CRÍTICA | ‘Logan’ volta como você nunca viu, mas como sempre quis ver

Italo Goulart

Depois de bastante tempo, finalmente pudemos conferir o novo filme do Wolverine. E, depois de uma vida toda de espera, finalmente vamos ter a oportunidade de ver um Carcaju de verdade na telona. Após o sucesso de “Deadpool” (2016), o primeiro filme da FOX baseado em história em quadrinhos feito para o público maior de 18 anos. A empresa decidiu também arriscar em um filme do mutante, o anti-herói mais famoso e mais amado dos quadrinhos, agora com uma pegada mais violenta e mais dramática.

Mesmo com sua aparência nada parecida com a do baixinho, troncudo e peludo do Wolverine dos gibis, Hugh Jackman conseguiu conquistar e agora será finalmente eternizado como o Logan que nós aprendemos a gostar. Em sua despedida encarnando o personagem, o ator nos entrega um Carcaju que há muito queríamos ver. Para os fãs dos quadrinhos, a esperança de ver um Logan que chegasse próximo aos vistos nos gibis estava quase acabando, mas o esforço de Jackman em se tornar mais marcante e definitivo no papel que ele atua há mais de 16 anos e em nove filmes da franquia foi gratificante não só para ele, mas também para nós espectadores que temos o prazer de ver um filme de qualidade, não só por sua cenas de ação como, mas inclusive por sua dramaticidade.

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Apesar de muito se falar que o filme é “baseado” na HQ “Old Man Logan” (2008), de Mark Millar e Steve McNiven, pouco se aproveitou dessa história, a não ser o estado físico e debilitado de Logan e a falta, sumiço ou extermínio dos mutantes e/ou heróis. Nessa última parte da trilogia solo, temos um protagonista bem velho e débil. Seus poderes e vigor não são mais como antigamente e, agora, mais do que nunca, ele não só está mais próximo da morte, mas como anseia a cada momento por isso. Professor Xavier (Patrick Stewart) está em piores condições. Além da sua incapacidade de locomoção, ele agora sofre de uma doença degenerativa que o deixa em estado de relativa alucinação, esquecimentos e convulsões, em determinados momentos, causando caos ao seu redor. As coisas começam a mudar quando Professor X começa a se comunicar com uma nova mutante, que traz em si a esperança de um ressurgimento da raça Homo Superior (mutantes) extinta há anos e sem um novo nascimento desde então. Laura/X-23 (Dafne Keen) é uma mutante criada superficialmente para ser um soldado do governo, mas as coisas saem erradas quando os experimentos começam a se rebelar e conseguem fugir. Os Carniceiros, sob o comando de Donald Price (Boyd Holbrook), então, iniciam sua busca ao único experimento que eles conseguiram rastrear e tudo indica que Logan é o caminho para a garota. E, para ajudar (ou atrapalhar), ele também conta com Caliban (Stephen Merchant), que tem o poder de rastrear mutantes e que o ajuda a cuidar do Professor X.

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Wolverine foi criado para ser um vilão do Hulk em “The Incredible Hulk #180”, de 1974, e, como nesse início, em “Old Man Logan”, o personagem também enfrenta o Gigante Esmeralda, coisa que todos gostaríamos de ver, mas que não vai ser possível dessa vez. Como já tratado em diversas histórias, o Carcaju sempre fica com o papel mais difícil de decidir as coisas, como em “Wolverine Alone! – The Uncanny X-Men 132-133”, 1980, onde toda a equipe dos X-Men foi presa pelo Clube do Inferno e ele foi o único que ficou livre para poder resgata-los. Em “Days of Future Past – The Uncanny X-Men 141-142”, 1981, em que ele também é peça chave para toda a trama desenrolar. Enfim, o baixinho sempre foi o cara que resolvia tudo e, dessa vez, em Logan não foi diferente.

Em um futuro não muito distante (2029, para ser mais exato), os mutantes estão extintos, o que durante o filme se leva a crer que foi por meio do governo. Laura/X-23 aparece como uma espécie de Hope Summers, que, depois dos eventos da Dinastia M e durante os eventos do “Complexo de Messias”, vem para ser a salvação da raça mutante. Ela foi a primeira nascida depois que a Feiticeira Escarlate inibiu o gene mutante em mais de 90% dos mutantes vivos. Para o Professor Xavier, Laura também significa esperança e possibilidade de recomeço, por isso a importância de garantir a sobrevivência dela e levá-la ao refúgio, até então fictício, chamado “Éden”. Logan não gosta muito da ideia, pois vai atrapalhar todos seus planos de fuga e segurança junto com o Professor X, mas, com o desenrolar dos acontecimentos, ele acaba decidindo cumprir a missão.

Criada por Craig Kyle e Christopher Yost, X-23 foi feita só para integrar o desenho “X-Men: Evolution”, que muitos assistiram no inicio das tardes na SBT, assim como o personagem Spyke, que também foi criado com o mesmo intuito. Posteriormente, X-23 foi introduzida nos quadrinhos em “NYX #3” (2004). Feita no mesmo projeto Arma X em que o Wolverine foi criado, Laura Kinney ou Laura Howlett é um clone do Logan, com as mesmas habilidades e poderes. Forçosamente, tanto nos gibis quanto no filme, eles tratam “Wolve” como o pai de Laura.

Nessa despedida, vimos Jackman e Stewart em suas melhores atuações em toda a franquia. A dupla conseguiu criar um clima familiar, paternal, que dá toda a direção à trama à adição da personagem da pequena – mas talentosa – Dafne Keen, perpetuando esse clima paternal na segunda metade do filme.

Apesar de todo o alvoroço pelo filme ser feito para maiores de 18 anos, não fizeram de Logan um obra de violência gratuita, recheada de gore e com trama rasa. Muito pelo contrário. Podemos ver no roteiro de Michael Green e David James Kelly um capricho em manter equilibrada a carga dramática com as cenas de ação, mantendo assim uma fluidez e interesse contínuo em tudo o que está se passando. Eles utilizaram bem as referências tiradas dos quadrinhos sem precisar inundar o filme de “fan service” desnecessário e fora de contexto. A película, mais do que a violência do personagem, retrata bem o psicológico problemático e os traumas passados do Carcaju, que sempre esteve envolto em perdas e tragédias. Além disso, há um resgate nessa parte do personagem que enriquece mais ainda a história.

James Mangold parece ter aprendido bem com o fraquíssimo “Wolverine: Imortal” (2013) e se conteve mais nas cenas de ação, que funcionam muito bem sem recorrer a algo muito orquestrado. Mesmo sendo o último filme com Jackman, também se segurou em não querer fazer desse episódio algo épico demais e, talvez, esse tenha sido seu maior acerto. Logan não é um filme que foi feito pra reverenciar o personagem ou o ator. Ele é comedido, certeiro e feito para os fãs.

Logan é uma obra única, não ligando muito para os reveses dos filmes da franquia dos X-Men ou mesmo de um seguimento para os dois últimos filmes solo do Wolverine. O longa tem uma história que funciona muito bem sozinha e que não se prende a nada do passado. Se puder, vá com isso na cabeça, pois você vai se surpreender com o que fizeram e garanto que sairá satisfeito (a)!

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FICHA TÉCNICA:

Direção: James Mangold
Roteiro: James Mangold, Scott Frank, Michael Green
Elenco: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen
Distribuição: Fox
Data de estreia: qui, 02/03/17
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2017
Classificação: 18 anos

Italo Goulart

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