EXCLUSIVO: Claudio Assis fala sobre Cinemateca, ‘Piedade’ e cinema brasileiro
Ana Rita
Conhecido por filmes como Amarelo Manga e Big Jato, o diretor pernambucano Claudio Assis lançou, na última quinta-feira (5), seu mais novo longa: Piedade. O filme, aliás, traz um elenco de peso: Fernanda Montenegro, Matheus Natchergaele, Irandhir Santos e Cauã Reymond.
Piedade, de Claudio Assis, traz a história de um vilarejo e a chegada de uma empresa de extração de petróleo e as suas consequências. O longa é uma crítica social e exposição de um problema, e tem crítica no ULTRAVERSO.
Por isso, o diretor Claudio Assis nos concedeu uma entrevista e falou um pouco sobre cinema e seu mais novo filme Piedade. Confira o bate-papo!
ULTRAVERSO: Quais os desafios de fazer cinema no Brasil? Principalmente quando o apoio, em especial do Estado, é difícil de se conseguir?
Claudio Assis: Fazer cinema no Brasil é um trabalho danado, um trabalho medonho. Cinema requer um movimento maior. A gente tem que trabalhar, escrever roteiro, fazer produção, levantar a grana. É um negocio louco. Mas trabalhamos para fazer isso, nos propomos a fazer isso. Então fazemos com o maior prazer possível. Não estou aqui chorando e reclamando pitanga não, tem que lutar. Tem que ir atrás. É assim que a vida é.
Esses desafios existem e agora com o acontecido com a Cinemateca vemos mais problemas ainda?
Claudio Assis: É um negocio absurdo. Eu tenho filme lá, espero que não tenham queimado. Mas você vê o descaso do cinema total pela memória do povo brasileiro. E é uma memoria grande. Grandes arquivos nossos estavam na Cinemateca. Você está colocando em risco anos do cinema nacional. Anos guardados, armazenados e tem fogo, tudo incendeia e está tudo bem? É estarrecedor.
Como retratar o povo brasileiro, principalmente os nordestinos, evitando estereótipos comuns em outros cinemas?
Claudio Assis: Eu trabalho da melhor maneira possível de conquistar as pessoas, seja com Cauã, com Matheus, com a Fernanda Montenegro, com Gabriel Leone, com várias pessoas. Coloco elas para conhecer as pessoas, para passearem, sentarem na mesa de um bar. Para verem a vida como ela é mesmo. Assim, você vai fazer com que elas se sintam naturalmente ali. E a gente luta pra isso. Eu acho prazeroso demais falar sobre cinema pernambucano, nordestino, me sinto bem. Pra mim é fácil assim.
Como lidar com personagens alegóricos que expõem moralidade e imoralidade? Por exemplo: o Aurélio, um homem ambicioso interpretado por Matheus Natchergaele.
É tranquilo. Você tem que lidar com isso. Eu estudava Economia quando o Porto Suape começou a ser construído e já lutava contra isso. Fazer um filme hoje sobre isso é um privilégio. Colocar na tela aquilo que eu vivi como adolescente, quando eu estava na universidade ainda. Lutar contra isso tudo e você ver que hoje as coisas estão só crescendo.
Com o desvio das águas, tem muito ataque de tubarões. Eles andam, não têm como comer e vão atacar as pessoas na praia. Isso por conta do Porto Suape, que poderia ter sido construído em outro lugar ali. Então é minha contribuição social.
Como foi dirigir um elenco de peso desses?
Eu me coloco de igual pra igual. Não me coloco num pedestal. Porque eu trabalho com a minha experiência como ator. Fui ator de teatro e trabalho isso naturalmente. Coloco as pessoas no seu devido lugar, na sua convivência social natural. E as pessoas me dão isso de volta. Nunca tive problema com ator algum. É um privilegio trabalhar com eles, um privilegio, sem exceção.
O filme Piedade, de Claudio Assis, está em cartaz em diversas salas de exibição. Apoie o cinema brasileiro conferindo a produção.
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Assista ao trailer do filme Piedade, de Claudio Assis
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