Chiara Chivello Chansons

Chiara Civello reinventa clássicos no álbum ‘Chansons’

Guilherme Farizeli

A cantora e compositora italiana Chiara Civello surpreende com seu novo álbum, ‘Chansons’. Produzido por Marc Collin (Nouvelle Vague), o trabalho reúne doze canções clássicas escritas por compositores franceses, entre 1945 e 1975. Entre os autores, nomes de Michel Legrand a Charles Aznavour, Charles Trénet, Édith Piaf, Jacques Brel ou Gilbert Bécaud e Francis Lai. Velhos conhecidos para os amantes da boa música francesa, mas não necessariamente para o público internacional.

Essas belas canções cruzaram fronteiras por mais de 70 anos, sem referência à sua herança francesa. Com esta seleção de clássicos, agora elas vão das sombras para a luz na voz de Chiara Civello. E essa é apenas uma das grandes surpresa de ‘Chansons’.

A artista já colaborou com nomes do quilate de Burt Bacharach, Chico Buarque, Esperanza Spalding, Ana Carolina e Gilberto Gil. E se Chiara Chivello é amplamente influenciada pela música brasileira e pelo jazz, em ‘Chansons’ esses pontos de convergências são bem nítidos.

O álbum tem um clima espontâneo que realmente eleva o nível geral do trabalho. Além disso, por conta do repertório mais intimista, Chiara ela decidiu cantar a maior parte do disco em italiano. No entanto, existem vários pontos muito interessantes do trabalho cantados em francês e em inglês.

As canções

O álbum começa com “I Will Wait for You”, canção de Jacques Demy e Michel Legrand. Na faixa, impera um clima de bossa nova sem nenhum mistério mas ainda assim, com bastante classe. Nesse sentido, a mix foi claramente pensada para evidenciar a voz de Chiara. Além disso, o fato da modulação na tonalidade coincidir com o o trecho em francês da letra é uma sacada genial.

Em seguida, uma das versões mais legais de ‘Chansons’. “Yesterday When I Was Young”, um “pequeno” clássico de Charles Aznavour. A faixa apresenta um groove sincopado e uma vibe bem sexy. Chiara sussurra as primeiras frases da canção antes de iniciar a melodia principal. O refrão super divertido mistura uma pitada de Jamiroquai com os melhores momentos da Motown. Na segunda repetição do refrão, entram backing vocals que deixam o negócio todo ainda mais bonito.

Posteriormente, uma música que todo mundo conhece mas ninguém sabe o nome. “Un uomo, una donna” justifica muito bem o conceito do álbum explicado acima. A canção de Francis Lai e Pierre Barouth ganhou um novo arranjo muito bem feito, sabendo trabalhar muito bem com os espaços e silêncios da canção. A linha de baixo do tema principal foi muito bem pensada para conversar com a melodia principal sem sair muito do prumo. A parte final da música recria o tema principal com muitas vozes, reverb, um solo de piano delicioso e muita criatividade! O resultado final é incrível!

E por falar em clássico…

Antes de mais nada, é preciso ressaltar. “La vie en rose” recebeu um arranjo bem ousado para um clássico dessa magnitude. Não é tarefa fácil criar um groove nessa vibe para uma canção naturalmente tão focada na melodia. Mas o resultado final é muito bom, adicionando frescor e uma sensação de descoberta para uma música tão conhecida. O arranjo de piano é primoroso e faz um contraponto perfeito para as frases no sax soprano. As pequenas mudanças na harmonia e o clima quase de “drum and bass” do final são maravilhosos! Enfim, essa é, definitivamente, uma das versões mais legais de “La vie en rose” que eu já ouvi.

‘Chansons’ apresenta as melhores facetas de Chiara Civello

O trabalho autoral da cantora fala por si só no que diz respeito à sua versatilidade. E ideia de alternar seus álbuns autorais com álbuns onde atua como intérprete acaba reforçando essa característica. Em “Petit fleur”, um arranjo bem direto, construído para evidenciar as características únicas da voz de Chiara. Enquanto ela explora seu grave inconfundível nos versos sussurrados, ela explode no refrão com a região mais gostosa de sua voz. O timbre do órgão hammond B3 foi muito bem escolhido e tem tudo a ver com a vibe da música.

Chiara Civello (Divulgação/Facebook)

Uma outro escolha interessante no repertório é “What Now, My Love”, versão em inglês de “Et maintenant”, de Gilbert Bécaud. O arranjo evoca tudo de melhor que a Motown trouxe pra esse mundo: linha de baixo a la James Jamerson, um groove gostoso e uma voz hipnotizante. Essa escolha parece ainda mais acertada se a gente lembrar que a versão original repete (à exaustão) o padrão rítmico do “Bolero” de Ravel. A canção é um clássico mas a verão de Chiara é muito mais divertida!

Conclusão

O conceito por trás de “Chansons’ é realmente genial. Mostrar ao mundo canções que fazem parte da história do cinema, da TV, da publicidade em um formato moderno e absolutamente palatável. E a execução é certeira! O álbum conta com várias versões muito legais e não soa datado. Além disso, em ‘Chansons’, Chiara Civello abraça todas as influências e sonoridade conhecidas de seu trabalho autoral, fazendo com que o trabalho soe original. Definitivamente, não estamos falando de álbum de covers, mas de um trabalho com sensibilidade artística e muito amor.

Por fim, confira ‘Chansons’, o mais novo álbum de Chiara Civello

Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
NAN