Cine Ceará | Confira tudo que rolou no segundo dia do evento!

Larissa Bello

A segunda noite do 25º Cine-Ceará teve a apresentação de mais dois longas que estão na Mostra Competitiva Ibero-Americana. O primeiro foi “Loreak” (idem, 2014), dirigido por Jon Garaño e José Mari Goenaga. A produção espanhola se passa no País Basco, que é uma região de 20 mil quilômetros quadrados entre a Espanha e a França onde vivem os bascos. Esse povo se estabeleceu ali há 4 mil anos, e conservou boa parte dos seus traços culturais originais, especialmente o nacionalismo e o idioma próprios.

Garaño e Goenaga também co-dirigiram o delicado “80 Dias” (80 Egunean, 2010), que aborda sobre uma relação homossexual entre duas mulheres idosas. E delicadeza é a palavra que novamente permeia essa produção da dupla de cineastas. Inclusive, vemos a atriz Itziar Aizpuru novamente presente no trabalho como os diretores. O filme começa mostrando diferentes cenas que parecem não ter correlações entre si, para que depois possamos compreendê-las. Ane trabalha na construção de uma obra e é casada. Um dia um entregador bate à sua porta e lhe entrega um arranjo de flores. Não há um cartão e o entregador desconhece quem as enviou. Inicialmente ela pensa ter sido o seu marido, mas este diz que não foi ele quem as entregou. A partir daí, ela passa a receber um arranjo de flores toda semana, sempre da mesma forma anônima.

jauja review viggo O filme está dividido em uma espécie de capítulos. No início vemos uma cartela dizendo “Flores para Ane”, depois “Beñat observa o céu” e a última parte que é “Flores para Beñat”. As flores (Loreak) contextualizam toda a narrativa, e são elas quem iniciam e findam a história, que apresenta um desencadeamento instigante e deixa a conclusão de seu desfecho a critério da livre interpretação. A intenção do filme parece querer focar no lirismo em si e não na explicação exata dos fatos, afinal como o próprio slogan diz “são somente flores”.

loreak-flores

O segundo filme da segunda noite do festival foi “Jauja” (idem, 2015), dirigido pelo argentino Lisandro Alonso foi vencedor do prêmio “Um Certo Olhar” no festival de Cannes do ano passado. A cinematografia do filme chama a atenção desde o início por apresentar um recorte na tela em um formato polaroide, o que contribui para o tom da época em que se passa a história. Os enquadramentos do fotógrafo Timo Salminen são minuciosamente artísticos em sua composição, o que auxilia ainda mais o estilo contemplativo dos filmes de Alonso.

Itziar Ituño (Loreak)

Esteve presente para o debate sobre o filme “Loreak” a atriz Itziar Ituño

O longa é estrelado pelo ator Viggo Mortensen que faz o papel de um capitão dinamarquês que está em uma espécie de viagem/jornada com um pequeno grupo de soldados pelo deserto da Patagônia argentina. Sua jovem filha também o acompanha nessa viagem. As cenas e diálogos seguem uma entonação quase teatral de montagem e o filme vai se construindo como se fosse composto por pequenas atos. A reviravolta narrativa ocorre na parte final do filme para fazer com que os espectadores se surpreendam com uma drástica e ousada mudança da relação tempo/espaço que ramifica a interpretação de uma maneira quase surrealista e fictícia, quase uma mistura de Buñuel com Kubrick.

Lisandro Alonso (Jauja)

O diretor Lisandro Alonso estava no debate sobre o seu filme “Jauja”

Larissa Bello

Graduada em Rádio & TV. Pós-graduada em Leitura e Produção Textual. Capixaba, residiu por 8 anos no Rio de Janeiro, onde atuou em diversas áreas do audiovisual. Atualmente reside em Fortaleza/CE, onde é afiliada da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema) e é autora do blog Cine em Foco (https://cineemfoco.blogspot.com/).
NAN