CRÍTICA | Novo ‘A Bela e A Fera’ mantém a magia da animação original

Bruno Giacobbo

Inicialmente, pode parecer falta de criatividade, mas há uma lógica por trás desta tendência da Disney em transformar suas clássicas animações de princesas em live action: conquistar um novo público repleto de fãs dispostos a consumir uma série de produtos. A primeira refilmagem, “Cinderela”, em 2015, foi de um desenho do ano de 1950. Um filme antigo que a atual geração de cinéfilos só teve a oportunidade de assistir na televisão, logo, sem desfrutar da experiência da tela grande. Apesar de ter dividido a crítica, a bilheteria lucrativa estimulou o estúdio a continuar trilhando este caminho. E foi aí que eles verdadeiramente ousaram. A Bela e A Fera (Beauty and the Beast) é, relativamente, bem mais recente, de 1991. Além disto, fez bastante sucesso na época. Venceu o Globo de Ouro de comédia ou musical; foi indicado ao Oscar de melhor filme e levou os prêmios de trilha sonora e canção original. Um belíssimo feito. Assim, refilmar uma obra que ainda está no imaginário de muitas pessoas seria arriscado. Contudo, valeu a pena, pois o resultado é lindíssimo e seus produtores, provavelmente, serão recompensados com os tais novos fãs e uma bilheteira volumosa.

Não há muito o que falar da sinopse. Ela é exatamente a mesma do longa original. Bela (Emma Watson) vive com o seu pai, Maurice (Kevin Kline), na pequena vila de Villeneuve, no interior da França. Apesar de ser cortejada constantemente por Gaston (Luke Evans), um caçador que é o melhor partido do lugar, ela não quer saber dele. Estimulada pelos livros que pega na igreja, sonha com uma vida melhor, longe dali, onde talvez encontre um homem que seja a sua cara. Um dia, porém, seu caminho cruzará com o de um príncipe (Dan Stevens) que, por culpa do seu egoísmo latente, foi amaldiçoado, por uma feiticeira, a viver como uma fera até que alguma mulher se apaixone por ele. Além desta não ser uma missão das mais fáceis, devido à sua aparência bestial, o nobre terá que se apressar, já que está paixão só será válida antes que a última pétala de uma rosa encantada caia.

Como toda adaptação, seja ela de um livro ou de um filme anterior, como ocorre aqui, existem diferenças pontuais e entender estas é fundamental para que os fãs da obra pregressa não se decepcionem ou, como andei lendo por aí, tenham sua infância estragada. Apesar de conservar a mesma trama e de ser também um musical, o longa, dirigido por Bill Condon com roteiro de Evan Spiliotopoulos e Stephen Chbosky, incluiu cenas que não existiam anteriormente. Uma destas, por exemplo, mostra o que aconteceu com a mãe de Bela. E ela não é a única a ter fatos do seu passado revelados. A Fera também tem. Passagens como estas, além de não mexerem nada na estrutura clássica da história e de não alterarem o seu desfecho irremediavelmente feliz e emocionante, conferem um aprofundamento maior aos protagonistas, algo que, em um filme live action, não é só desejável como é recomendável no intuito de atrair fãs adultos.

E a magia é a mesma? Esta é uma pergunta que deve estar ressoando na cabeça de muita gente doida para se reapaixonar por este conto de fadas. E a resposta é sim. Um grande SIM. Salvo algum engano de minha parte, com o acréscimo de apenas uma única música, a trilha sonora é igual a original e vai fazer o público deixar as salas de cinema querendo dançar e rodopiar pelas escadas do shopping. Aconteceu comigo e a minha namorada. Os outros críticos poderão atestar que estamos perfeitamente sãos, pois eles também foram acometidos por este sentimento. E, aqui, em uma vantagem inegável se compararmos o filme com a animação, os acordes são reverberados por uma fotografia majestosa, uma direção de arte caprichada, belos figurinos e interpretações vocais competentes de todos os seus atores.

Em uma das muitas fofocas de bastidores deste início de 2017, foi dito que Emma Watson estaria enchendo a paciência do seu empresário por não ter ficado com o papel de Mia, a personagem principal de “La La Land: Cantando Estações” (para quem não sabe, ela era a primeira escolha do diretor Damien Chazelle). A chateação é justa, já que, hoje, poderia ser a dona de um reluzente Oscar. No entanto, ainda bem jovem, precisa olhar para frente e ser feliz. Seu desempenho como Bela é encantador. Ela não só ficou a cara da mocinha como mostrou boa desenvoltura cantando. Claro, a atriz não tem o dom para seguir uma carreira de cantora, mas não é isto que os musicais modernos pedem. Uma boa protagonista tem que ter afinação, atuar bem e ser carismática. Watson é tudo isto e um pouco mais. Falando em atores, não dá para deixar de destacar Ewan McGregor, Ian McKellen e Emma Thompson. Eles vivem o castiçal Lumiére, o relógio Cogsworth e o bule de chá Madame Samovar. Todos nostalgicamente divertidos.

Em tempos de discussões acaloradas onde há uma demanda cada vez maior por papéis femininos fortes e por personagens que reflitam a inclusão de grupos que, normalmente, possuem pouca representação nas grandes produções, A Bela e A Fera contempla estes anseios com sucesso. Temos aqui uma princesa diferente. Distintamente de seus pares, ela lê, não tem um comportamento que possa ser classificado como fútil e casar não é a sua prioridade máxima. E se não bastasse tudo isto, Bela herdou a engenhosidade do pai.  Já LeFou, o atrapalhado ajudante de Gaston, que eu ainda não havia citado, em uma interpretação nada caricata de Josh Gad, é homossexual. Antes que alguém reclame que ele é um dos vilões, calma, vejam o filme primeiro e discutam depois. Até porque, garanto que, após deixarem a sessão, vocês terão coisas muito melhores para discutir.

Desliguem os celulares e excelente diversão.

CONFIRA TAMBÉM A CRÍTICA EM VÍDEO, PRODUZIDA POR EVERTON DUARTE:

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FICHA TÉCNICA:
Título original: Beauty and the Beast
Direção: Bill Condon
Elenco: Emma Watson, Luke Evans, Dan Stevens
3D
Distribuição: Disney
Data de estreia: qui, 16/03/17
País: Estados Unidos
Gênero: romance
Ano de produção: 2015
Classificação: 10 anos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN