Criolo canta o Brasil mergulhado no caos em ritmo de poesia em ‘Sobre Viver’
Cadu Costa
O rapper Criolo está de volta com sua sagaz crítica social disfarçada deliciosamente de poesia e música no novo álbum Sobre Viver. Saiba o que achamos em nossa crítica abaixo.
Em recente entrevista à “Rolling Stone Brasil”, Criolo afirmou a seguinte frase: “A gente tá em 2022 e tem uns rap escritos há 30 anos que tão descrevendo os dias de hoje… As coisas não mudam, mano!”
O cantor não poderia estar mais certo desde a primeira faixa à última de Sobre Viver. Com “Diário do Kaos” – com “K” de Kleber, seu nome de batismo — abrindo os trabalhos é possível entender como podemos sair da descrença à esperança e essa temática vai moldando o álbum.
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Volta ao rap mais tradicional
Além disso, Sobre Viver é uma volta de Criolo ao rap mais tradicional de sua discografia. Após experimentações com samba e MPB – fruto de seus últimos discos – o cantor resolveu fazer um trabalho calcado na fé, na arte e na crítica social. Basta escutar “Pretos Ganhando Dinheiro Incomoda Demais”, “Ogum Ogum”.
Mas é em “Sétimo Templário” que ouvimos aquele velho Criolo de sempre. Rapidez nos versos, sonoridade versátil e o estilo que o consagrou desde Nó na Orelha, de 2011.
“Me Corte na Boca do Céu a Morte Não Perde Perdão” já pega o ouvinte pela linda melodia e letra a lá Chico, mas então somos surpreendidos por outro eterno gênio, Milton Nascimento. Sim, ele. Aquela voz inconfundível entra pra dizer que “se vestiu de solidão, que vai pro meio da rua porque carnaval é multidão”. Emocionante, maravilhoso, faltam palavras para essa música.
Morte da irmã
A sensibilidade de Sobre Viver também tem a ver com morte por Covid-19 de Cleane Gomes, irmã de Criolo. A faixa “Pequenina” fala sobre isso com uma forte carga de responsabilizar quem merece ser culpado com versos como “Cuidar da minha irmã/ Agora só em prece/ Ela não está mais aqui/ É que esse mundo não te merece…Eu vou ganhar dinheiro, mãe / Porque é só assim / Que eles respeitam a gente”. Ele canta em versos com o MC Hariel, com refrão de Liniker e falas de sua mãe, dona Vilani.
Com produção de Tropkillaz, Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, bem como do próprio Criolo, Sobre Viver finaliza com “Aprendendo a Sobreviver”. Nela, vemos um homem ainda desiludido e buscando forças para lidar com a dor e raiva de viver num país pós-pandêmico totalmente governado pelo ódio e intolerância. Não é pouco para se identificar, basta saber amar.
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