CRÍTICA #3 | ‘La La Land: Cantando Estações’ encanta e deixa uma bela mensagem
Rafael Melo
Engraçado perceber os movimentos que o corpo faz involuntariamente, reagindo à música do mundo. Cada barulho, cada ruído, a voz das pessoas, o barulho do motor dos carros, tudo compõe uma imensa sinfonia, basta prestar atenção para ouví-la. Foi assim que saí da sessão de pré-estréia de La La Land: Cantando Estações, ouvindo a canção do mundo e tamborilando os dedos por aí sem perceber. Damien Chazelle tem o talento inato de transformar a música em um protagonista de seus filmes – vide “Whiplash”. Acrescente à fórmula o carisma de Emma Stone e o charme de Ryan Gosling, e temos um filme que, desculpe o clichê, encanta.
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A história de Sebastian e Mia retrata a realidade de tantos de nós: a perseguição dos sonhos, os caminhos que escolhemos para tal, as convergências e as perdas, os encontros e os desencontros, tudo costurado em um tecido impecável de doçura, sentimento e Jazz, muito Jazz.
Ryan Gosling dá vida a um pianista convicto e predestinado, que tem pra si a missão de não deixar o Jazz morrer no mundo moderno, onde as pessoas pouco notam a música deixando-se levar apenas pelas batidas metálicas dos beats atuais. Emma Stone imprime em sua Mia a irreverência e a ternura de uma garota que vê em seus sonhos de criança sua vocação, conciliando um emprego desinteressante com testes e mais testes de elenco em busca de sua carreira como atriz.
No primeiro tomo do filme, podemos notar a atmosfera em que estamos imersos, em virtude da competição natural imposta pelo mundo de muitos sonhadores e poucas oportunidades. A sensação de familiaridade é impressionante, pois, desde pequenos, somos condicionados a buscar o êxito, nos submetendo muitas vezes a testadores vazios, que procuram formas e moldes prontos, sem qualquer identidade. Isso fica evidente na cena em que Mia cruza por diversas outras “Mias” na saída de um de seus testes. Todas garotas ruivas, de biotipo semelhante, uma verdadeira caixa de peças, sem qualquer polegada de diferença. Quando Mia e Sebastian se conhecem, e aos poucos passam a se enxergar, ambos começam a criar meios de tornar realidade os seus sonhos.
Eis então que, numa manobra inteligente, Chazelle faz o mundo sensível e colorido do amor entrar em atrito com o cinzento brilho fosco da moeda. Sebastian se vê em posição de nada poder oferecer à Mia quanto a segurança financeira e um futuro, e seu caminho passa a destoar daquilo em que acreditava ao ir de encontro com aquilo que julgava ser o melhor para ambos.
Quantos de nós nunca pensou em poder oferecer o melhor à pessoa amada, abrindo mão muitas vezes dos próprios sonhos acreditando ser este um preço justo, sem saber que o amor se faz pelo que somos e acreditamos e não pelo quanto podemos pagar por ele.
A principal mensagem que La La Land: Cantando Estações nos deixa é justamente essa, do preço que pagamos pelo distanciamento de nossa essência, restando-nos apenas por fim, imaginar como tudo teria sido diferente.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
Título original: La La Land
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle
Elenco: Emma Stone, Ryan Gosling
Distribuição: Paris
Data de estreia: qui, 19/01/17
País: Estados Unidos
Gênero: romance
Ano de produção: 2016
Classificação: livre