Chrys Rochat em entresvista para o BLAHZINGA. Por Alvaro Tallarico.

Cena do filme Ambition no Festival Rock Horror in Rio Festival

“Ter investimento na cultura é primordial” | Chrys Rochat do Rock Horror Film Festival

Alvaro Tallarico

Chrys Rochat é atriz, roteirista, diretora e produtora. Dona do Sin Fronteras Filmes e criadora do Festival Rock Horror in Rio Film Festival deu uma entrevista para o BLAHZINGA. A conversa ocorreu durante o primeiro dia do festival – que segue até 8 de dezembro com várias atividades gratuitas. A saber, o evento acontece na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema (RJ). Chrys Rochat mostrou firmeza e muita vontade de fortalecer o cenário cultural brasileiro.

BLAHZINGA: Por que essa união de Rock com Horror?

Chrys Rochat: Acho que tem tudo a ver, Rock e Horror. Quando eu decidi fazer o festival, a primeira coisa que me veio a cabeça era unir os dois. Adoro rock, sou rockeira. Embora eu nunca tenha cantado ou tocado em nenhum lugar, mas eu adoro rockenroll e acho que casa bem, dialoga bem, os gêneros do festival. Sci-fi, terror, suspense, fantasia, animação e foi muito feliz essa combinação de terror, rock. E as pessoas que gostam de terror, geralmente gostam de rock também. Por isso.

BLAHZINGA: E qual foi o critério de seleção dos filmes?

Chrys Rochat: Os filmes são enviados para mim. O festival está nas maiores plataformas de cinema, de festival, do mundo. Film Freeway, enfim, várias. Nós recebemos os filmes, eu assisto todos os filmes, faço a curadoria, faço a seleção. Vejo o que é interessante, o que pode despertar a curiosidade do público para os gêneros do festival. Então hoje a seleção é feita por mim, eu faço a curadoria.

BLAHZINGA: Realmente algo que demanda bastante tempo, bem trabalhoso ver tantos filmes, selecionar.

Chrys Rochat: É, mas o meu festival é totalmente customizado, é um festival de diretor. Onde valorizo muito os diretores. Eles têm um espaço de… (passa o câmera Flávio Ferreira na hora filmando a entrevista). Estou a três dias sem dormir preparando o festival. Enfim, os diretores têm protagonismo aqui. Porque existem vários tipos de festivais. Claro que a vedete dos festivais são os filmes. Mas eu dou para os diretores esse protagonismo deles mostrarem a visão deles. O que pensaram, o que têm por trás dos filmes, entendeu? Acho isso interessante para o público.

Claro, as estrelas dos filmes sempre ficam em primeiro lugar e você não tem essa coisa do independente, essa coisa de pegar os diretores e botar eles para dizerem o que pensaram. Porque o filme é do diretor. Então, esse é meu ponto. Eu sou diretora, sou cineasta, tenho uma produtora e esse é meu objetivo com o festival. Algo independente com vários gêneros e dar o protagonismo para os diretores. Queria falar isso porque acho muito importante.

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BLAHZINGA: Importante mesmo. Gostei dessa firmeza.

Chrys Rochat: Para fazer um festival desses tem que ser muito firme, você não pode ser frouxo (risadas). Inclusive para fazer um festival de terror não pode ser frouxo porque senão nem assiste os filmes.

BLAHZINGA: Festival super customizado, tem até cardápio próprio.

Chrys Rochat: Sim, sempre tive sonho de fazer um festival de cinema. Morei muito tempo em Los Angeles. Morei vinte anos fora. Oito anos em Los Angeles, seis anos na Europa, sou uma cidadã do mundo na verdade. E tem sete anos que estou aqui no Brasil com minha produtora. Já queria fazer um festival, sempre sonhei com isso e quando surgiu o momento que tive o tempo para fazer, decidi fazer esse e é um bebê. Meu bebê de Rosemary como falo.

BLAHZINGA: Muito legal sua analogia do Festival ser o seu ‘Bebê de Rosemary’. Um dos grandes diferenciais desse festival é toda essa gama de atividades culturais. Porque é algo que acontece a partir da sua iniciativa.

Chrys Rochat: Privada. Total. Meu festival não tem patrocínio, só apoios. É um festival… é uma loucura que cometo, mas acho que vai dar certo, estou apostando muito nele. Eu queria fazer uma coisa que fosse um evento completo, uma experiência, na verdade. Desde a parte cultural, você vê a qualidade desses painéis que a gente tem. Hoje (29/11), a gente teve o painel da Dani (Daniela Gonc), maquiadora de cinema, de efeitos especiais. Tem o Flávio Ferreira, que já foi diretor de fotografia em um longa que fiz e que vai dar dois painéis incríveis sobre isso. Quem se interessa por cinema, quem quer aprender, quer ver, tem que vir, porque a gente está oferecendo para o público. Quero que o público venha porque foi um trabalho que eu fiz com sangue, suor e lágrimas. A única coisa que espero é que público aprecie, venha, vejam os filmes.

Estava vendo a sessão da tarde com Flávio. Ele comentou como são incríveis os filmes. Você não vai ver na TV, no cinema… tem que vir ao festival. Tem muito curta fantástico, média, que não é distribuído, né? Ou é distribuído lá fora, mas não aqui. Porque a gente não tem um canal de distribuição para esse tipo de coisa. Lá nos Estados Unidos tem um canal de curtas independentes. Aqui tem o Canal Curta!. Mas, no geral, não sei a extensão da absorção desses trabalhos. Por exemplo: o festival esse ano tem quatorze filmes espanhóis. Inclusive, a embaixada da Espanha está apoiando o festival. Estão trazendo o diretor do longa, do Rocambola, que vai participar da exibição da obra no dia 05/12. Entre os filmes, um é longa, o resto é tudo curta. Para você ver como a Espanha está investindo na produção cinematográfica. Todos têm um apoio governamental.

BLAHZINGA: Ao contrário do Brasil nesse momento.

Chrys Rochat: Nem tenho nada a dizer a respeito disso porque os fatos falam por si só. Então, acho importante para a cultura do país ter investimento. Isso é primordial. E, se não tem, faremos de qualquer forma, como estou fazendo esse festival. Estamos aqui, não vamos sumir. A gente dedica vinte anos da vida se cultivando, viajando, estudando para fazer cinema e não vai desaparecer de hoje para amanhã. O cinema vai persistir, entendeu? O festival cresceu muito desde o ano passado. Ano passado fizemos no Reserva Cultural de Niterói, depois levamos o festival para São Paulo. E esse ano estamos aqui na Casa de Cultura Laura Alvim. Faremos no Reserva e também no MAM. Para mim é um prestígio, um privilégio estar no MAM porque a Cinemateca daqui é um marco para o cinema. É de suma importância o que ela representa para o cinema brasileiro.

O que quero é que esse festival estimule as pessoas a fazerem mais filmes de gênero porque é um mercado incrível lá fora. Os cineastas brasileiros deveriam pensar em fazer esses filmes, principalmente os pequenos, que estão começando, porque é uma maneira de começar. E lá fora tem um mercado para isso. Eles podem colocar em festivais lá fora. Passando pelo meu festival que já é conhecido lá fora é bacana para eles. Tenho nesse ano vários filmes brasileiros, fiz uma competição só de filmes brasileiros. Gostaria de ter uma competição só de longas brasileiros, só de curtas brasileiros, entendeu? Como tenho dos internacionais. Espero que o festival estimule isso, até porque quando eles virem a minha caveira (o troféu dos vencedores), o prêmio, vão querer todos ganhar (risos).

Sobre o festival

O festival segue até o dia 8 de dezembro oferecendo diversas atividades, dentre os workshops gratuitos: Adaptação para Cinema, Maquiagem, Master Class de Espanhol, Master Class de Direção de Fotografia, e outros. Para se inscrever, clique aqui: https://www.eventbrite.com.br/e/rock-horror-in-rio-film-festival-2019-tickets-79849936309. Nesse link você também encontra os ingressos gratuitos para os shows e festas do festival.

Veja a programação completa aqui: http://www.rockhorrorinriofilmfestival.com/por/programa.html

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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