Contra Corrente: O cinema de guerrilha de Cadu Barros
Anna Cecilia Fontoura
Quando o amor à Sétima Arte é maior do que as limitações orçamentárias, além de tantos outros obstáculos para a realização de uma produção, isso é conhecido como cinema de guerrilha. Nas universidades brasileiras encontramos exércitos de guerrilheiros motivados a nadar incessantemente contra a corrente do circuito comercial. Entre eles está Cadu Barros, diretor do curta “Doce, Puro, Eterno”, que participou do Festival de Taguatinga. O BLAH CULTURAL conversou com o cineasta sobre cinema independente universitário, a situação dos curtas no Brasil e sobre sua produção e seus projetos. Sem mais blah blah blah confira a entrevista.
BLAH CULTURAL: Por que você escolheu fazer curta-metragens?
CADU BARROS: Minha paixão pelo cinema surgiu na infância e foi crescendo com o passar do tempo. Sempre tive vontade de trabalhar na área e dirigir meu próprio filme. E maneira mais barata e viável de aprender é através dos curtas. Neles você encontra todos os desafios que encontraria em um longa, mas em uma escala reduzida. O tempo de produção também é consideravelmente menor, pois um curta demanda menos diárias de filmagens, principalmente se o filme tiver poucos personagens e locações. Mas não acredito que os curtas sejam menos importantes. Existem obras muito bacanas com até 25 minutos de duração.
BC: Os curtas são valorizados no Brasil atualmente? Há mercado para esse tipo de filme?
CB: Não há um mercado para eles, infelizmente. Não há qualquer tipo de incentivo do governo para que se distribua curtas comercialmente, nem que seja exibindo-os nos cinemas como um aperitivo antes de um longa-metragem. Talvez por isso a quantidade de festivais de cinema esteja em um considerável crescimento no Brasil. Hoje são muitas as mostras que abrem espaço para os curtas. Na verdade, a maioria dos festivais somente exibem filmes com duração de até 25 minutos. Por isso, eles são a grande vitrine para esse tipo de produção, ou pelo menos a mais glamorosa, já que a internet também está aí para quem quiser publicar seu filme. Tem vídeos feitos por cineastas iniciantes que alcançam muita visibilidade através do youtube.
BC: Existe um público cativo para curtas só no eixo Rio-São Paulo?
CB: De jeito nenhum. Há festivais de cinema em todos os estados brasileiros. Um dos mais importantes, inclusive, é o de Tiradentes, uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Há público para curtas em todo lugar.
BC: É mais difícil realizar curtas?
CB: Do ponto de vista técnico não, pois um longa demanda uma produção muito maior. Mas os curtas possuem o desafio de contar uma história com personagens cativantes e prender o público em poucos minutos. Você tem que ser bem mais preciso. Não dá para desperdiçar nenhum plano.
BC: Você é diretor do “Doce, Puro, Eterno” que está concorrendo na Mostra Taguatinga. Como foi dirigir esse curta?
CB: Foi um grande trabalho em equipe, onde todos trabalharam sem ganhar nada, e deram tudo de si para fazer uma obra emocionante. O ambiente do set era ótimo, e muito divertido. Ríamos de qualquer coisa e fazíamos piada de tudo. No final, todo mundo saiu satisfeito e com a sensação de missão cumprida. O sintonia da equipe foi tão grande que emendamos um filme após outro, trocando as funções e ajudando de todas as maneiras possíveis. Como resultado disso, formou-se um núcleo audiovisual, e estamos perto de gravar outro curta.
BC: A repercussão desse trabalho tem sido a esperada?
CB:Estamos recebendo uma ótima reação do público. Todo mundo está se emocionando e captando a mensagem do curta. Isso é, sem dúvida, o mais importante.
BC: Há outros festivais em vista?
CB: Talvez sejamos selecionados para outros, já que inscrevemos o curta em diversos festivais.
BC: Está trabalhando em outras produções? Conte um pouco sobre seus filmes.
CB: Em breve faremos mais um curta, e estou com vontade dirigir um roteiro de um amigo meu. Mas ainda é cedo para prever uma data para as filmagens dele.
BC: Como você avalia a situação do cinema universitário independente no Brasil?
CB: Estamos em uma fase muito boa. Recentemente dois curtas independentes feito por estudantes foram exibidos no festival de Cannes. Isso mostra como esse tipo de produção está em alta no Brasil. Mas toda essa qualidade não se traduz em investimento privado. Ficamos à mercê das leis de incentivo, que nem sempre são as mais democráticas.
BC: Quais as principais dificuldades e expectativas para o cinema universitário independente brasileiro ?
CB: A maior barreira para os jovens cineastas é a captação de recursos. É uma área muito desvalorizada, infelizmente. Mas acredito que a paixão dos realizadores é maior que tudo isso. O chamado cinema de guerrilha veio para ficar. Quem ama cinema não mede esforços para que uma obra seja feita. E essa pureza da arte é o que mais me fascina nisso tudo.
Confira o curta-metragem “Doce, Puro, Eterno”
Sinopse: Clarissa reencontra Ricardo, seu grande amor, após 3 anos sem qualquer notícia. Ela descobre que ele a abandonou justamente por amá-la demais e temer que suas imperfeições fossem descoberta
FICHA TÉCNICA
Direção: Cadu Barros
Elenco: Fernanda Schmoltz, João Guesser e Lila Protasio
Roteiro: Aline Macedo
Direção de Fotografia: Bruno Souza
Assistência de Direção: Aimê Moura
Direção de Produção: Adriana Barradas
Direção de Arte: Aline Macedo
Figurino: Romana Naruna
Maquiagem: Paula Morena
Continuidade: Tamiris Lourenço
Som Direto: Elena Diniz e Fábio Leão
Montagem: Cadu Barros
Trilha Sonora Original: Sandro Casagrande Jr.
Assistência de Fotografia: Bruno Righi
Operação de Câmera: Bruno Souza, Adriana Barradas
Assistência de Produção: Bruno Righi, Luiz Cláudio dos Santos, Alan Braga, Flávia Moraes, Ana Paula Valladão
Still: Adriana Barradas
Produção Executiva: Cadu Barros, Aline Macedo