena cidade de Pripyat – localizada na antiga União Soviética, atual Ucrânia amanheceu com sirenes tocando. Aparentava ser um simples incêndio e a população sequer tinha conhecimento da gravidade do acontecimento. A princípio, era mais um dia ensolarado com um incêndio em um prédio. Mas, após todos esses anos, como está a fronteira entre a Ucrânia e Bielorrússia? A zona de exclusão é uma área gigantesca está até hoje contaminada. O Ocidente ficou alerta e, embora com poucos aparatos tecnológicos, chegou a desconfiar da alta radiação emitida. A Suécia foi um dos primeiros países a detectar a intensidade radioativa. Uma nuvem radioativa espalhou-se pelo Hemisfério Norte.
RADIAÇÃO: A VILÃ DA SÉRIE POR TEMPO INDETERMINADO
Pelos relatos, cerca de 134 pessoas tiveram a síndrome aguda da radiação, que é o que acontece quando o corpo recebe alta dose de radiação. Ainda que pareçam poucas vítimas, essas apenas tiveram a síndrome. Outras morreram imediatamente. Antes de mais nada, é preciso frisar que a radiação é o vilão da série. Diversas pessoas morreram e sequer chegaram aos 30 anos de idade. Desses números, sobraram apenas 76 para contar sobre o desastre. A radiação ainda deixa rastros e são centenas de anos para que ela possa se extinguir em definitivo.
Uma pessoa supostamente contaminada por radiação sente o gosto de metal na boca. A cabeça dói e as crises de vômito são intensas. Com frequência, os sobreviventes precisam lidar com leucemia, câncer de pulmão e de pele, esterilidade e problemas na tireoide. Isso da tireoide ficou bem retratada aqui. Para combater, por exemplo, o Iodo-131, era necessário pastilhas de iodo fora da radioatividade.
A MINISSÉRIE RETRATA FIDEDIGNAMENTE?
A minissérie é retratada de forma muito competente pela HBO. Ela nos mostra impressões do cotidiano desse povo que sofreu intensamente com a radioatividade. Mesmo ao perceber como somos pequenos, o seriado deixa claro como o ser humano ainda consegue lidar com tragédias. Essa é a sensação ao assistir a Chernobyl, produção da HBO em cinco episódios.
Embora imperceptível para alguns, a minissérie consegue, com primor, trazer à tona questões políticas e técnicas. Apesar de alguns personagens serem fictícios, temos homenagens às historias reais. O pior acidente nuclear da história não aconteceu à toa. Os produtores tentam humanizar a proposta de que a mentira demorou e tem pernas curtas. São exatos 33 anos de inverdades, burocracia e ego. O roteiro dos cinco episódios escrito por Craig Mazin cria facilmente empatia sem precedentes e você vai entender o porquê.
CENAS REAIS
Uma das cenas mais impactantes de Chernobyl, por exemplo, foi a do enterro das vítimas mortas por causa da radiação. Para não contaminar o solo, utilizaram caixão de ferro soldado, que mais se parece com chumbo, bem como cobrir com cimento ao invés de terra. Por outro lado uma chuva de areia e boro tentava amenizar os problemas na usina.
Outra cena incrível foi a dos mineradores, que realmente trabalharam nus na usina. Esse momento aconteceu devido à alta temperatura presente no local da escavação. Por outro lado, ficou bem claro para eles que era uma escavação para a morte. Eles estariam muito próximos do reator e, com isso, sequelas apareceriam com o tempo. Logo depois, até os bombeiros viriam a sofrer.
HOUVE MENTIRA EM CHERNOBYL
Como é do saber de todos, mentira tem perna curta. O custo da farsa transformou a vida de muitos em um caos sem precedentes. Munidos pelo ego de acharem que sabiam de tudo, alguns que trabalhavam na usina faziam de tudo sem limites. A minissérie mostra que os erros técnicos tinham como motivo enfraquecer a política do país.
Na série, Mikhail Gorbachev criou uma comissão do governo liderada por Boris Shcherbina, vice-presidente do conselho de ministros, para investigar as causas da explosão. Enquanto isso, ordenar uma evacuação estaria fora de cogitação. A reação imediata era tentar esconder a tragédia e diminuir a quantidade de informação publicada pelos veículos. O país cortou as redes de telefonia e os funcionários da usina nuclear foram proibidos de compartilhar informações sobre o acontecido. Houve pressão política, inclusive para que o cientista Lagasov deixasse de fora de seu relatório informações fundamentais sobre acidentes anteriores e falhas de projeto do reator da usina.
SACRIFÍCIO E DESESPERO
Por causa de inúmeras omissões, crianças continuavam a brincar. Simultaneamente, o consumo de alimentos era normal e, enquanto isso, tudo radioativo era utilizado sem conhecimento. Independente da mentira para apoiar o ego de seus governantes, ficou nítido o patriotismo de homens que literalmente se sacrificaram para diminuir os impactos do desastre. A sensação de impotência ficou visível juntamente com o desespero. A vontade de chorar pelas mortes fica em nossos corações, pois a série não economiza em imagens chocantes.
Em suma, temos um seriado daqueles que deixará o telespectador embasbacado. Apesar do vilão não ser vencível senão pelo tempo e pela chuva, fica nítida nossa tristeza com a dor de inúmeras famílias. Definitivamente, Chernobyl é o que precisávamos para entender melhor o sofrimento de toda uma nação. Centenas de milhares sacrificaram a sua boa saúde para o bem não só da nação, mas da Europa.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Chernobyl
Temporada: 1
Criação: Craig Mazin
Direção: Johan Renck
Produtor(es): Craig Mazin, Carolyn Strauss, Jane Featherstone
Produção: Sister Pictures, The Might Mint
Distribuição: HBO
Elenco: Jared Harris, Stellan Skarsgård, Emily Watson, Joshua Leese
Data de estreia: seg, 06/05/19
País: Estados Unidos, Reino Unido
Gênero: drama
Ano de produção: 2019
Duração: 59 minutos
Classificação: 16 anos