CRÍTICA #2 | ‘Annabelle 2: A Criação do Mal’ conta a história da famosa boneca de forma perturbadora
Claudio Dorigatti
Com o segundo filme, Annabelle 2: A Criação do Mal, a boneca amaldiçoada se conecta claramente à franquia “Invocação do Mal” na forma de spin-off. Essa continuação, que na verdade se passa antes dos fatos do primeiro filme “Annabelle”, tem como objetivo apresentar como e porque uma simples boneca artesanal é possuída por um demônio. E cumpre à risca a proposta do título de forma objetiva e coerente, sem explicações mirabolantes, mas baseado em “crenças mais comuns”, o que particularmente acredito causar mais calafrios.
CRÍTICA | ‘Annabelle 2: A Criação do Mal’ é uma mistura de suspense e terror em grande estilo
O filme á ambientado no final da década de 60 em uma cidade do interior e conta a história de um artesão de bonecas, sua esposa e sua filha. Anos após o casal perder sua pequena filha de forma trágica, eles acolhem um grupo de meninas e uma freira de um orfanato que fechou, e essas novas moradoras são fundamentais para a história vir à tona. O diretor David F. Sandberg cria nesse cenário com o casal Mullins, a filha ausente, a freira, a casa e as jovens órfãs um ambiente obscuro sendo explorado pela inocência. De início parece um apelo emocional, mas as meninas são essenciais na trama.
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A atuação dos adultos é boa e convincente, mas destaque mesmo merece o grupo de jovens atrizes, em todas as cenas essas meninas se apresentam muito bem, elas interpretam muito bem cada personagem, que tem suas personalidades distintas e marcantes. O destaque é para Talitha Bateman (Janice), sua personagem, que além de órfã, sofre de poliomielite e tem um olhar mais profundo e sofrido sobre as circunstâncias e a vida.
O filme como um todo traz um ambiente sombrio, mesmo no início e no meio sob a luz do sol. Uma das primeiras cenas, na saída da igreja, já chama atenção pelo movimento de câmeras e logo em seguida o trágico acidente. Um efeito visual muito bem realizado e colocado é sobre a propriedade dos Mullins, sobretudo a casa que após a morte da filha, sofre uma degradação enorme em segundos na mesma sequência da câmera se aproximando. O diretor conseguiu mostrar em uma cena tão curta o desaparecimento da felicidade do casal pela aparência da casa ao longo dos anos, ela cumpre bem o papel do ambiente obscuro, dada a complexidade do imóvel e seu aspecto cuidadosamente velho e desgastado. Logo em seguida, nos é apresentado o grupo de meninas, a caminho da casa dos Mullins a bordo de um ônibus que por si só já é um tanto estranho.
As locações, veículos, imóveis e figurinos retratam de forma muito convincente a época dos fatos, o degradado, o esquecido e o triste. Fica visível e evidente o impecável trabalho da equipe na produção. Annabelle 2: A Criação do Mal traz também ganchos que se conectam com outros filmes da franquia “Invocação do Mal”, tanto no meio do desenrolar da história com a freira Charlotte (Stephanie Sigman), quanto no epílogo (cenas pós créditos). Os produtores revelam que de fato estão criando um universo expandido da franquia, algo que até o momento só vimos de forma bem feita nos filmes da Marvel e DC.
Particularmente, não sou fã do gênero, mas acredito que um universo de filmes com a mistura de terror, horror e suspense tem grandes chances para uma boa história toda conectada e que essa conexão sendo bem feita, pode contribuir muito fortalecer o medo. Obviamente Annabelle 2: A Criação do Mal acaba por tirar alguns risos da plateia em cenas que deveriam assustar. Em geral isso acontece porque as pessoas estão em uma sala de exibição lotada, sozinhos em casa inevitavelmente viria o susto primeiro antes dos risos. Quase todas as cenas assustadoras foram bem pensadas, as mais discretas em que prevalece o suspense são as melhores, as de aparições mais sutis são perturbadoras, contudo talvez a cena mais esperada se remeta demais aos filmes de terror do início dos anos 80, pode até ser uma homenagem, mas se fosse de forma um pouco mais sutil, talvez fosse mais assustadora. Contudo quem é realmente fã do gênero gostou dessa cena. Além de todo ambiente sombrio cuidadosamente criado, as luzes, os movimentos e ângulos de câmera nos obrigam a ficar atentos às sombras e ao segundo plano, mantendo a tensão inclusive em diversas cenas menores e inocentes.
Outro ponto forte do roteiro e direção foi a percepção que a história de um “brinquedo amaldiçoado” foi imensamente desgastada por filmes dos anos 70 e 90 que mais nos faziam rir do que pregar sustos. Ao explicar os fatos a cerca da boneca e de Annabelle, a trama acaba se afastando do quase besteirol “brinquedo assassino” e similares.
Com personagens marcantes, boa atuações, ambiente elaborado e excelentes tomadas, o filme conta claramente a criação de Annabelle de forma perturbadora e não divertida.
::: TRAILER
::: FOTOS
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Annabelle: Creation
Direção: David F. Sandberg
Roteiro: Gary Dauberman
Elenco: Anthony LaPaglia, Samara Lee, Miranda Otto
Distribuição: Warner
Data de estreia: qui, 17/08/17
País: Estados Unidos
Gênero: terror
Ano de produção: 2016
Duração: 100 minutos
Classificação: 14 anos