CRÍTICA #2 | ‘Dunkirk’ é o trabalho mais experimental da carreira de Christopher Nolan

Bruno M. Castro

Poucos filmes podem ostentar do título de serem fiéis aos fatos que lhes inspiraram. Sobre isto, a mais pura verdade é a de que o roteirista, em seu delicado dever de criar uma história eloquente e, principalmente, hipnótica aos espectadores, acaba tendo de modificar a realidade extrínseca ao fato a ser representado em prol da arte da dramatização, que, quando bem-sucedida em sua composição, enche os olhos do público. Porém, neste processo, a perda de veracidade se torna inevitável. Entretenimento, quase criminosamente, obstrui sua origem, fatídica, corrompendo não a arte, pois esta se adapta a qualquer forma de expressão, mas, sim, o espetáculo que é a visão mais precisa possível sobre o conflito que um cenário de guerra exprime.

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Christopher Nolan, pela terceira vez atuando como diretor e roteirista em um mesmo longa, nos apresenta, talvez, o trabalho mais experimental de sua carreira. Em Dunkirk, é nítido o exagero em certas composições tanto visuais, como sonoras – estas últimas sendo um pouco inconvenientes. Ambas caem em repetição sem motivo algum aparente. Ideias marcantes, como o som do relógio de bolso de Nolan, presente em toda a obra, acabam submersas ao exagero, quando, pontualmente, teriam se transformado em brado icônico se utilizadas com certa cautela.

O mesmo não pode-se dizer sobre a forma com que personagens são inseridos à narrativa. Temos em Dunkirk a definição de um pseudo-protagonismo já na primeira cena, que abre caminho a pequenos eventos, envoltos por uma altíssima carga de tensão, mas que acaba se dissolvendo em três núcleos – núcleos que exigem impessoalidade e simplicidade para que não percam sua fidelidade factual durante a representação do grandioso ocorrido na cidade portuária francesa.

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Sendo assim, Dunkirk não é para aqueles que prezam por personagens profundos, bem estudados e cuidadosamente lapidados, o que também não quer dizer que estes personagens aqui apresentados não sejam verossímeis. Muito pelo contrário! São fidedignos justamente por não serem profundos, por nascerem em solo que, abertamente, procura trabalhar mais com certezas do que incertezas, tangenciando o conflito de forma crua, mas genuína, que acaba, consequentemente, anulando qualquer possibilidade de identidade plena entre espectador e personagens, simplesmente pela grande maioria não ter vivido tal experiência. Ainda assim, muito é traduzido ao espectador, como o som produzido pelo campo de batalha, ampliado drasticamente, cumprindo o seu papel de repassar a agonia e o desconforto daqueles soldados, em grande maioria, de certa forma, tão novos e inexperientes em matéria de guerra quanto o público-alvo.

Dunkirkintrinsecamente, lida com o INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA. Em resumo, é sobre isto que Nolan quis tratar neste filme. Do primeiro ato aos créditos, a luta pela manutenção da vida é latente, vívida e magistralmente representada. Não há nenhuma ação concretizada pelos personagens que não envolva cautela e desejo de subsistência, o que é, finalisticamente, o que realmente importa em uma guerra – principalmente à batalha de Dunquerque. Nolan quer nos dizer que, mais do que a vitória, grande prêmio é o fato de ter-se passado por inúmeras dificuldades e permanecido vivo.

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FICHA TÉCNICA:

Título original: Dunkirk
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Fionn Whitehead, Jack Lowden, Tom Hardy
Distribuição: Warner
Data de estreia: qui, 27/07/17
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2016
Classificação: 14 anos

Bruno M. Castro

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