Coldplay Music of the Spheres crítica do álbum novo

Coldplay apresenta mais do mesmo em ‘Music of the Spheres’

Cadu Costa

Já se passaram mais de 20 anos desde que “Yellow” apresentou ao mundo o melhor do Coldplay. Romântico, mas não meloso, cheio de levadas indie, mas com um pé no rock radiofônico. Sua música e letras anseiavam pelas estrelas, mas não como uma baboseira apaixonada. O falsete de Chris Martin pode soar triste, como se o objeto de sua afeição já tivesse sido transformado, enquanto os acordes distorcidos do guitarrista Jonny Buckland são ligeiramente azedos, sugerindo turbulência na ressaca do amor.

O vídeo de “Yellow”, que foi filmado no dia do funeral da mãe do baterista Will Champion, é igualmente comovente. Chris Martin passeia ao longo de uma praia chuvosa, incentivando o sol a nascer, colocando um toque de menino na sinfonia. No meio do vídeo, quando ele levanta a manga do olho esquerdo, não está claro se ele está enxugando uma gota de chuva errante ou uma lágrima.

Cosmos

Desde então, o Coldplay frequentemente invoca o cosmos – as estrelas, a lua, os planetas em geral – enquanto buscam sentimentos universais para pular de shows em pequenos teatros britânicos para arenas e estádios em toda a Terra, como comprova a notícia de que irão fechar uma noite no Rock In Rio 2022.

Eles também lutaram para manter a mistura de paranoia e positividade que alimentou seus melhores trabalhos; seus últimos registros saltaram da miséria ao êxtase, sem examinar o que havia entre eles. Essas tendências atingiram um estranho patamar com o nono álbum de estúdio do Coldplay, Music of the Spheres lançado nesta sexta (15). Há um conceito vago de ficção científica envolvendo um sistema solar distante, e Martin parece ter encontrado inspiração em algum filme recente sobre o tema.

Longe de ser um Star Wars: O Império Contra-Ataca, Music of the Spheres está mais para um 2001 – Uma Odisseia no Espaço: chato, pretensioso e longo. O superprodutor pop sueco Max Martin está totalmente no comando e, desta vez, a lista de convidados inclui a cantora e atriz Selena Gomez, a quinta pessoa mais seguida no Instagram; assim como as estrelas do K-pop, BTS. Além deles, há os menos midiáticos Jacob Collier e We Are KING.

As faixas de Music of the Spheres

“Higher Power” abre o disco e tenta reaproveitar (mais uma vez) os sons dos anos 80. Apresentando o barulho de uma multidão cantando (mais uma vez 2), a faixa de synth-pop “Infinity Sign” parece projetada exclusivamente para tocar no fundo da tela do menu de um game FIFA.

“Let Somebody Go”, um dueto com Selena Gomez, é uma balada adulta contemporânea aparentemente roubada dos arquivos de Bryan Adams, na qual a dupla fica deprimida até decidir que “dói tanto deixar alguém ir”. Não posso discutir com isso. Já “Humankind” envolve a revelação de que os humanos podem ser… gentis. Graças às técnicas já conhecidas do Coldplay, muitos desses refrões provavelmente vão acabar agitando sua cabeça enquanto você tenta dormir, mas eles são tão fúteis que você provavelmente vai se ressentir por eles estarem lá.

Mas Music of the Spheres faz exatamente o que o Coldplay precisa: acertar dois ou três hits de fácil aceitação para aumentar a setlist do próximo show. O resto é, bem, o resto. Quatro das 12 faixas são interlúdios ou instrumentais sem nenhum senso de propósito, coesão ou avaliação emocional.

Para ser justo, o Coldplay já girou em direção ao pop antes – em seu álbum A Head Full of Dreams, de 2015, mas raramente soou tão falso quanto isso.

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Ouça Music of the Spheres, do Coldplay

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN