Coletiva | ‘Aquarius’

Alyson Fonseca

Na manhã de sexta-feira (19/08), o filme foi apresentado em sessão da imprensa, a tarde aconteceu a coletiva no Hotel Transamérica, em Boa Viagem. No sábado (20/08), em noite de pré-estreia, no Cinema São Luiz, o filme foi ovacionado.

Desde quinta-feira (18/08), Sônia Braga está no Recife para participar da agenda de divulgação e pré-lançamento do filme ‘Aquarius‘, do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho. Na manhã da última sexta-feira (19/08), os críticos de cinema participaram da cabine de imprensa do filme, que ocorreu em cinema no Shopping RioMar Recife.

Na parte da tarde, os profissionais participaram da coletiva de imprensa realizada no Hotel Transamérica, em Boa Viagem. Participaram da mesa os atores Paula de Renor, Pedro Queiroz, Julia Bernat, Sonia Braga, Maeve Jinkings e Zoraide Coleto, a produtora Emilie Lesclaux, o Diretor de Arte, Juliano Dornelles e o Diretor e Roteirista, Kleber Mendonça Filho.

Este filme devolveu meu nome, meu rosto e minha identidade como uma pessoa que trabalha em cinema no Brasil. Foi um operação de regate. Estive presente como cidadã, mas como atriz foi essa equipe que me deu uma plataforma para eu aparecer e fazer contato novamente. O artista precisa de espaço para mostrar o seu trabalho“. Iniciou Sonia Braga, na concorrida coletiva de imprensa, que ocorreu no mesmo hotel em que a mesma ficou hospedada há um ano, para as filmagens do longa-metragem.

Moradora de Nova Iorque há 25 anos, ela voltou ao Recife para a pré-estreia de ‘Aquarius‘, que aconteceu no sábado (20/08), no majestoso Cinema São Luiz, área central do Recife. Braga vive a protagonista da história, Clara. Na coletiva, ela comentou sobre a carreira após a repercussão mundial da produção que, recentemente, venceu o Festival de Sidney, por causa da exibição e ótima performance no Festival de Cannes, em maio deste ano.

Na coletiva, Sonia Braga, que completou 66 anos, em junho passado, estava radiante, feliz, falante e muito bem-humorada. Ele explicou aos jornalistas que a crítica de música Clara, sua personagem em Aqurius, que trava uma batalha contra a Bonfim Construtora, tem muito de sua personalidade.

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Equipe e elenco do filme, na pré-estreia. No Cinema São Luiz.

É como se eu tivesse sido esquecida em Marte e foram lá me resgatar para o cinema brasileiroEu não estava presente no Brasil publicamente, não estava na TV nem no cinema. Quando a gente desaparece da telinha ou da tela grande, parece que a gente desapareceu do mundo. Foi uma honra, uma surpresa, um resgate o que fizeram“. Revelou Sonia Braga.

No filme, ela mora em um prédio antigo em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, e resiste a sair do edifício, mesmo recebendo propostas dea já citada construtora que pretende demoli-lo para erguer um luxuoso edifício. “Na sociedade, toda vez em que diz ‘não’, você está assumindo um ato político. Clara faz isso e diz não a um padrão que envolve imóveis que determina que o que está velho e vazio tem que ser derrubado. Ela discorda e vai contra isso, e isso passa a ser um ato político”, explica o diretor.

Para a prestigiada pré-estreia, os quase mil lugares do Cinema São Luiz foram democraticamente divididos entre os convidados do filme e o público. Na terça-feira passada, os 500 ingressos liberados foram vendidos em 40 minutos.

Por falar em democracia, essa tem sido a palavra de ordem do cineasta pernambucano desde o protesto contra o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, durante o Festival de Cannes. Ele usou a palavra novamente no artigo Carta Aberta sobre a Comissão Brasileira do Oscar, em que defende o processo democrático da escolha do longa-metragem brasileiro que será submetido à Academia, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

O roteiro de Aquarius foi escrito para o Caiçara (edifício de estilo antigo na Avenida Boa Viagem) em 2012, mas ele foi parcialmente demolido em 2013, quando eu já tinha a segunda versão do roteiro. Com isso, eu perdi, e a cidade também, não só uma referência, mas a locação do filme que eu queria fazer. Aí, por causa disso, fui para o último prédio de estilo antigo da Praia de Boa Viagem, que é o Edifício Oceania“, relembrou o cineasta.

A memória foi um dos principais temas da entrevista. Sônia e Kleber trocaram impressões sobre o papel de música na construção da identidade de Clara e em suas histórias pessoais. Canções de Taiguara, Roberto Carlos, Reginaldo Rossi, Gilberto Gil e da banda irlandesa Queen, entre vários outros artistas, acompanham a trajetória de Clara. ” A música é e sempre foi importante na minha vida. A trilha de Clara é a trilha de Sonia, é como se fosse um encontro. Cada música qe entra no filme é uma coisa incrível“, disse Sonia.

As relações do filme com a política terminam, porém, nesse aspecto, segundo Kleber Mendonça Filho. Na coletiva, o cineasta descartou a possibilidade de ‘Aquarius’ ter sido inspirado na presidente afastada Dilma Rousseff, como se cogitou após os protestos realizados pela equipe do filme no festival francês. “Ao longo dos últimos meses, as pessoas têm perguntado se o filme foi inspirado em Dilma, mas isso é tecnicamente impossível, pois escrevi há três ou quatro anos e filmamos há um ano, quando eu era incapaz de imaginar o que está acontecendo hoje no Brasil. O filme não é sobre Dilma, mas vai ser lançado, por uma enorme coincidência, em um momento muito crítico desse processo todo“, ressaltou Kleber.

Gravado na capital pernambucana, ‘Aquarius’ entra em cartaz nos cinemas no dia 1º de setembro. Antes, no dia 26 de agosto, o filme fará a abertura do Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul.

TRAILER:

📷: Divulgação.

Alyson Fonseca

Crítico Cultural e Correspondente do Blah Cultural em Recife / Pernambuco.
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