CRÍTICA #2 | ‘Blade Runner 2049’ cativa, mas deixa a desejar

Larissa Bello

Trinta e cinco anos se passaram desde a estreia de “Blade Runner – O Caçador de Androides” (Blade Runner, 1982), e trinta anos se passaram dentro da narrativa fictícia em que a história desse segundo filme acontece. Ambas são baseadas no livro de Phillip K. Dick, “Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?” (Do Androids Dream of Electric Sheep?), publicado em 1968.

O primeiro filme foi dirigido por Ridley Scott, que até então havia tido um grande sucesso com uma produção anterior, “Alien, O Oitavo Passageiro” (Alien, 1979). Já a continuação da história ambientada no futurístico ano de 2019, ficou a cargo do diretor canadense Dennis Villeneuve. Scott atuou como produtor executivo e o roteirista Hampton Fancher foi novamente convocado para contribuir na elaboração de como poderia ser criado o prosseguimento da história que agora está ambientada no ano de 2049.

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De uma maneira geral, continuações são sempre arriscadas, ainda mais quando são filmes que se tornaram icônicos em uma determinada época. Os anos 80 foram marcados por dois contrapontos: Um lado colorido e cafona e outro dark e gótico. Blade Runner se enquadra no segundo. Outras imagens e sons nos vem à cabeça: A constante chuva ácida, a belíssima fotografia, a majestosa trilha sonora de Vangelis, os origamis do personagem de Edward James Olmos, e a emblemática cena final entre Harrison Ford e Rutger Hauer. Dar conta de tamanha responsabilidade para se produzir uma continuação de um filme tão importante, requer muita coragem e ambição visionária. A escolha por Villeneuve não poderia ser mais acertada, que aceitou sabendo que este seria o maior desafio da sua carreira.

Visualmente, o filme é deslumbrante! Os elementos de referência ao primeiro filme não foram ignorados. E é inegável o quanto o argumento do roteiro é intrigante. Logo na abertura os letreiros informam que, devido a diversos problemas causados pelos replicantes da série Nexus 8, criada pela companhia Tyrell, um novo modelo foi criado para efetuar as tarefas atribuídas de maneira mais assertiva e obediente. Um desses modelos novos é o policial do departamento de polícia de Los Angeles, que atende pela sigla KD6-3.7, interpretado pelo ator Ryan Gosling. Ele sabe que é um replicante e desempenha muito bem o seu trabalho de caçar e “aposentar” os modelos antigos. Na sua caçada, se depara com o replicante Sapper Morton, vivido pelo gigante Dave Bautista (o “Drax” de Guardiões da Galáxia), que o deixa curioso a partir da descoberta de uma caixa enterrada em sua propriedade.

Até o momento onde a narrativa propõe a interessantíssima possibilidade de haver uma criança nascida de uma replicante, o filme se mantém extremamente estimulante. Porém, da metade para o final, há uma sucessão de cenas desnecessárias e enfadonhas. Sem falar no fato de subestimar a inteligência do espectador com excessivas explicações. Para citar algumas: O fato de K considerar que seja ele essa criança, através de conversas com Joi (Ana de Armas); a briga do encontro entre com o ex-policial Deckard (Harrison Ford), seguido de um diálogo piegas e com piadinhas fora do tom, para ilustrar que se Deckard é seu pai, então Rachel (Sean Young) é sua mãe… (dãããã!); e ainda a aparição dessa personagem na forma de uma cópia para desestabilizá-lo emocionalmente.

Mesmo que tais escolhas tenham sido inseridas no roteiro pensando no público que não assistiu o primeiro filme, elas poderiam ser apresentadas de uma forma mais sábia e menos maçante. Afinal, a regra básica do cinema: menos é mais.

Fora isso, o filme apresenta bons momentos, principalmente no que diz respeito ao texto falado nas cenas do personagem Niander Wallace, interpretado de maneira extraordinária por Jared Leto. Wallace é o criador dos novos modelos de replicantes e se considera um Deus que auto reverencia sua própria criação. A ironia da sua inteligência está na limitação de seus olhos cegos, que acabam ganhando um forte teor simbólico em relação a suas emoções.

Novamente digo que continuações são sempre arriscadas e poucas conseguem superar o primeiro filme. A minha recomendação para aqueles que não viram o Blade Runner de 1982, procurem assisti-lo antes de se jogarem direto no ano de 2049. Pois, sempre é melhor vislumbrar um determinado futuro quando conhecemos seu passado.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Harrison Ford, Ryan Gosling, Carla Juri, Jared Leto
Distribuição: Sony
Data de estreia: qui, 05/10/17
País: Estados Unidos
Gênero: ficção científica
Ano de produção: 2016
Duração: 163 minutos
Classificação: 14 anos

Larissa Bello

Graduada em Rádio & TV. Pós-graduada em Leitura e Produção Textual. Capixaba, residiu por 8 anos no Rio de Janeiro, onde atuou em diversas áreas do audiovisual. Atualmente reside em Fortaleza/CE, onde é afiliada da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema) e é autora do blog Cine em Foco (https://cineemfoco.blogspot.com/).
NAN