CRÍTICA #2 | ‘O Lar das Crianças Peculiares’ é uma das obras mais divertidas de Tim Burton
Italo Goulart
Baseado no best-seller “O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares”, de Ransom Riggs, lançado em 2011, o livro foi um sucesso mundial chegando ao topo dos mais vendidos do jornal New York Times e entrando na lista dos 100 mais importantes da literatura jovem.
CRÍTICA #1 | ‘O Lar das Crianças Peculiares’ é o filme mais peculiar do ano
Pelo menos em seus últimos cinco trabalhos como diretor, Tim Burton parecia ter perdido um pouco da sua capacidade criativa e de inovação no universo gótico, que é sua maior característica, com exceção de “Grandes Olhos” (2014), que, apesar de ter fugido um pouco do que ele sempre tentou propor, foi um bom filme. Baseado nisso, o seu novo longa O Lar das Crianças Peculiares não me proporcionou grandes expectativas, apesar de ter atiçado minha curiosidade pela temática.
O que achei que seria só mais uma história genérica e clichê da já gasta Jornada do Herói e uma mistura de X-Men com Percy Jackson, se mostrou algo muito mais grandioso.
Na trama, acompanhamos Jake (Asa Butterfield), um adolescente que cresceu ouvindo as histórias fantásticas de seu avô Abe (Terence Stamp). Jake é um jovem mais comum do que até ele gostaria de ser, não tem amigos, os pais não lhe dão muita atenção e seu maior laço afetivo é justamente com seu avô.
Já encaminhado para a fase adulta, Jake perdeu todo o encanto pelas histórias de seu avô e vive uma vida simples, num mundo onde ele não se sente encaixado, mas as coisas mudam quando misteriosamente seu avô é atacado e morre prematuramente e ele vai descobrir que todas as histórias que Abe contava eram verdades. Nas histórias, ele ouvia falar de um orfanato comandado por uma misteriosa mulher chamada Srta. Peregrine (Eva Green), que cuidava de crianças com poderes extraordinários.
O Lar das Crianças Peculiares pode parecer apressado em não tratar de forma mais claras certos quesitos, como o relacionamento de Jake com Abe – que é o pilar principal da trama no livro -, mas, mesmo assim, consegue mostrar o forte laço que existe entre os dois, ainda mais pelos pais ausentes e a falta de amizades. Trata de problemas atuais de sociabilização na juventude atual e outros problemas que são encaminhados para uma psicóloga resolver, artifício que os pais usam muito para “se livrar” do filho.
O longa é permeado de muitos mistérios e curiosidades, como fato do orfanato existir numa fenda temporal criada pela Srta. Peregrine, onde eles tem que viver eternamente o mesmo dia . Isso traz a tona a possibilidade de viagem no tempo, pois dentro da fenda as crianças vivem em 1943 e fora dela em 2016. Essa fenda temporal é feita para proteger os Peculiares dos ataques de Holows, Peculiares que buscam a vida eterna e que precisam se alimentar de olhos de outros de sua espécie para se manter vivos e o líder deles é o vilão Barron, personagem caricato interpretado por Samuel L. Jackson.
Cada criança tem sua peculiaridade (poder), fator que foi muito bem explorado a ponto de não elevar nenhum personagem ao posto de super herói, eles só querem viver tranquilamente e anonimamente já que correm constante perigo. Apesar de já termos visto poderes do tipo antes em outros filmes, aqui é trabalhado de forma funcional e cada um desempenha seu papel no orfanato, colocando em prática sua peculiaridade para o bem.
Como já dito, a direção ficou por conta de Tim Burton, que soube colocar bem sua marca registrada durante todo o longa. Toda sua excentricidade por ser vista nos personagens, nas locações em que foi gravado o filme e é de longe uma de suas obras recentes mais divertidas e gostosas de assistir.
O roteiro assinado por Jane Goldman (Kingsman: Serviço Secreto) tem algumas falhas de continuidade e cortou muita da obra original, mas nada que prejudique o filme em si e nem o decorrer da história.
Collen Awtood foi responsável pelo figurino, já foi dez vezes indicada ao Oscar inclusive em filmes que fez com o Tim Burton como “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999), “Sweeny Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (2007) e “Alice no País das Maravilhas” (2010). Ela consegue captar bem não só o traje para cada época como dar um ar mais exótico aos personagens dos filmes de Burton.
Um dos grandes acertos de O Lar das Crianças Peculiares é a excelente trilha sonora composta por Mike Higham (“Sombras da Noite”, de 2012) e Matthew Margeson (“Voando Alto”, 2015), que consegue dar mais profundidade às cenas e que é muito bom utilizada durante todo o filme.
No elenco, temos o protagonista Asa Butterfield (“A Invenção de Hugo Cabret”, 2011), que com seu jeito desengonçado de adolescente se encaixa bem no papel que foi colocado, mas que peca em não conseguir aprofundar o personagem não dando a carga dramática necessária em algumas situações. Eva Green (“300 – A Ascensão do Império”, 2014) dá vida à misteriosa personagem Srta. Peregrine. O personagem não foi muito explorado, mas Eva Green consegue mostrar seu talento diversificado. Terence Stamp (“Grandes Olhos”, 2014) interpreta o avô de Jake, Abe. Com mais de 60 anos de carreira, Stamp mostra toda sua experiência e mesmo que apareça pouco, faz um papel excelente e um personagem cativante. Samuel L. Jackson é o vilão canastrão e cartunesco Barron, talvez um dos personagens mais fracos do filme, que perde o tempo em tela fazendo piadas de efeito nada engraçadas. Mas o grande destaque do filme é Ella Purnell, uma menina do orfanato que é mais leve que o ar e que consegue controlar todo o ar em sua volta. Faz o par romântico de Asa Butterfiled, mostra que tem talento e é o contraponto do personagem inseguro Jake.
No geral, O Lar das Crianças Peculiares consegue entregar aquilo que prometeu, mesmo deixando um gostinho de que poderia ser mais do que foi e que a história poderia ter sido melhor explorada. É um filme de fantasia que traz de volta o sentimento de se maravilhar com um novo mundo fantástico assim como fez Harry Potter e Cronicas de Nárnia.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
3D
Título original: Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children
Direção: Tim Burton
Elenco: Eva Green, Asa Butterfield
Distribuição: Fox
País: Estados Unidos
Gênero: aventura
Ano de produção: 2015
Duração: 127 minutos
Classificação: 12 anos